Porventura revelador do espírito que prolifera no sector da educação foi o protesto de um professor de Vila Real, presente no “Prós & Contras” da passada 2ª feira, pelo facto de não lhe ser concedida dispensa das aulas em virtude de estar presente naquele dia no programa, tendo assim de regressar nessa mesma noite a Vila Real para “dar uma aula” às oito e meia da manhã, como se a sua entidade patronal (a escola e o ministério) o devesse fazer não estando ele em sua representação. Não quero com isto dizer que o dito professor estivesse a ser propositadamente desonesto ou conscientemente a tentar tirar vantagem da situação, muito menos que não achasse tal reivindicação justa no seu julgamento e nos valores pelos quais se rege, mas o problema é exactamente esse: existe uma cultura implementada no sector da educação, um way of doing the things resultado de dezenas de anos de aplicação de um modelo de gestão burocrático e laxista, que tornou dominante uma filosofia de vida (digamos assim) que tende a impregnar tudo e todos, independentemente de personalidades e valores de origem de cada um. Um pouco como se forma nas empresas uma cultura própria, uma filosofia de vida muitas vezes inspirada no pensamento dos seus fundadores e que foi a razão do seu sucesso, mantendo-se inalterável ao longo de anos e de gerações de gestores e trabalhadores (e até mesmo de accionistas).
O problema fundamental é que independentemente da razão que assiste a Maria de Lurdes Rodrigues e que assistia a Correia de Campos, de um modo genérico já reconhecida pela generalidade de comentadores e analistas fora do âmbito restrito da esquerda comunista e bloquista, o mundo não é só feito de justiça e de razão, infelizmente, e a política reformista de ambos os ministérios acabou por colocar o governo na defensiva, qual boxeur encostado no seu canto tentando resistir ao KO e espreitando a oportunidade de contra-atacar enquanto o adversário marca pontos. Se o governo se mantiver nessa defensiva, mesmo que vá ensaiando uns tímidos contra-golpes nas áreas sociais e outras, que, por muito meritórios que sejam – e alguns serão, nada mudam ao combate essencial, dificilmente deixará o seu canto e o adversário lá conseguirá, mais cedo ou mais tarde, alcançar o KO desejado, ou irá marcando os seus pontos até á vitória final. Só tem pois uma alternativa: jogar com inteligência e, aproveitando qualquer momento de fraqueza ou desconcentração adversária, passar rápida e corajosamente ao contra-ataque. Tendo, também, algo mais em atenção: se, como vejo escrito por aí, as reformas não se podem fazer sem os professores, com a maioria destes professores, incapazes de compreenderem que existe mundo para além da viciada cultura que moldou o seu comportamento profissional e filosofia de vida, também por certo se não farão. Pelo menos, por sua livre iniciativa e genuína vontade de cooperação.
Eu sou o Gato Maltês, um toque de Espanha e algo de francês. Nascido em Portugal e adoptado inglês.
quinta-feira, fevereiro 28, 2008
Ainda os professores e o governo
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