Alfredo Rodrigo Duarte ("Marceneiro") - "Amor É Água que Corre" (Augusto de Sousa - Alfredo Duarte). 1961
A 25 de Fevereiro de 1891, reinava em Portugal o Sr. D. Carlos, nasceu na Freguesia de Stª Isabel, num troço da Travessa de Stª Quitéria já desaparecido, Alfredo Rodrigo Duarte, filho de um sapateiro e de uma doméstica e que passou à História com o cognome de “Marceneiro”, a sua profissão. Há mesmo quem diga que a data exacta do seu nascimento seria 29 (também com o fado, assim como com os grandes nomes dos “blues”, estas coisas do nascimento comportam sempre algum mistério e sempre os grandes intérpretes ficam conhecidos pelas alcunhas que assumem), mas como isto de fazer anos a uma data bissexta é um pouco complicado e o seu pai teria nascido a 25, lá foi registado com esta data.
Para mim, modesto blogger de ocasião e horas vagas, será, a par de José Afonso, o maior nome da música popular portuguesa do século XX e, tal como Afonso, exemplo de uma obra musical e de uma vida sem concessões, sinónimo de uma rara e nem sempre compreendida coerência. Também, á sua maneira, uma prima dona, como, de outro modo, José Afonso também o era, ouso dizê-lo. Talvez o último dos fadistas, na verdadeira acepção do termo. Curiosamente, num tempo em que talvez se vá dando ao fado o lugar que ele bem merece como única forma de expressão musical popular urbana em Portugal (resta saber o que se entende hoje em dia por “fado”, já que as formas de vida e a cultura popular que lhe deram origem e o mantiveram estão em vias de extinção), estará talvez um pouco esquecido, entregue ao culto dos “puristas”, preço pago por essa coerência e fidelidade a si mesmo e às origens fadistas.
Para mim, modesto blogger de ocasião e horas vagas, será, a par de José Afonso, o maior nome da música popular portuguesa do século XX e, tal como Afonso, exemplo de uma obra musical e de uma vida sem concessões, sinónimo de uma rara e nem sempre compreendida coerência. Também, á sua maneira, uma prima dona, como, de outro modo, José Afonso também o era, ouso dizê-lo. Talvez o último dos fadistas, na verdadeira acepção do termo. Curiosamente, num tempo em que talvez se vá dando ao fado o lugar que ele bem merece como única forma de expressão musical popular urbana em Portugal (resta saber o que se entende hoje em dia por “fado”, já que as formas de vida e a cultura popular que lhe deram origem e o mantiveram estão em vias de extinção), estará talvez um pouco esquecido, entregue ao culto dos “puristas”, preço pago por essa coerência e fidelidade a si mesmo e às origens fadistas.
Mas quase sempre o fado foi esquecido e combatido: por monárquicos, enquanto expressão musical de republicanos (ainda recentemente, na série de televisão “O Dia do Regicídio” dois fadistas cantavam ao desafio, numa taberna, um fado anti-monárquico e “subversivo”); por republicanos, por afastar os operários e o povo da “educação” e arrastá-los para o vinho e para a “má vida”, para os prostíbulos; por ambos, enquanto expressão de luta operária ligada ao anarco-sindicalismo. Pela esquerda, por ser considerada música oficial da ditadura de Salazar; pelos comunistas, pela sua marginalidade e individualismo, que afastava os operários da “luta colectiva”; pelas elites, por ser música de putas e marginais, mas também pela sua pobreza musical e poética, como se o ""blues, por exemplo, que esteve na base da maior revolução da música popular do século XX – o "rock and roll" - fosse musical e literariamente elaborado, como se fosse essa a essência da música popular. Foi, claro, tolerado pela ditadura, depois de expurgado de algumas das suas formas mais extremas, mas, curiosamente, acabaria por ser o fado, levado para Coimbra pelos estudantes e adaptado às suas vivências e maior erudição literária e musical, que acabaria por estar na origem da grande renovação da música portuguesa, ao mesmo tempo que assumia um lugar de destaque no combate à ditadura, com José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Carlos Paredes e outros.
Alfredo Rodrigo Duarte ("Marceneiro" de profissão e nome fadista) faria hoje 117 anos. Aqui fica a lembrança.
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