sexta-feira, fevereiro 29, 2008

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Os portugueses e a corrupção

A corrupção e o tráfico de influências incomodam os portugueses? Só aparentemente. Na prática, sentem-se incomodados quando elas os não beneficiam. Provas? Basta ver como os adeptos do FCP, mesmo os aparentemente mais críticos da sociedade portuguesa, se incomodam com a simples perspectiva de verem ser deduzida acusação contra o seu presidente. Como confirmar? Basta uma pequena consulta a alguma blogosfera nortenha, como o Blasfémias ou o Kontratempos. Garanto que vale a pena.

The Lost Prince (9)

"The Lost Prince" de Stephen Poliakoff (2003). Clip nº 9

No país dos sovietes (4)

I. Nivinskii, 1917
Women, adhere to the cooperation
Publisher: All-Russian Central Union of Consumer Cooperations(Lithography, 71x52.5 cm., inv.nr. BG E5/499)
"A poster issued only one or two months after the Bolshevik takeover. The image is traditional, the typography unsophisticated, but the composition and the deep, contrasting colours lend this poster great charm. "

Ainda os professores e o governo

Porventura revelador do espírito que prolifera no sector da educação foi o protesto de um professor de Vila Real, presente no “Prós & Contras” da passada 2ª feira, pelo facto de não lhe ser concedida dispensa das aulas em virtude de estar presente naquele dia no programa, tendo assim de regressar nessa mesma noite a Vila Real para “dar uma aula” às oito e meia da manhã, como se a sua entidade patronal (a escola e o ministério) o devesse fazer não estando ele em sua representação. Não quero com isto dizer que o dito professor estivesse a ser propositadamente desonesto ou conscientemente a tentar tirar vantagem da situação, muito menos que não achasse tal reivindicação justa no seu julgamento e nos valores pelos quais se rege, mas o problema é exactamente esse: existe uma cultura implementada no sector da educação, um way of doing the things resultado de dezenas de anos de aplicação de um modelo de gestão burocrático e laxista, que tornou dominante uma filosofia de vida (digamos assim) que tende a impregnar tudo e todos, independentemente de personalidades e valores de origem de cada um. Um pouco como se forma nas empresas uma cultura própria, uma filosofia de vida muitas vezes inspirada no pensamento dos seus fundadores e que foi a razão do seu sucesso, mantendo-se inalterável ao longo de anos e de gerações de gestores e trabalhadores (e até mesmo de accionistas).

O problema fundamental é que independentemente da razão que assiste a Maria de Lurdes Rodrigues e que assistia a Correia de Campos, de um modo genérico já reconhecida pela generalidade de comentadores e analistas fora do âmbito restrito da esquerda comunista e bloquista, o mundo não é só feito de justiça e de razão, infelizmente, e a política reformista de ambos os ministérios acabou por colocar o governo na defensiva, qual boxeur encostado no seu canto tentando resistir ao KO e espreitando a oportunidade de contra-atacar enquanto o adversário marca pontos. Se o governo se mantiver nessa defensiva, mesmo que vá ensaiando uns tímidos contra-golpes nas áreas sociais e outras, que, por muito meritórios que sejam – e alguns serão, nada mudam ao combate essencial, dificilmente deixará o seu canto e o adversário lá conseguirá, mais cedo ou mais tarde, alcançar o KO desejado, ou irá marcando os seus pontos até á vitória final. Só tem pois uma alternativa: jogar com inteligência e, aproveitando qualquer momento de fraqueza ou desconcentração adversária, passar rápida e corajosamente ao contra-ataque. Tendo, também, algo mais em atenção: se, como vejo escrito por aí, as reformas não se podem fazer sem os professores, com a maioria destes professores, incapazes de compreenderem que existe mundo para além da viciada cultura que moldou o seu comportamento profissional e filosofia de vida, também por certo se não farão. Pelo menos, por sua livre iniciativa e genuína vontade de cooperação.

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

The Lost Prince (8)

"The Lost Prince" de Stephen Poliakoff (2003). Clip nº 8

História(s) da Música Popular (78)



Little Willie Winfield - "K C Loving", aka "Kansas City" (Jerry Leiber - Mike Stoller) - 1952

Wilbert Harrison - "Kansas City" (Jerry Leiber - Mike Stoller) - 1959

Jerry Leiber & Mike Stoller (I)

Durante muito tempo, e antes de ter esbarrado com os Coasters, se me perguntassem o que significavam para mim Jerry Leiber e Mike Stoller eu diria: sim, são aquela dupla de compositores responsável por alguns dos melhores temas de Elvis Presley ainda “antes de ele nos ter deixado”, isto é, naquele período da RCA entre a saída da Sun Records e a entrada para a tropa, quando decidiu, definitivamente, que a vida dele era outra que não o "rock & roll". E dizia bem, com certeza: Leiber e Stoller são responsáveis por temas como “Treat Me Nice”, Baby I Don’t Care, “Don’t”, o célebre “Jailhouse Rock” e, por interposta Big Mama Thornton, “Hound Dog”. Mas e que mais? Qual a sua história? Pois Leiber e Stoller, a quem é atribuída a frase “nós não escrevemos canções, escrevemos discos”, embora oriundos de Baltimore e Long Island, respectivamente (1933), encontraram-se em 1950 na sunny Califórnia, terra das oportunidades, onde descobriram que, como muitos outros miúdos brancos dos subúrbios pobres das cidades – como o próprio Elvis Presley - tinham partilhado a vida com os negros e também o gosto pela sua música. Bom, e aqui chegamos a uma questão essencial: uma das principais contribuições de Leiber e Stoller para a história do "rock & roll" foi o facto de terem sido dos primeiros brancos a trabalhar na área da música negra – como compositores, produtores e empresários - e isso, bem evidente no início da sua carreira, muito contribuiu para o seu desenvolvimento, para que a música negra saísse do ghetto, e, por acréscimo, para o nascimento e implantação do "rock & roll".

Pois se a primeira composição de Leiber e Stoller foi uma tal “Real Ugly Woman”, para Jimmy Whitherspoon (confesso a minha ignorância: nunca ouvi) e se, depois disso, ainda se seguiu “Hard Times” para Charles Brown (em ambos os casos estamos a falar de cantores de “blues”), à terceira foi de vez e “K C Loving” gravado em 1952 por Little Willie Littlefield, chegaria a # 1 em 1959 pela voz de Wilbert Harrison, depois de ver alterado o seu nome para “Kansas City”. Mais tarde entraria mesmo para a posteridade pela voz de Little Richard e... dos Beatles, pois claro, no álbum Beatles For Sale. Aqui fica.

terça-feira, fevereiro 26, 2008

The Lost Prince (7)

"The Lost Prince" de Stephen Poliakoff (2003). Clip nº 7

Maria de Lurdes Rodrigues no "Prós & Contras"

Ao ter aceite debater as questões da educação, no “Prós & Contras” de ontem, praticamente sozinha frente aos seus oponentes e a uma plateia claramente hostil, num programa de televisão de grande audiência, a ministra Maria de Lurdes Rodrigues deu um grande exemplo de convicção, sentido político e exemplar espírito democrático a todos aqueles que ousam comparar o actual momento à ditadura de Salazar e Caetano. Muito bem.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

The Lost Prince (6)

"The Lost Prince" de Stephen Poliakoff (2003). Clip nº6

A manif. dos profs. por SMS

Logicamente - como diria o treinador Paulo Bento – que depois da demissão de Correia de Campos o principal alvo da contestação popular ao governo passaria a ser a ministra Maria de Lurdes Rodrigues, sob esse ponto de vista o seu elo mais fraco. No entanto, e ao contrário da contestação ao ex-ministro da saúde que parecia partir de bases locais cuja identificação partidária não era, à partida, muito evidente (assim uma espécie de Maria da Fonte conjugando, em unidade contra-natura, os Setembristas” e “Miguelistas” do nosso tempo – Sócrates faz o papel dos “Cabrais”), a Ministra da Educação sempre esteve sob o fogo dos sindicatos, o que contribui para marcar uma clara diferença de conteúdos entre os dois modelos de contestação. É em função deste cenário que assistimos à convocação, este fim de semana, de uma “manif.” de professores por SMS e correio electrónico, tentando a FENPROF, dessa forma, retirar-lhe a carga sindical e partidária que até aqui tem sido o seu timbre e, assim, construir para essa mesma contestação uma imagem de credibilidade acrescida. Pois é, os preços da ingenuidade e da inocência andam mesmo pelas ruas da amargura.

Alfredo Rodrigo Duarte ("Marceneiro") nasceu há 117 anos


Alfredo Rodrigo Duarte ("Marceneiro") - "Amor É Água que Corre" (Augusto de Sousa - Alfredo Duarte). 1961

A 25 de Fevereiro de 1891, reinava em Portugal o Sr. D. Carlos, nasceu na Freguesia de Stª Isabel, num troço da Travessa de Stª Quitéria já desaparecido, Alfredo Rodrigo Duarte, filho de um sapateiro e de uma doméstica e que passou à História com o cognome de “Marceneiro”, a sua profissão. Há mesmo quem diga que a data exacta do seu nascimento seria 29 (também com o fado, assim como com os grandes nomes dos “blues”, estas coisas do nascimento comportam sempre algum mistério e sempre os grandes intérpretes ficam conhecidos pelas alcunhas que assumem), mas como isto de fazer anos a uma data bissexta é um pouco complicado e o seu pai teria nascido a 25, lá foi registado com esta data.

Para mim, modesto blogger de ocasião e horas vagas, será, a par de José Afonso, o maior nome da música popular portuguesa do século XX e, tal como Afonso, exemplo de uma obra musical e de uma vida sem concessões, sinónimo de uma rara e nem sempre compreendida coerência. Também, á sua maneira, uma prima dona, como, de outro modo, José Afonso também o era, ouso dizê-lo. Talvez o último dos fadistas, na verdadeira acepção do termo. Curiosamente, num tempo em que talvez se vá dando ao fado o lugar que ele bem merece como única forma de expressão musical popular urbana em Portugal (resta saber o que se entende hoje em dia por “fado”, já que as formas de vida e a cultura popular que lhe deram origem e o mantiveram estão em vias de extinção), estará talvez um pouco esquecido, entregue ao culto dos “puristas”, preço pago por essa coerência e fidelidade a si mesmo e às origens fadistas.


Mas quase sempre o fado foi esquecido e combatido: por monárquicos, enquanto expressão musical de republicanos (ainda recentemente, na série de televisão “O Dia do Regicídio” dois fadistas cantavam ao desafio, numa taberna, um fado anti-monárquico e “subversivo”); por republicanos, por afastar os operários e o povo da “educação” e arrastá-los para o vinho e para a “má vida”, para os prostíbulos; por ambos, enquanto expressão de luta operária ligada ao anarco-sindicalismo. Pela esquerda, por ser considerada música oficial da ditadura de Salazar; pelos comunistas, pela sua marginalidade e individualismo, que afastava os operários da “luta colectiva”; pelas elites, por ser música de putas e marginais, mas também pela sua pobreza musical e poética, como se o ""blues, por exemplo, que esteve na base da maior revolução da música popular do século XX – o "rock and roll" - fosse musical e literariamente elaborado, como se fosse essa a essência da música popular. Foi, claro, tolerado pela ditadura, depois de expurgado de algumas das suas formas mais extremas, mas, curiosamente, acabaria por ser o fado, levado para Coimbra pelos estudantes e adaptado às suas vivências e maior erudição literária e musical, que acabaria por estar na origem da grande renovação da música portuguesa, ao mesmo tempo que assumia um lugar de destaque no combate à ditadura, com José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Carlos Paredes e outros.


Alfredo Rodrigo Duarte ("Marceneiro" de profissão e nome fadista) faria hoje 117 anos. Aqui fica a lembrança.

domingo, fevereiro 24, 2008

A gestão de recursos humanos do Sport Lisboa e Benfica

Entre Janeiro de 2007 e o início da presente época, o Sport Lisboa e Benfica contratou quatro defesas centrais: David Luís, Zoro, Edcarlos e um tal Stretnovic (acho que é este o nome). Joga com Katsouranis, um médio, adaptado à posição de defesa central.

Uma nota s/ Vasco Pulido Valente e outra s/ o Kosovo

  1. Aquilo que Vasco Pulido Valente escreve aos fins de semana, no “Público”, é comentário político ou apenas um exercício de maledicência? Bem escrito, claro, aqui e ali até com graça, mas algo mais do que um puro e simples exercício da tão portuguesa maledicência?

  2. Entalado entre um reconhecimento já assumido pelos USA e pelos Estados mais importantes da União e a decisão de não reconhecimento da Espanha, aqui mesmo ao lado, a atitude de Portugal face à independência do Kosovo faz lembrar a de um adolescente que tem de dizer ao pai que teve uma negativa: vai ganhando tempo esperando pela ocasião mais propícia ou pela “grande ideia” que o salve das piores consequências. Muito sinceramente, também não consigo vislumbrar alternativa, até porque se não estou tão certo como Pacheco Pereira de que um desmembramento da Espanha possa trazer sérias consequências negativas para Portugal, tenho pelo menos algumas convicções de que, na dúvida e perante a instabilidade que uma situação desse tipo poderia criar no curto prazo, talvez seja mesmo bem melhor jogar no statu quo. Coração á parte, claro, apesar de filho de natural de Castela!

sábado, fevereiro 23, 2008

A Guerra Aqui (mesmo) Ao Lado (31)

Hablar de la Falange es nombrar a España. Unidad, unidad, unidad
[To speak of the Falange is to speak of Spain. Unity, unity, unity.].
F.E.T. y de las J.O.N.S. Lithograph, 3 colors; 70 x 60 cm
"While most of the posters in this exhibit are from Republican Spain, this poster is from Nationalist Spain. The predominant theme in this poster is, obviously, unity. A Falange soldier stands between two flags. The flag on the left, with the traditional red and yellow stripes, represents Nationalist and monarchist Spain. The one on the right, with the revolutionary colors black and red, represents Republican Spain and its various revolutionary groups. The flags almost touch each other behind the soldier in a strong representation of the power of the Falange to bring unity to Spain. Yet, there are no illusions in this image. It is significant that a soldier is holding the two flags in that it serves as recognition that military force seems to be the only way to bring about a unified Spain.
The Falange was an extreme nationalist movement formed in Madrid in October 1933 by José Antonio Primo de Rivera. Shortly after its formation, the Falange merged with the Juntas de Ofensiva Nacional-Sindicalist (JONS) and expanded its name to Falange Española de las JONS. In 1934, the new Falange laid out its main principles in a twenty-seven point program that stressed Spanish unity, strong government, an incorporated state national syndical system, nationalization of banks and credit, military strength, traditionalism, and imperial expansion. In opposition to the socialist or Marxist revolutions, the Falange declared its support for the "national revolution" and, initially, identified itself as a fascist movement. As the term fascism became increasingly associated with foreign movements, the Falange distanced itself from the label in order to further its nationalist agenda.
When the Popular Front, a political coalition of socialists, communists and republicans, won the February 1936 elections, the Falange had only 10,000 members. The organization would grow significantly during the war. At the moment of the initial uprisings of Franco and other generals throughout Spain, Falange leaders pledged their support for the Nationalist insurgents. Between 1937-1939, over 250,000 volunteers served in Falange military units with many serving in Falange civilian units in the rearguard. In April 1937, Franco seized control of the organization, merged it with the Carlists, and renamed it Falange Española Traditionalista (FET) or the FET de las JONS (as listed on the poster). Consequently, the FET was elevated to the status of official state party.
It is clear that the FET de las JONS produced this poster as evidenced by the yoke and arrows - a common symbol of the organization. The artist is unknown. "

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

The Lost Prince (5)

"The Lost Prince" de Stephen Poliakoff (2003). Clip nº 5

Duas notas

Duas notas breves de um início de noite de sexta-feira.

  • É lugar comum afirmar-se que o poder das corporações constitui talvez a maior dificuldade à autoridade do estado, à capacidade deste para implementar as suas políticas quando os interesses dessas corporações são postos em causa, quando se tenta desenvolver uma política de reformas. O problema é vermos o governo e os partidos políticos reagirem, e agirem, tal qual corporações quando questionados no seu funcionamento, na sua lógica interna e nos interesses que prosseguem.
  • Só pode ser novidade para os menos atentos, porque as suas ideias são públicas há já alguns anos, mas Henrique Neto, que não é um político profissional mas um empresário que também é político, emerge como a única oposição consequente, “de projecto”, dentro do PS, ao actual governo e ao actual partido. Também ao modelo de desenvolvimento dominante no bloco central. É sempre, ou tem sido sempre, interessante ouvi-lo: em nome das ideias, da política e da inteligência.

As Capas de Cândido Costa Pinto (40)

Capa de CCP para "Convite para a Morte" de Agatha Christie, nº 18 da "Colecção Vampiro"

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

The Lost Prince (4)

"The Lost Prince" de Stephen Poliakoff (2003). Clip nº4

Ricardo Quaresma

Bastaria ter visto o último jogo entre o Shalke 04 e o FCP para perceber porque Ricardo Quaresma ainda joga em Portugal e não seguiu o caminho de outros jogadores portugueses “concorrentes” como Cristiano Ronaldo, Nani e Simão. Para Quaresma um jogo de futebol é um projecto próprio, unipessoal, um número de circo em que a equipa, onde apenas por necessidade se integra, não é mais do que um pretexto, uma troupe convidada para que o protagonista, o “rapaz do trapézio voador”, possa brilhar (?). Claro que ainda não percebeu que assim cada vez brilha menos, até porque não tem a variedade de soluções de Cristiano, Nani ou Simão e muito menos o génio de um Maradona ou um Futre, jogadores de extracção semelhante mas que mais frequentemente percebiam como e quando era possível desequilibrar. Por isso eram muito melhores. Isso mesmo, Ricardo Quaresma é um jogador com um grande déficit de “inteligência de jogo”, há que dize-lo sem rodeios, mais evidente num futebol cada vez mais colectivo. Esperemos que Scolari lhe explique porque não teve lugar no mundial de 2006 e lhe mostre que no Europeu de 2008 terá quando muito um lugar no “banco”. Muito dificilmente será um jogador de categoria europeia.

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

The Lost Prince (3)

"The Lost Prince" de Stephen Poliakoff (2003). Clip nº3

Cuba

Só não gostaria de ter dito isto porque, felizmente, já o disse aqui, no "Gato Maltês, a 18 de Agosto de 2007 e a propósito de uma reportagem de Sandra Felgueiras sobre Cuba na RTP 1.
"...Isto, porque é difícil compreender (sem aceitar, esclareça-se) Fídel e a sua ditadura – e o apoio que ainda conseguirá entre o povo cubano – sem perceber o que era a Cuba de Fulgêncio Baptista (mais tarde hóspede da ditadura de Salazar), de “Lucky” Luciano e dos negócios da Mafia (do jogo e da prostituição), a República Dominicana de Rafael Trujillo, as ditaduras sul-americanas e, mais tarde, a Guerra Fria, a crise dos mísseis e a Baía dos Porcos. Foi este o “caldo de cultura” que forjou Fídel e os da Sierra Maestra; foi este caldo de cultura, em conjunto com o exercício totalitário do poder, que forjou o anacronismo actual que é Cuba."
Ainda uma nota adicional: a RTP2 passou recentemente um excelente documentário (salvo erro, em duas partes) sobre as intervenções de Cuba em África durante as lutas pela independência das antigas colónias europeias - e mesmo depois disso. Trata-se de "Cuba, Une Odyssée Africaine", uma co-produção anglo-francesa. É também uma importante contribuição para melhor se compreender a ditadura cubana, pelo menos numa das suas vertentes.
Já agora, seria também muito interessante e uma contribuição inestimável para o mesmo tema se a televisão pública (ou outra qualquer) se dispusesse a produzir algo sobre os acontecimentos de 27 de Maio de 1977 em Angola, onde a intervenção cubana foi decisiva. Digo-o sem esperança, claro, pois os negócios actualmente em curso seguramente o não permitem.

Saul Bass movie posters (2)

"Such Good Friends" de Otto Preminger (1971)

terça-feira, fevereiro 19, 2008

Traduções... (?)

Confesso que nada tenho contra o uso de expressões estrangeiras no português ou de neologismos derivados de alguma ou algumas delas. Eu próprio, habituado a exprimir-me ao longo da vida com alguma frequência em outras línguas que não a minha língua materna (a paterna já é outra conversa), o faço frequentemente e não acho isso seja crime de lesa pátria, se é que pátria existe, dúvida que frequentemente me assalta. Muito menos quando tenho na família quem, em processo inicial de aprendizagem da fala, vá, ao longo da frase, mudando de idioma conforme lhe dá mais jeito ou em função de um outro qualquer racional que por acaso me escapa. Mas, convenhamos, existem algumas liberdades, ou faltas de rigor, com as quais francamente embirro (é que é mesmo esse o termo). E não falo só daquelas que alteram completamente o sentido da frase quando traduzidas (uma das mais frequentes é traduzir "eventually" por "eventualmente"), mas de outras que, não estando a tradução completamente errada, resulta pelo menos um pouco menos correcta.

Duas que ouvi recentemente, a propósito do estado de saúde de Ramos Horta e das eleições no Paquistão, foram, no primeiro caso, a tradução de “progress” por “progresso”, quando o termo correcto seria “evolução” (do estado de saúde); no segundo caso, ouvido hoje, a tradução de “appointed” por “apontado”, quando a tradução correcta seria “designado” ou, no limite, “considerado” (o PPP foi considerado ou designado vencedor...). Sim, eu sei, percebe-se o sentido da frase e é a lei do menor esforço a funcionar. Mas é isso mesmo que eu contesto: a lei do menor esforço. Importam-se?

The Lost Prince (2)

"The Lost Prince" de Stephen Poliakoff (2003). Clip nº 2

The Hammer Collection (10)

"The Evil Of Frankenstein", de Freddie Francis (1964)

O Ministro do Ambiente fez prova de vida

Por uma vez, de acordo com o Ministro do Ambiente: “o problema do ordenamento do território já não é o mais sério em Portugal”.

Aliás, nunca o foi. O mais sério, o fundamental, o que lhe está na base e gerou o actual (des)ordenamento, é o modelo de desenvolvimento adoptado. Esse sim, tornou o país naquilo que hoje é.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

The Lost Prince (1)

"The Lost Prince", de Stephen Poliakoff (2003). Clip nº 1
O “Gato Maltês” inicia hoje a divulgação da série da BBC “The Lost Prince”, que descreve a curta vida do príncipe John, filho do rei George V e da Rainha Mary (filha do Duque de Teck), irmão de dois reis de Inglaterra, Edward VIII e George VI, e tio-avô da actual rainha Elizabeth II. O príncipe, que era afilhado de D. Carlos I de Portugal, era epiléptico e teria problemas de autismo, tendo vivido apenas 13 anos entre 1905 e 1919.

A série, que já passou na RTP e é emitida com regularidade pela BBC Prime, foca ainda alguns acontecimentos importantes do início do século XX, como a Grande Guerra e o relacionamento entre as várias famílias reais europeias com laços de sangue entre elas (dizia-se que a guerra era originada por uma questão de “partilhas” familiares), a mudança de nome da família reinante em Inglaterra de Saxe-Coburgo para Windsor para “cortar” com as suas origens alemãs e a execução da família imperial russa após George V, por razões políticas, lhe ter recusado asilo. É também um “fresco” notável sobre a vida da aristocracia e da corte britânica na época, e o confronto entre duas personalidades distintas formatadas pelas próprias funções que ocupam: uma certa frieza, austeridade e distanciamento da Rainha Mary (contudo, uma mulher de forte personalidade e bastante culta para a época) e a sensibilidade feminina e carinhosa de Charlotte “Lalla” Bill, nanny do príncipe John. Interessante, também, o destaque dado, ao longo da série”, à infância de um dos irmãos de John, o príncipe George, uma personalidade controversa que morreu em 1942, durante a WWII, quando o avião da RAF em que se deslocava da Escócia para a Islândia se despenhou. George era tido como bissexual (são-lhe imputados vários relacionamentos com pessoas ambos os sexos e até filhos ilegítimos) e dependente de drogas, e sobre a sua missão e morte têm sido desenvolvidas várias teorias nunca provadas, entre as quais a de que o avião em que viajava teria sido abatido pelos próprios serviços secretos britânicos. É pai do Duque Michael de Kent, que nos habituámos a ver presidir às finais de Wimbledon e da Taça de Inglaterra em futebol.

Ministros fardados e generais analistas políticos

Já por uma vez aqui referenciei o facto de achar profundamente ridículo que o ministro da Defesa se apresente de “camuflado” quando visita as tropas portuguesas em campanha. Apesar de as tutelar, enquanto ministro, trata-se de um civil que, portanto, não ocupa nenhum cargo na hierarquia das Forças Armadas, não tendo direito ao uso de farda muito menos devendo apresentar-se com um qualquer arremedo da “dita” (que é o que acontece). Se é para demonstrar espírito de corpo ou de missão, o resultado é apenas o contrário: faz figura de parvo. Agora, infelizmente, também o Presidente da República caiu na “esparrela”, aderindo á moda. O facto de se tratar do comandante supremo das FA em nada atenua a triste figura, pois, uma vez mais, trata-se de um civil. Quando muito essa triste figura apenas será atenuada pelo seu metro e oitenta e picos. Enfim... já é um princípio.

Mas, pior ainda, pergunto-me o que faria um oficial general do exército português no activo, fardado e, aparentemente, no seu posto de trabalho (peço desculpa de não me lembrar do nome), ontem, em um dos telejornais, comentando politicamente o futuro do Kosovo e dos Balcãs. Politicamente, sublinho. Pensei isso lhe estivesse vedado pela natureza das suas funções (se não está, deveria estar), mas, pelo menos nada que uma equilibrada dose de bom senso não pudesse ter evitado. Ou até mesmo os generais, na falta de uma guerra a sério, já não resistem aos seus cinco minutos de fama?

Clássicos do Cinema (46) - Alain Robbe-Grillet (18.8.1922 - 18.2.2008).

"L'Année Derniére à Marienbad" de Alain Resnais e Alain Robbe-Grillet (1961)
« L’Année dernière à Marienbad, à cause de son titre, à cause aussi des œuvres dont Alain Resnais avait auparavant réalisé la mise en scène, a d’emblée été interprété comme une de ces variations psychologiques sur l’amour perdu, l’oubli, le souvenir. Les questions que l’on se posait le plus volontiers étaient : cet homme et cette femme se sont-ils vraiment rencontrés, aimés, l’année dernière à Marienbad ? La jeune femme se souvient-elle et fait-elle seulement semblant de ne pas reconnaître le bel étranger ? Ou bien a-t-elle vraiment tout oublié de ce qui s’est passé entre eux ? etc. Il faut dire les choses nettement: ces questions n’ont aucun sens. L’univers dans lequel se déroule tout le film est, de façon caractéristique, celui d’un présent perpétuel qui rend impossible tout recours à la mémoire. C’est un monde sans passé qui se suffit à lui-même à chaque instant et qui s’efface au fur et à mesure. Cet homme, cette femme commencent à exister seulement lorsqu’ils apparaissent sur l’écran pour la première fois ; auparavant ils ne sont rien; et, une fois la projection terminée, ils ne sont plus rien de nouveau. Leur existence ne dure que ce que dure le film. Il ne peut y avoir de réalité en dehors des images que l’on voit, des paroles que l’on entend. »
Alain Robbe-Grillet, Pour un nouveau roman [1963] , Éditions de Minuit.
Nota pessoal: Depois disso, para mim a literatura e o cinema - portanto, a vida - nunca mais foram os mesmos.

História(s) da Música Popular (77)



The Teddy Bears - "To Know Him Is To Love Him" (Phil Spector)

The Silver Beatles - "To Know Her Is To Love Her" (Phil Spector)

The Brill Building (XXVI)

Pois estou para aqui farto de falar de Phil Spector enquanto produtor e ainda não tinha falado da sua intervenção como intérprete e do modo como tudo começou. Pois isso aconteceu em 1958 (há já 50 anos, livra!) e com os Teddy Bears (Phil, Marshall Leib e Annette Kleinbard) e o tema “To Know Him Is To Love Him” escrito pelo próprio Phil Spector. Pois segundo rezam as crónicas, Phil, nascido em 1939 e vítima de bullying na escola (lá está, o vienense professor Segismundo sempre tinha as suas razões e por isso Spector deu no que deu) e originário de uma família de imigrantes judeus russos a viver no Bronx, terá emigrado para a Califórnia com a mãe em 1953, depois da morte do pai em 1949, e aí formou os seus Teddy Bears. Pois foram Spector e os Teddy Bears que juntaram dinheiro para a sua primeira gravação e se dela não reza muito a história, já à segunda acertaram em cheio e “To Know Him Is To Love Him” (parece que inspirado no epitáfio de seu pai) guindou-se a #1 e vendeu mais de um milhão de cópias. Foi o início de tudo, claro: não de o primeiro milhão de dólares mas do primeiro milhão de discos, o que é quase a mesma coisa. Dos Teddy Bears pouco mais se ouviu falar, mas de Spector, o que se seguiu (e já por aqui temos visto muito) faz mesmo parte da História.

Como curiosidade o facto de o baterista utilizado na gravação ter sido, nem mais nem menos, Sandy Nelson, cujos instrumentais “Teen Beat” e “Let There Be Drums” alcançariam mais tarde enorme popularidade. Também importante facto a assinalar a inclusão entre os intérpretes que gravaram covers do tema de nomes como... tan, tan, tan, tan, os Beatles (ou melhor, os Silver Beatles ainda com Pete Best), mudando o "género" da canção de masculino para feminino, e – e esta hem! – Amy Winehouse. Pois nada se perde e nada se cria, tudo se transforma. Pelo menos foi o que disse o senhor Lavoisier e, depois do que aqui se viu, quem sou eu para o desmentir?

domingo, fevereiro 17, 2008

Outras Músicas - Raga

Ravi Shankar - Raga Anandi Kalyan

Kosovo

















A questão não tem tanto a ver com o modo como a independência do Kosovo pode servir de pretexto e exemplo para a secessão de outras nações europeias sem Estado, embora, sem dúvida, possa acelerar esse processo principalmente onde essa aspiração se encontra mais latente, como no País Basco, na Catalunha ou na Córsega (ou mesmo na Escócia), ou onde as questões geo-estratégicas o tornem interessante. Antes disso, a questão essencial que temos de olhar para tudo compreender, é de que modo, depois da necessidade de consolidação do capitalismo emergente ter estado na base, no século XIX, da construção dos grandes impérios, a globalização actual possa finalmente permitir e tornar irreversível a autonomia crescente e independência futura de todas as nações ainda sem Estado.

sábado, fevereiro 16, 2008

Manuel Alegre, o seu "ego" e a sua "oportunidade de negócio"

Não acredito que Manuel Alegre ainda não tenha compreendido que a divisão fundamental nas sociedades actuais não é mais entre “esquerda” e “direita”, entre capitalismo e socialismo, mas entre duas concepções antagónicas de organização do estado e dessa sociedade: um modelo aberto e democrático, que só pode basear-se na livre iniciativa capitalista pois é essa a sua essência, aquilo que lhe deu origem e o criou - com gradações que vão desde os ideais ultra-liberais até àqueles que, por colocarem o seu ênfase na protecção do cidadão, poderemos considerar integrados no “modelo social europeu - e um outro essencialmente centrado no “poder do Estado”, que também pela sua própria essência conduz fatalmente a universos concentracionários e conservadores, a sociedades fechadas e repressivas. Longe, muito longe, por inadequados aos tempos que correm e ao mundo actual, vão portanto os tempos do anti-fascismo, das frentes populares e dos programas comuns de esquerda.

Quer isto dizer que, do ponto de vista estrutural, existe uma contradição inultrapassável entre os projectos de sociedade do PS, por um lado, e os do PCP e do Bloco de Esquerda, por outro, o que não impedindo acordos pontuais, por vezes mesmo coincidência de pontos de vista em algumas áreas políticas, põe em causa um caminho comum, uma partilha institucional. Não poderá deixar de ser assim a não ser que se decida abdicar dos princípios fundadores. Já quanto aos partidos considerados á sua direita existirão divergências políticas, aqui e ali mesmo estratégicas, em muitos casos visões e concepções diferentes do mundo em ocasiões em que o dramatismo se acentua, mas, no essencial, na questão-chave, uma coerência e coincidência de pontos de vista quanto aos princípios institucionais definidores.

Claro que Manuel Alegre, que viveu Argel e o Portugal de 75 e fez até hoje da política a sua profissão, conhece tudo isso e mais algumas coisas, todas elas muito bem. Mas também percebeu, ao fazer este seu apelo institucional a uma esquerda tal como ele conservadora, que a situação actual do país e a política que o governo do PS se vê “obrigado” a implementar, com repercussões evidentes nas bases do partido e no seu eleitorado, lhe concede uma “oportunidade de negócio” que não podia deixar indiferente o seu incomensurável "ego". Também sabe, para seu bem e mal de Sócrates, que este, ao ceder à sua chantagem no caso do Ministério da Saúde, não fez mais do que escancarar portas até aí somente entreabertas. Assim sendo, Sócrates terá o que merece. Quanto a ambos, esperando a Alegre não lhe suceda o mesmo que ao sapo, não consigo chegar a perceber se o país mereceria qualquer coisa de melhor.

Cinema e Rock & Roll (17)


"Ferry Cross the Mersey" de Jeremy Summers (1965)

Apenas um filme para promover e fazer brilhar alguns intérpretes do que se poderia chamar a segunda linha do "Liverpool sound", todos eles com uma característica comum: partilharem com os Beatles o mesmo manager, Brian Epstein que aqui também é produtor. E se Gerry and the Pacemakers e até mesmo Cilla Black (que na realidade se chamava Priscilla White) alcançaram alguma notoriedade - principalmente o grupo de Gerry Marsden graças à canção que deu o título ao filme e também ao tema de Rodgers & Hammerstein, da opereta "Carousel", "You'll Never Walk Alone" adoptado como lema e hino pelos suporters do Liverpool - dos Fourmost já reza menos a história, embora o grupo tenha chegado a gravar temas de Lennon e McCartney e eu tenha para ali uma sua colectânea que, para além de três temas de Lennon e McCartney, ainda inclui outros de Goffin e King, Leiber e Stoller, Carter e Lewis, a minha favorita Jackie DeShannon e, imaginem, Holland, Dozier e Holland. Gente graúda, portanto. E sabem que é o produtor do álbum? Quem tiver dito George Martin acertou, mas não era definitivamente a million dollar question.
Ah, e o filme? Pois também não passou em Portugal e, esqueçam, que dele a história reza bem pouco...

"Que floresçam mil flores"... (17)

Designer unknown, 1967
Long live the victory of the revolutionary cultural line of Chairman MaoPublisher: Tianjin People's Art Publishing House(Offset, 77x52 cm., inv.nr. BG E3/711)
"The long text is a Mao quote from his 'Talks at the Yan'an forum on literature and art'. It states that art has to be a part of the revolutionary machinery, a weapon to unify the people and to beat the enemy. The enemy is depicted in the lower left corner: a reformer within the Communist Party, his face painted grey as the villain in Chinese operas."

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Portrait of a Marriage (25)

"Portrait of a Marriage" de Stephen Whittaker (1990). Final.
Links:

O deputado Diogo Feio e a economia portuguesa

Sim, eu sei que coisas destas já não me deveriam espantar, se é que ainda me é concedida a graça de admitir que algo, ao cimo da terra, possa conter em si mesmo essa capacidade. Mas acho que ontem fiquei a dever essa benção ao deputado Diogo Feio, do CDS, o que não me espantará assim tanto dada a respectiva concessão se ficar a dever a um partido confessional, por definição, para essas questões mais vocacionado. Mas vamos ao que interessa, as coisas terrenas, e deixemos graças e bençãos para quem direito.

Pois ontem, em zapping pelos vários telejornais, lá dei com o deputado Diogo Feio, presidente do grupo parlamentar do CDS e, até (eu acho), um bom deputado, a afirmar (cito de cor) “que era inacreditável como é que o governo conseguia a “rara habilidade” (as palavras não serão exactamente estas mas era este o espírito – peço desde já desculpa a Diogo Feio pela liberdade tomada) de com um crescimento de 1.9% ver o desemprego continuar aumentar ou não decrescer”. Pois eu sei quão ténue é a linha que separa a retórica parlamentar da demagogia mais rasteira, e o CDS conhece essa linha melhor do que muitos, mas há limites para tudo e, como já disse, até para a capacidade de não me conseguir espantar, já que para a indignação, para essa, já me sobra mesmo pouca “capacidade instalada”. É que Diogo Feio – friso, que até tem sido um bom e atento deputado e, embora não sendo economista, tem formação nesta área – deveria saber que isso, esse crescimento, embora ténue, acompanhado por um menor crescimento, estagnação ou até diminuição do emprego, é, pelo contrário, um bom sintoma de comportamento saudável da economia portuguesa, significando que o tecido empresarial, a sua estrutura, devagar, lá se vai reconvertendo, em favor de empresas apresentando maior produtividade, mais competitivas e produzindo produtos de maior valor acrescentado, muitas delas em outros sectores de actividade onde a informação a tecnologia e a inovação são essenciais. Claro que Diogo Feio, apesar de licenciado em Direito, sabe isso perfeitamente, mas deixou-se vencer pela demagogia mais rasteira, pela intervenção fácil. É pena, porque, como já disse, até tem demonstrado ser um bom deputado e um adequado líder parlamentar, e o CDS tem colocado ao governo algumas questões pertinentes. Como se prova, não direi no melhor pano, mas a um pano de qualidade razoável também acontecem por vezes desgraças de ocasião.

General Garcia Leandro - correcção

Fez o General Garcia Leandro o favor de me corrigir, a propósito deste post, esclarecendo que "o OSCOT é uma uma organização privada da sociedade civil, com os seus Estatutos e com Corpos Sociais eleitos, não dependendo da nomeação de qualquer entidade". Agradeço-lhe o interesse manifestado bem como o esclarecimento que, conforme prometido, aqui fica devidamente expresso. Quanto ao post, apesar desta correcção, penso mantém essencialmente a sua pertinência.

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Portrait of a Marriage (24)

"Portrait of a Marriage" de Stephen Whittaker (1990) - 4ª parte. Clip nº 6

Um outro S. Valentim: St. Valentine's Day Massacre

Os mortos
O filme de ficção: realização de Roger Corman (1967)


O que se passou a 14 de Fevereiro de 1929

Lobo Xavier e o "caso Bexiga"

Bastava estar atento ao modo como António Lobo Xavier, membro do Conselho Consultivo da SAD do FCP, desvalorizou ontem, na “Quadratura do Círculo”, o arquivamento do processo relativo às agressões a Ricardo Bexiga, enquadrando-o numa “normalidade legalista” (o contraste com José Pacheco Pereira foi por demais evidente), bem como à forma como se referiu à criminalidade na cidade do Porto, aplanando as suas especificidades, para se perceber o porquê da alegada lentidão como evoluíram, ou não evoluíram, as investigações do processo. E não só: qual a provável origem das agressões. E mais ainda: como uma parte do bas-fond da cidade do Porto funciona e a rede que a devido tempo teceu. Como se isso ainda se não soubesse, claro.

Já agora: perante a recente indignação dos magistrados do MP do Porto, só espero Ricardo Bexiga não acabe condenado... Por ter ousado apresentar queixa, claro.

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Portrait of a Marriage (23)

"Portrait of a Marriage" de Stephen Whittaker (1990). 4ª parte. Clip nº5

Mourinho: mais um "faux pas"?

Verdade ou não, o simples facto de aparecer nos media uma notícia citando um alegado (como agora se diz) oferecimento de José Mourinho ao Sevilha, em nada o favorece. Mourinho não foi um jogador de “topo”, um indiscutível, um capitão. Apesar dos resultados alcançados, nunca treinou um “grande” da Europa: o FCP é um outsider e o Chelsea um emergente, agora percebendo que uma cura de cinzentismo talvez lhe possa trazer a patine. Pelo seu perfil e atitude, Mourinho é um desafiador, um trouble maker. Em certa medida, também ele um membro da sociedade afluente e não uma personalidade da elite; da aristocracia dos treinadores à qual pertencem Alex Ferguson, Fabio Capello, Marcelo Lippi, Arséne Wenger ou Sven Goran Eriksson. À qual pertenceu Rinus Michels. Por vezes, parece ser o convidado extravagante e tolerado num meio a que não pertence, mas que lhe acha alguma graça. Uma espécie de Arséne Lupin, a quem as mulheres até poderão tentar seduzir voltando de seguida para o conforto da sua família, da sua casa e do seu meio. Voltando para onde pertencem.

A notícia, verdadeira ou falsa – e o drama é que essa sua condição é indiferente - transmite, aliás, isso mesmo: nervosismo da parte de quem não “pertence” e se quer afirmar (ou reafirmar), de quem anseia por se mostrar: o burguês enriquecido batendo à porta da sociedade, mesmo que no caso esta não passe de uma pequena aristocracia, de um qualquer baronete. Enfim... Terá que ter cuidado, José Mourinho. É que, para faux pas, bastou aquele flirt “toca e foge” com a Football Association.

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Saul Bass movie posters (1)




"The Moon Is Blue" de Otto Preminger (1953)

Expliquem-me s.f.f.

Não sei se já alguém disse isto e, no caso afirmativo, peço desculpa pela falta de originalidade, mas começo a não perceber muito bem quem toma as decisões estratégicas neste momento em Portugal: se o governo, a Ordem dos Engenheiros, a CIP, a Associação Comercial do Porto, o LNEC, o deputado Manuel Alegre, o Sr. Litério da Anadia, o aparelho judicial ou uma qualquer joint venture de todos eles vogando ao sabor do momento.

Portrait of a Marriage (22)

"Portrait of a Marriage" de Stephen Whittaker (1990). 4ª parte. Clip nº4

História(s) da Música Popular (76)


The Crystals - "He's a Rebel" (Gene Pitney)
The Brill Building (XXV)
Ora depois de deixarmos para trás Jeff Barry e Ellie Greenwich, chegou a vez de falarmos novamente de Gene Pitney, que já por aqui passou – e bem – como intérprete, quando dediquei uns posts a Barry Mann e Cynthia Weil. E se da “vida e obra” já falámos q. b. (“História(s) da Música Popular, 65) é agora tempo trazer aqui, de novo, Gene como compositor ligado ao Brill Building e, principalmente, enquanto autor de um dos temas mais emblemáticos saídos do nº 1619 da Broadway e integrante do “Phil Spector wall of sound” e da sua panóplia de “girls groups”: He’s a Rebel”, #1 no Billboard para as Crystals em 1962. Para as Crystals? Sim, mas é como quem diz, já que o tema foi editado como sendo interpretado pelas por elas, mas este é, de facto, o caso mais emblemático da “flexibilidade” de Spector e das histórias, já aqui faladas, que rodeiam a vida das ditas Crystals: encontrando-se estas em LA e Spector em NY, nada melhor do que gravar quanto antes com Darlene Love e as Blossoms, uma vez que teria chegado aos ouvidos do nosso bom amigo Phil que Vicky Carr se preparava para gravar o tema. E como nos negócios “tempo é dinheiro”, nada melhor que usar o que se tem mais à mão. E se bem o pensou, melhor o fez, claro.

Bom, o problema, o pequeno problema, é que a partir daí “He’s a Rebel” teve de passar a fazer parte do repertório “ao vivo” do grupo e a voz de Barbara Alston nada tinha a ver com o registo de Darlene Love. Mas como neste mundo, e principalmente para Spector, tudo tem uma solução, “La La” Brooks passou de imediato a lead singer. Cá por mim, até nem acho mal...

Ah, resta-me acrescentar que Vicky Carr gravou mesmo a canção; sem sucesso comparável, claro.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Portrait of a Marriage (21)

"Portrait of a Marriage" de Stephen Whittaker (1990). 4ª parte. Clip nº3

Timor: depois da história sob a forma de epopeia talvez seja o tempo para a verdadeira história

Aqui há uns dias o Luís, do Ié-Ié, lembrava a inauguração do Apolo 70 e isso trouxe-me á memória o que alguém escreveu, in illo tempore, a propósito do filme que inaugurou o respectivo cinema, hoje já desaparecido: “Tell Them Willie Boy Is Here” (em português “O Vale do Fugitivo”) de Abraham Polonsky, uma das vítimas do tristemente célebre senador Joseph McCarthy e das sua Comissão das Actividades Anti-Americanas. O filme, um clássico do cinema liberal americano ("liberal" na América quer dizer “esquerda”), com um Robert Redford também conhecido pela sua militância, integrava-se naquilo que se convencionou chamar na altura o “anti-western” e a seu propósito – volto ao princípio – alguém escreveu, talvez Lauro António responsável nessa altura pela sua programação, que “os americanos depois de terem filmado o western sob a forma de epopeia tinha finalmente resolvido contar-lhe a história” (cito de, muito longínqua, memória).
Pois foi exactamente isto que me ocorreu quando, ontem, ouvi a notícia sobre o atentado em Timor contra Ramos-Horta: talvez seja tempo para os portugueses, depois de o terem feito sob a forma de epopeia, se dedicarem finalmente a contar de Timor a história. Bom, sobre aqueles a quem tradicionalmente coube o papel de “maus” (a ditadura indonésia de Suharto e a América de Kissinger), já quase tudo foi dito - e não sou eu que vou branquear o seu papel, desiludam-se. Falta talvez agora falar sobre os “bons” e, adoptando o verdadeiro conceito do “anti-western”, interrogarmo-nos sobre a sua bondade efectiva. E aqui cabe fundamentalmente toda uma elite mestiça formada pela potência colonial e a ela, de um ou outro modo, ligada, à qual a integração na Indonésia nada convinha e com a qual, dada a natureza da respectiva ditadura em tempo de Guerra Fria, muito se arriscariam a perder: desde a Igreja Católica, em terreno de maioria muçulmana e que foi cimento da identidade cultural do território, até à elite cultural e estudantil formada nas universidades portuguesas, sonhando com “os amanhãs que cantam”. Pelo meio, e sem menores responsabilidades, fica uma pequena-burguesia de negócios (como os Carrascalão, por exemplo), que se dividiu e hesitou perante a ocupação enquanto media e perspectivava com quem estariam as oportunidades futuras. Defendo assim a integração? Não, principalmente porque a ditadura de Suharto não era “flor que se cheirasse” e mal que se não desejasse apenas ao pior inimigo. Mas convém lembrar que menos de quinze anos antes Goa, Damão e Diu se tinham integrado na União Indiana de forma relativamente indolor. Sim, eu sei que Nehru não era Suharto, a Índia é uma democracia e a conferência de Bandung, ao tempo, “já era”, mas, mesmo assim, talvez existissem alternativas negociadas se os interesses imediatos, os sonhos e falta de bom senso não tivessem prevalecido. Claro, também sei que hoje é fácil falar do assunto e não se pode rescrever a História ou analisá-la na base da conjuntura e relações de forças actuais, mas, por vezes, é preciso que isso se faça para que não se diabolizem só uns e santifiquem (injustamente?) outros tantos. Talvez também aqui tenha chegado o tempo do “anti-western”.

José Manuel Fernandes, a Índia e o "camarada" Enver Hoxha

Nunca fui à Índia, e provavelmente nunca irei. Mas lá que o editorial de hoje de José Manuel Fernandes, no “Público”, sobre uma sua visita à Índia, tem todo o ar de relatório de viagem de membro do Conselho Nacional da UDP à Albânia do “camarada” Enver Hoxha, lá isso ninguém me tira da cabeça. Ele há hábitos que nunca se perdem...

sábado, fevereiro 09, 2008

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Portrait of a Marriage (20)

"Portrait of a Marriage" de Stephen Whittaker (1990). 4ª parte. Clip nº2.

Novo aeroporto: como o modelo que justifica a Ota não pode justificar Alcochete

Já por aqui expressei, por muitas e diversas vezes, a minha oposição ao modelo de desenvolvimento que está na base da “mega estrutura - ou cidade - aeroportuária”. Mantenho, sem qualquer alteração, essa minha análise. Contudo, isso não me impede de perceber a razão pela qual para este modelo, que recuso, a Ota era a localização pretendida e considerada a mais favorável, qual o racional em que essa escolha se baseava. Basta ler e ouvir João Cravinho e Henrique Neto para perceber que existia uma lógica a montante que a determinava e lhe dava um sentido. Contrariamente, mantendo-se o modelo inalterado (até agora ainda não vi ninguém negá-lo), a opção pela localização “Alcochete”, o seu racional, é algo que não consigo entender e transcende a minha compreensão. Problema meu, com certeza...

PJ: "a melhor polícia de investigação criminal do mundo"

O acontecido com os últimos casos mediáticos em que a Polícia Judiciária esteve envolvida (Joana, McCann e agora o arquivamento do caso “Bexiga” e as declarações de Alípio Ribeiro), mostram uma instituição “sem rei nem roque”, sujeita à corrupção e a uma convivência promiscua com os “media”, praticando o arbítrio e situando-se longe da ética e de um nível mínimo de profissionalismo e organização exigíveis. Nada que espante e não fosse previsível, e por aqui o disse em devido tempo contra os defensores da “melhor polícia de investigação criminal do mundo”.

A SPA e Charles Aznavour

A Sociedade Portuguesa de Autores decidiu atribuir a sua Medalha de Honra ao cidadão francês de origem arménia Shahnour Vaghinagh Aznavourian, aka Charles Aznavour, o que acontece pela primeira vez na pessoa de um estrangeiro. Segundo a SPA, tal honraria fica a dever-se à "importância do contributo do cantor para o engrandecimento da música popular do século XX" (como disse?). Ontem, lá teve direito a Grande Entrevista na RTP, com a “Drª Judite”, que me escusei prudentemente a ouvir. Nada tenho contra o senhor, mas pergunto: porquê tantas honrarias para com aquele que foi, na sua já longa carreira, nada mais do que apenas um bom intérprete de música ligeira – entre tantos outros - e um actor esporádico e sem relevância de maior na história do cinema? É que se me quiser dar ao trabalho (não quero) rapidamente elaboro uma lista com pelo menos cinquenta nomes (talvez mesmo 100) da música ligeira e da música popular mais merecedores de tal distinção do que o simpático Aznavourian.

Enfim, quando não consegues perceber a razão, o melhor é tentares procurá-la. À bon entendeur...

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Portrait of a Marriage (19)

"Portrait of a Marriage" de Stephen Whittaker (1990). 4ª parte. Clip nº1

Aqui se explica a JPP porque para o "bom povo" (e não só) a licenciatura do 1º ministro e as suas casas tipo "maison" não são bem a mesma coisa

Ontem, na “Quadratura do Círculo”, Pacheco Pereira interrogava-se com estranheza sobre as razões pelas quais uma investigação bem fundamentada, publicada pelo jornal “Público”, sobre os projectos assinados por José Sócrates para a Câmara da Guarda teria obtido uma repercussão bem menor do que se esperaria, bem longe da conseguida com o caso da sua licenciatura. As razões são muito simples; tão simples que custa a crer Pacheco Pereira, ao interrogar-se, não tenha alcançado rapidamente as conclusões.

Em primeiro lugar, para o “povo” uma licenciatura “comprada” ou “de favor” - licenciatura para muitos inatingível e que corresponde ao passaporte para uma vida mais desafogada e para a ascensão social - é algo só ao alcance dos ricos e poderosos, daqueles a quem o dinheiro ou o relacionamento social, cuja obtenção é muitas vezes vista como ferida de ilicitude, concederam esse privilégio. Mais ainda, é olhada como uma concorrência desleal por quem, por ausência de meios ou de capacidade, não tem possibilidades de a obter, ou tendo-as, constata uma dualidade entre os sacrifícios por si feitos, em seu favor ou dos filhos, e as facilidades concedidas a outrém. Portanto, o “esquema” que parece transpirar do processo de licenciatura do primeiro-ministro é algo que os fere no mais íntimo do seu ser, perante o qual sentem uma mal contida repulsa epidérmica.

Já na questão dos “projectos” a realidade é bem diferente: trata-se de um pequeno estratagema, como tantos outros, algo nas margens da legalidade mas a quem todos já recorreram ou sabem um dia poder vir a ter de recorrer para lhes resolver um qualquer problema na Câmara, na “Junta”, na “regedoria” se ainda a houvesse. É algo do dia-a-dia, com quem têm uma relação de proximidade e sabem é comum e tacitamente aceite. Que faz parte da sua vida, que também lhes pertence. Aliás, basta olhar para as fotografias das casas para perceber isto mesmo, como isto faz parte do seu pequeno mundo, tal como também o faz a pequena corrupção local, nas Câmaras e nas “Juntas”, mas de que são também elemento essencial e tantas vezes beneficiários para “ultrapassar a burocracia desses gajos lá de Lisboa que nunca aqui vieram e não conhecem a realidade do país”.

É claro que a um outro nível, o das elites urbanas e educadas, o facto de o jornal ser propriedade de quem é e isso, verdade ou mentira, poder pressupor pressões e desígnios “insondáveis” (mesmo que se esteja a ser injusto no julgamento) também em nada ajuda á valorização da notícia, como não ajuda o facto de ser a segunda investigação ao passado do primeiro-ministro com idêntica origem, mesmo que ambas sejam, como de facto o são, peças jornalísticas de qualidade e bem fundamentadas que em nada se confundem com o sensacionalismo tablóide.

É esta a realidade, mais do que qualquer tentativa governamental de desvalorizar e calar o assunto - que, claro, tudo leva a crer também exista. Uma injustiça, talvez, mas como seria o mundo sem elas? Provavelmente, sem qualquer tipo de “charme”.

É o meio-campo, estúpido!

Como já por aqui tinha dito, o grande problema da selecção portuguesa de futebol, actualmente, é o meio-campo. Este é o sector onde mais se nota um "déficit" de qualidade e espero Scolari finalmente o tenha compreendido. O actual meio-campo “rodas baixas” da selecção portuguesa, constituído por um pivot defensivo fora de forma e que, apesar da sua utilidade, é um jogador mediano em termos internacionais (Petit), por um Deco com dificuldades em se impor no Barcelona e por Maniche que não se impõe em lado algum excepto nas fases finais dos europeus e mundiais, não tem “andamento”, ritmo e intensidade de jogo para se confrontar com as melhores equipas ou mesmo com aquelas que, não estando entre as melhores, como a Polónia, impõem uma intensidade de jogo, uma velocidade e um poder físico-atlético acima da média. Mais a mais quando a equipa se arrisca, por via de Quaresma e Cristiano, a perder demasiadas vezes a bola ainda longe da área contrária. O problema é que dificilmente existem soluções alternativas (Miguel Veloso joga devagar e devagarinho, desconcentra-se e não tem experiência a alto nível, Meira parece-me a melhor alternativa para “pivot” defensivo se treinar com a equipa nessa posição, Pelé ainda não é e Raúl Meireles pode dar um jeito no lugar de Maniche mas não fará a diferença) a não ser que se reformule o modelo e o sistema de jogo o que não estou muito bem a ver como será possível em tão curto espaço de tempo. Resta a Senhora de Caravaggio, pois claro.

As Capas de Cândido Costa Pinto (39)

Capa de CCP para "O Caso da Fotografia Misteriosa" de Erle Stanley Gardner, nº 16 da "Colecção Vampiro"

Marinho e Pinto, o mensageiro e a mensagem

Foi o facto de terem sido proferidas pelo bastonário da Ordem dos Advogados que deu valor acrescido às afirmações de Marinho e Pinto sobre casos, já de todos conhecidos e divulgados pelos media, onde se poderiam vislumbrar fumos de corrupção. Foi o seu perfil um pouco desbragado para o que é habitual no cargo, no limiar do populismo, que gerou a adesão popular e a identificação junto das “massas”. Foi também esse seu perfil que pode ter contribuído para lhes retirar alguma credibilidade junto de todos os outros.

Em todos estes casos, não será que o mensageiro foi a mensagem?

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Portrait of a Marriage (18)

"Portrait of a Marriage" de Stephen Whittaker (1990). 3ª parte. Clip nº6

O passado de José Sócrates

Algo que acho importante referir e ajuda a explicar muitos dos actos passados de José Sócrates hoje em dia sob constante escrutínio não tanto público mas mais do “Público”: pura e simplesmente, nunca na vida enquanto engenheiro da Câmara tinha sonhado poder vir a ser um dia primeiro-ministro. Compreende-se.

Garcia Leandro, Marx, a "Sala do Risco" e o regime

Garcia Leandro não é Oscar Carmona, nem estamos em 1925 perante um julgamento de militares revoltosos, mas a entrevista e declarações do General ao “Expresso” e “SIC Notícias” têm, propositadamente ou não, com razão ou sem ela – e não sou eu que lha vou negar mau grado um certo tom catastrofista que está longe de ser bom conselheiro -, algo de “Sala do Risco”. Claro que, ao recordar o antigo Presidente da República da ditadura e personalidade destacada da revolta de 28 de Maio de 1926, terá o General lido uma parte do “18 do Brumário” (“quanto a mim mostro, pelo contrário, como a luta de classes em França criou circunstâncias e uma tal situação que permitiu a um personagem medíocre e grotesco fazer figura de herói” – Karl Marx, op. citada). Mas esqueceu-se de ler a frase com que o mesmo Marx abre esse seu texto sobre Luís Bonaparte: “Hegel faz notar algures que todos os grandes acontecimentos e personagens históricos ocorrem, por assim dizer, duas vezes. Esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”.

Quanto a mim, modesto blogger de ocasião e horas vagas, pergunto-me se, sendo Garcia Leandro General do exército português e ocupando um cargo de nomeação não partidária e teoricamente independente na organização estatal enquanto responsável pelo Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo, lhe deve ser permitido criticar livre e publicamente o regime do modo e nos termos em que o fez. A Oscar Carmona foi-lhe retirado o comando da 4ª Divisão; mesmo assim todos conhecemos o resto da história. Mas essa foi a vez da tragédia, pois claro...

The Classic Era of American Pulp Magazines (44)

Capa de Rudolph Belarski para "Mark of Death", história de George A. McDonald editada pela Thrilling Detective (Setembro de 1935)

terça-feira, fevereiro 05, 2008

Portrait of a Marriage (17)

"Portrait of a Marriage" de Stephen Whittaker (1990). 3ª parte. Clip nº5

História(s) da Música Popular (75)


The Shangri-Las - "Leader of the Pack" (Barry-Greenwich-Morton)

Ellie Greenwich - "You Don't Know" (Barry-Greenwich-Morton)
The Brill Building (XXIV)
Ora vamos lá ao último post sobre Barry e Greenwich, já que não valerá a pena repetir Ike & Tina Turner e o seu “River Deep, Mountain High” já aqui passado para assinalar a morte de Ike Turner. Pois o penúltimo sucesso da dupla no Brill Building - o último foi “River Deep, Mountain High” – foi “Leader of the Pack”, para as Shangri-Las, um grupo de Queens, NY, conhecido pelo seu “mau feitio” e diversas histórias e lendas sobre o seu comportamento “duro”. Escrito em colaboração George “Shadow” Morton e editado pela Red Bird Records, o tema, que pode ser incluído na categoria de “death songs” tal como “Tell Laura I Love Her”, também de Jeff Barry, chegou a #1 em 1964. Foi o maior sucesso das Shangri-Las, depois destas já terem alcançado alguma notoriedade com “(Remember) Walking in the Sand”.

Mesmo para terminar, e como curiosidade, outro dos temas de Barry e Greenwich escrito em parceria com George Morton e interpretado por Ellie Greenwich herself: “You Don’t Know” de 1965.

Uma "história de caserna" a propósito de Telmo Correia

Quando estive na “tropa” (há muito, muito tempo), para aí de dez em dez dias, mais ou menos, tinha de prestar serviço de “oficial de dia” ou de “oficial de prevenção”. A “coisa” já por si era bem “chata” pois obrigava a passar a noite no quartel, de pistola à cinta, a provar do “rancho” da soldadesca e a fazer a ronda das sentinelas, aí para as três da manhã chovesse ou fizesse um frio de rachar, para ver se as encontrava “despertas e vigilantes”, prontas a repelir qualquer ataque dos gatos vadios das vizinhanças ou de uma ou outra “pikena” mais ousada com a noite ainda por fazer. Mas pior do que tudo isso – pelo menos para esta história dá jeito que assim seja – era ter de assinar as dispensas de recolher das “praças” (era assim que eram denominados os soldados e cabos no léxico oficial da instituição castrense), o que, como estávamos paredes meias com Lisboa e as solicitações eram muitas, correspondia, em dias “fracos” a umas quinhentas assinaturas, subindo este número quando os bolsos dos “nossos” garbosos militares se achavam mais recheados. Como devem calcular, não dava mesmo jeito nenhum, exigindo um esforço físico concentrado na mão e pulsos direitos muito acima do esforço exigido aos ditos soldados nessas saídas nocturnas, quer elas fossem para ir visitar namoradas ou jogar animadas partidas de matraquilhos.

Mas como nestas situações surge sempre uma ideia salvadora, um desses velhos sargentos para quem a tropa é o mundo e o mundo se reduz à tropa, rapidamente sugeriu mandasse fazer um carimbo, que ele, sargento, se encarregaria de o guardar no cofre da secretaria fora das “vistas e alcance do inimigo”, isto é, ao abrigo de qualquer uso indevido por militar mais “trafulha”. Mais ainda, além do carimbo exigir um esforço menor do que uma assinatura, com posto e tudo – fulano de tal, alferes miliciano de infantaria dá uma trabalheira dos diabos – o “sargento da guarda” ou o “sargento de dia” sempre me poderiam dar uma ajuda - perante a minha supervisão, claro. Depois disso, lá voltaria o abençoado carimbo para o cofre, até que de novo as ditas dispensas o chamassem à sua nobre função.

Pois lembrei-me desta história de caserna a propósito de Telmo Correia e dos seus trezentos e tal despachos, que bem o devem ter deixado exausto! Um carimbo, meu caro Telmo, um carimbo! Sim, eu sei que em época de tecnologias digitais isso já deve ter caído em desuso, e possivelmente a uma hora tão tardia não estaria lá no Ministério um contínuo para lhe dar tal sugestão, mas, se algum dia voltar a ser ministro dos despachos ou tiver que enfrentar situação semelhante, aqui fica, para já, o meu conselho. Vai ver que resulta, e até pode pedir a um dos seus assessores ou secretários de estado que lhe dê uma ajuda lá nas carimbadelas! Quem é amigo, quem é?

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

"Arte popular" no "Estado Novo" (10)

Capa de Manuel Ribeiro de Pavia para a revista "Panorama" do SNI (1946)

Novamente Moita Flores e o caso McCann

No “Causa Nossa”, Ana Gomes interroga-se, e bem, se face ás últimas declarações do Director Nacional da PJ sobre o caso McCann e o impasse a que aparentemente a investigação chegou Moita Flores continuaria a ser convidado pela SIC para comentar este e outros casos de justiça. Há, no entanto, que ir um pouco mais longe, já que o caso Moita Flores apresenta algumas especificidades que bem o individualizam face a outros comentaristas e outras estações de televisão onde o desvario também andou tanto ou mais à rédea solta, tendo mesmo chegado a ser invocada a alegada condição de “swingers” dos McCann para tentar provar sabe-se lá o quê.

O problema fundamental com Moita Flores é que não sabemos bem se, ao ser convidado para comentar esse tipo de casos, a SIC o está a fazer em função da sua expertise na matéria ou, em última análise, apenas para promover uma das estrelas da estação e os programas de que é autor, comportando-se Moita Flores, nos seus comentários, fundamentalmente em função desse mesmo objectivo. Mais ainda, se o “pacote promocional” não incluirá também o autarca Moita Flores, presidente da Câmara Municipal de Santarém à qual concorreu pelo partido do qual Francisco Pinto Balsemão – e apesar da reconhecida independência deste - é militante número um.

Uma “confusão”, não é?

Portrait of a Marriage (16)

"Portrait of a Marriage" de Stephen Whittaker (1990). 3ª parte, clip nº4

domingo, fevereiro 03, 2008

D. Manuel II e Gaby Deslys - ou como nunca é tarde para aprender




Marie-Elise Gabrielle Caire (aka Gaby Deslys). (1881 - 1920)

Como o fim de semana é dado a estas curiosidades magazinescas e muito se tem falado da monarquia e do casamento Sarkozy/Bruni nestes últimos dias – e também como, parafraseando José Pacheco Pereira, nunca é tarde para aprender – esta é Gaby Deslys, actriz e bailarina que foi amante de D. Manuel II, relacionamento começado em 1909 ainda este era rei de Portugal, solteiro e outros dirão se bom rapaz. Para quem não sabe, D. Manuel foi casado de 1913 até à sua morte em 1932 com Augusta Vitória Hohenzollern-Sigmaringen, sua prima em 2º grau e ela própria familiar de Estefânia Hohenzollern-Sigmaringen, mulher de D. Pedro V, tio avô de D. Manuel II. O relacionamento entre rei e bailarina chegou a causar algum escândalo, talvez não por ele, pela razão de existir o que era bem comum na época (vidé Eduardo VIII e Alice Keppel), mas pelos presentes extravagantes que um rei em dificuldades para manter o trono e depois exilado lhe terá oferecido, entre os quais se conta, ao que dizem e não sei se será apenas propaganda republicana, um colar de pérolas então avaliado em US$ 70 000. Gaby era considerada na época um fenómeno mediático e uma das mulheres europeias mais elegantes, tendo vivido rodeada de alguns mistérios e escândalos (durante algum tempo existiram dúvidas quanto às suas origens) e feito uma considerável fortuna, claro. Morreu em 1920, em Paris, vitimada pela epidemia de gripe espanhola e deixou a sua fortuna aos pobres de Marselha e a sua casa na Corniche (Côte d’Azur) a uma instituição de caridade.

sábado, fevereiro 02, 2008

Sarkozy s'est marié

Houve tempos ("there was a time") em que príncipes (normalmente de principados perdidos) e playboys de segunda ou sabe-se lá de que escolha, latinos ou não quanto baste, protegidos de ditadores, gentlemen drivers de ocasião, casavam ou mantinham affaires, quando não apenas de cama, de diamantes e pérolas, com artistas de cinema e coristas, pin ups e aspirantes a divas, caça fortunas de ocasião. Parece que a moda passou para presidentes eleitos, mas também agora as coristas, travestidas de “modelos”, passaram a ter algum pedigree.

Não sei muito bem – ainda - o que isto quer dizer, e o fim de semana não é lá muito propício a elucubrações filosóficas. Mas há algo aqui de que não gosto, que me cheira a pechisbeque de ocasião, a demasiada futilidade assumida, muito Dom Perignon borbulhante por quem assumiu o lugar por uma escolha, nossa, e não por sucessão de uma qualquer dinastia, ou designação caudilhista. Por quem governa a França e não uma qualquer Bordúria ignota, representa um pouco da Europa e não uma qualquer San Théodorus.

Pois, há algo aqui que me escapa... e não será certamente o amor.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

O regicídio 100 anos depois

Hoje, o mais feroz radicalismo republicano e jacobino e o tradicionalmente trauliteiro reaccionarismo monárquico, acolitados por um representante da família real que o bom gosto aconselharia a não abrir a boca em público, coligaram-se para impedir que o país prestasse homenagem a um homem que, como rei constitucional, teve defeitos e virtudes, pessoais e políticas, mas era seguramente muito mais interessante, moderno, culto e preparado (e até talvez liberal) do que a maioria dos que, a favor ou contra, hoje se manifestaram na Assembleia da República ou fora dela. A ironia, ou a tragédia, é que foi isto mesmo que há 100 anos o matou. O espectáculo de hoje, esse, foi simplesmente lamentável.

Série "B" (12)

"I Was a Teenage Werewolf" de Gene Fowler Jr. (1957)

Portrait of a Marriage (15)

"Portrait of a Marriage" de Stephen Whittaker (1990). 3ª parte, clip nº 3

Eu o Serviço Nacional de Saúde

Nos últimos anos tive de recorrer algumas vezes ao Serviço Nacional de Saúde (que defendo) e devo dizer sem grandes motivos para reparo, se considerarmos que uma ou duas horas de espera não ultrapassa o razoável (esperava bem mais no consultório do pediatra particular quando os meus filhos eram crianças e pagava a consulta ao preço do caviar beluga) e o facto de um médico me ter proposto continuação de tratamento através do seu consultório particular (já não se pode usar gravata e ter um bom relógio sem se dar ar de rico!), apesar de desagradável, não é susceptível de generalização. Aliás, até já pensei mandar publicar no jornal um daqueles anúncios a dizer que agradeço, aos Drs, tais e tais a graça concedida, desculpem, o tratamento recebido. Acresce, pelo que vejo e oiço, devo ser, entre os portugueses, o único que não se queixa das “bestas negras” preferenciais dos ditos: a TAP (já fui passageiro frequente com direito a muitas milhas e tudo) e o SNS, pois claro. Como costumo dizer aos meus amigos que gostam de Mahler, compositor que não é dos meus favoritos, provavelmente eles têm razão e o defeito deve ser meu.

Mais ainda, em duas vezes que tive de recorrer à urgência hospitalar, por motivo de problemas oftálmicos de alguma gravidade (“rasgaduras” de retina), fui pronta e eficazmente assistido, tendo mesmo, na vez em que a intervenção a “laser” só poderia ser feita no dia seguinte, de prometer e jurar, por alma dos antepassados, que vinha para casa e ficava mudo e quedo, qual urso em hibernação. Isto para não ser obrigado a ficar uma noite internado, coisa que não estava propriamente nos meus planos imediatos e projectos para o futuro.

Bom, mas, pensando bem há algo que poderia ser evitado, se calhar com alguma facilidade, embora as hipóteses de sucesso se me pareçam revelar escassas. É que, quando vou ao Centro de Saúde aqui da área para obter as chamadas “credenciais” para análises de rotina (o que, para mim, é raridade e nada mesmo rotina), enquanto espero, não tenho nada que ficar a conhecer a vida profissional, familiar, pessoal e sexual das simpáticas senhoras da recepção, suas famílias gatos e periquitos, discutida ali mesmo, em voz suficientemente alta para que todos as oiçam. Ah, e já agora – pedir custa, mas assim por escrito custa menos - será possível que não falem com os utentes, novos e velhos, como se fôssemos todos octogenários, moucos e iletrados? Como dizia o Raúl Solnado nas suas conversas ao telefone: “agradecido”. Se o fizerem, se a minha prece” for bem sucedida, então é que talvez chegue mesmo a minha altura de mandar pôr um anúncio no jornal!