Quando estive na “tropa” (há muito, muito tempo), para aí de dez em dez dias, mais ou menos, tinha de prestar serviço de “oficial de dia” ou de “oficial de prevenção”. A “coisa” já por si era bem “chata” pois obrigava a passar a noite no quartel, de pistola à cinta, a provar do “rancho” da soldadesca e a fazer a ronda das sentinelas, aí para as três da manhã chovesse ou fizesse um frio de rachar, para ver se as encontrava “despertas e vigilantes”, prontas a repelir qualquer ataque dos gatos vadios das vizinhanças ou de uma ou outra “pikena” mais ousada com a noite ainda por fazer. Mas pior do que tudo isso – pelo menos para esta história dá jeito que assim seja – era ter de assinar as dispensas de recolher das “praças” (era assim que eram denominados os soldados e cabos no léxico oficial da instituição castrense), o que, como estávamos paredes meias com Lisboa e as solicitações eram muitas, correspondia, em dias “fracos” a umas quinhentas assinaturas, subindo este número quando os bolsos dos “nossos” garbosos militares se achavam mais recheados. Como devem calcular, não dava mesmo jeito nenhum, exigindo um esforço físico concentrado na mão e pulsos direitos muito acima do esforço exigido aos ditos soldados nessas saídas nocturnas, quer elas fossem para ir visitar namoradas ou jogar animadas partidas de matraquilhos.
Mas como nestas situações surge sempre uma ideia salvadora, um desses velhos sargentos para quem a tropa é o mundo e o mundo se reduz à tropa, rapidamente sugeriu mandasse fazer um carimbo, que ele, sargento, se encarregaria de o guardar no cofre da secretaria fora das “vistas e alcance do inimigo”, isto é, ao abrigo de qualquer uso indevido por militar mais “trafulha”. Mais ainda, além do carimbo exigir um esforço menor do que uma assinatura, com posto e tudo – fulano de tal, alferes miliciano de infantaria dá uma trabalheira dos diabos – o “sargento da guarda” ou o “sargento de dia” sempre me poderiam dar uma ajuda - perante a minha supervisão, claro. Depois disso, lá voltaria o abençoado carimbo para o cofre, até que de novo as ditas dispensas o chamassem à sua nobre função.
Pois lembrei-me desta história de caserna a propósito de Telmo Correia e dos seus trezentos e tal despachos, que bem o devem ter deixado exausto! Um carimbo, meu caro Telmo, um carimbo! Sim, eu sei que em época de tecnologias digitais isso já deve ter caído em desuso, e possivelmente a uma hora tão tardia não estaria lá no Ministério um contínuo para lhe dar tal sugestão, mas, se algum dia voltar a ser ministro dos despachos ou tiver que enfrentar situação semelhante, aqui fica, para já, o meu conselho. Vai ver que resulta, e até pode pedir a um dos seus assessores ou secretários de estado que lhe dê uma ajuda lá nas carimbadelas! Quem é amigo, quem é?
Mas como nestas situações surge sempre uma ideia salvadora, um desses velhos sargentos para quem a tropa é o mundo e o mundo se reduz à tropa, rapidamente sugeriu mandasse fazer um carimbo, que ele, sargento, se encarregaria de o guardar no cofre da secretaria fora das “vistas e alcance do inimigo”, isto é, ao abrigo de qualquer uso indevido por militar mais “trafulha”. Mais ainda, além do carimbo exigir um esforço menor do que uma assinatura, com posto e tudo – fulano de tal, alferes miliciano de infantaria dá uma trabalheira dos diabos – o “sargento da guarda” ou o “sargento de dia” sempre me poderiam dar uma ajuda - perante a minha supervisão, claro. Depois disso, lá voltaria o abençoado carimbo para o cofre, até que de novo as ditas dispensas o chamassem à sua nobre função.
Pois lembrei-me desta história de caserna a propósito de Telmo Correia e dos seus trezentos e tal despachos, que bem o devem ter deixado exausto! Um carimbo, meu caro Telmo, um carimbo! Sim, eu sei que em época de tecnologias digitais isso já deve ter caído em desuso, e possivelmente a uma hora tão tardia não estaria lá no Ministério um contínuo para lhe dar tal sugestão, mas, se algum dia voltar a ser ministro dos despachos ou tiver que enfrentar situação semelhante, aqui fica, para já, o meu conselho. Vai ver que resulta, e até pode pedir a um dos seus assessores ou secretários de estado que lhe dê uma ajuda lá nas carimbadelas! Quem é amigo, quem é?
2 comentários:
Ah! Ah! Ah! Também tive o meu célebre carimbo (ainda o guardo por aí - Alf. Mil.). Que jeitão dava!
Mas, ao contrário do meu amigo, eu deliciava-me a fazer de "oficial de dia". No RI 14, em Viseu, na altura da "maioria silenciosa", eu fazia a tal ronda ás 3 e tal da manhã (com um gelo do caraças) e gamava as G-3 todas dos sentinelas que estavam a dormir.
Era vê-los ao raiar do dia, borrados de medo no gabinete do oficial do dia a dizer que tinham sido assaltados e que devia estar outra Revolução em marcha...
LT
Caro Ié-Ié:
Fartei-me de rir. Felizmente todos temos destas histórias divertidas da tropa. Com algumas delas, ainda hoje faço rir alguns amigos que por lá não passaram. Para sua informação, a minha história passa-se no BRT - Trafaria.
Abraço
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