Capa para a revista "Almanaque" (Maio de 1960)
Eu sou o Gato Maltês, um toque de Espanha e algo de francês. Nascido em Portugal e adoptado inglês.
terça-feira, abril 30, 2013
Siameses
Há uma coisa que PSD e PS parecem ainda não ter percebido: as "trapalhadas", os "escândalos" e as situações pouco claras em que cada um dos partidos se envolve acabam sempre por atingir o outro e, sendo ambos partidos estruturais da democracia, vão minando o próprio regime. Será assim tão difícil os seus dirigentes entenderem isto ou também preferem que lhes faça um desenho?
Os adeptos do Sporting e o CS Marítimo - SLB
Sendo o CS Marítimo adversário directo do SCP na luta por um lugar na Liga Europa, e por isso mesmo sendo conveniente para este último a vitória do SLB na Madeira, não encontrei um único adepto do SCP que não desejasse fosse o SLB a perder pontos nesse jogo. Ok, já sei me vão dizer que o SLB é o grande rival do clube de Alvalade e, sendo assim, estrategicamente seria desejável a sua derrota no campeonato, evitando o seu fortalecimento enquanto velho rival. Vistas curtas e insistência nos erros que trouxeram o clube à beira da extinção: não tendo qualquer hipótese de competir com SLB e FCP nos próximos anos, o objectivo estratégico do SCP é conseguir estancar ou reverter a actual situação financeira do clube e recuperar algum do valor não tangível e élan perdidos, sendo que, por ambos os motivos, a participação na Liga Europa, até pela visibilidade que permite dar a alguns talentos emergentes, seria de extrema importância. Mas o futebol, antes de negócio e indústria, é terreno de domínio das emoções. Que fazem o seu encanto, mas também, quando se sobrepõem a tudo o resto, se costumam pagar caro.
segunda-feira, abril 29, 2013
domingo, abril 28, 2013
Seguro e as eleições
Se existe uma linha de continuidade no guião político de António José Seguro ela é a tentativa de chegar ao poder o mais cedo possível, mesmo que para tal tenha de seguir uma política ziguezagueante e dar primado ao tacticismo. Primeiro, foi a tentativa de o fazer, mesmo que por interposto "governo de iniciativa presidencial", colando-se a Cavaco Silva. Depois, um pedido de eleições antecipadas sem que se vislumbrasse estarem reunidas condições para a queda do governo. Agora, no congresso, um terceiro ou quarto remake" dos Estados Gerais, um pedido extemporâneo de maioria absoluta e uma ideia de futura coligação governamental sem que existam indicações consistentes de que a actual legislatura possa não chegar ao fim. No fundo, percebe-se esta permanente fuga para a frente de Seguro: sabe é um líder fraco (o que, aliás, é bem visível na sua cedência aos sindicatos eleitorais locais na nomeação dos candidatos do partido às próximas eleições autárquicas) e, por isso, quanto mais tarde forem as próximas eleições menos probabilidades terá vir a ser primeiro-ministro.
Matiné de Domingo (24)
"One of Our Aircraft is Missing", de Michael Powell & Emeric Pressburger (1942)
Filme completo c/ legendas em português
O Congresso do PS
Desde que os lideres dos partidos passaram a ser eleitos em "directas" e os canais de "notícias" se tornaram dominantes no espaço informativo que os congressos dos partidos se transformaram em grandes encenações mediáticas; gigantescos tempos de antena destinados a preencher, com a ajuda dos comentadores de serviço, que se vão revezando, e dos "directos" a propósito de coisa nenhuma, o abundante espaço e tempo disponíveis nesses canais de televisão. No caso do congresso do PS, falta ainda ouvir o discurso final de Seguro, mas até agora bem pode dizer-se nada de interessante, muito menos de novo, se passou. E conhecendo-se António José Seguro e o modo como o congresso tem funcionado, alguém está ainda à espera de qualquer novidade digna de registo?
sábado, abril 27, 2013
sexta-feira, abril 26, 2013
Friday midnight movie (39) - Jess Franco (II)
"El Conde Dracula" (aka "Count Dracula", "Nachts wenn Dracula erwach" ou "Les Nuits de Dracula"), de Jesus ("Jess") Franco - 1970
Filme completo - versão inglesa com legendas em francês
Ora pensem lá nisto...
Agora coloquem lá agora a hipótese de Cavaco Silva não passar de um político medíocre; um académico e tecnocrata não especialmente dotado de inteligência e cultura políticas, até de "jeito" para a profissão, tornado primeiro-ministro e Presidente da República por via de circunstâncias políticas e económicas muito excepcionais e que ajudaram a criar o mito. Pensem lá bem nisto e vejam se o mundo, durante a história da humanidade, não está cheio destes exemplos.
SLB: prioridades e plantel
Não se pode pretender ganhar campeonato, Liga Europa e Taça de Portugal tendo apenas duas opções consistentes para o meio-campo (Matic e Perez). Aimar já não conta. André Gomes dificilmente alguma vez irá contar. Martins será sempre de consistência duvidosa e André Almeida é hoje em dia mais lateral (atenção, Paulo Bento). Se no campeonato a liderança fosse já mais destacada (seis ou sete pontos à maior), o caso talvez mudasse de figura e Jorge Jesus pudesse também "rodar" mais jogadores nestes confrontos internos. Mas o objectivo essencial é e será sempre, não "este" campeonato, mas "o" campeonato, pois é ser campeão, em cada ano, que permitirá ao SLB assumir a tão necessária e desejada hegemonia no futebol português, retirando-a ao FCP e alcançando assim o seu objectivo estratégico. O resto, mais tarde ou mais cedo, virá por acréscimo, o que não significa estas meias-finais da Liga Europa estejam já fechadas.
Nota: quem, como David Borges, acha que com este plantel e nas circunstâncias actuais o SLB pode candidatar-se a ganhar tudo, não estabelecendo prioridades e não rodando jogadores em função delas, pode até dizer-se benfiquista, mas ou é burro ou está de má fé.
quinta-feira, abril 25, 2013
O Fenerbahçe - SLB e a intensidade de jogo
Tivemos esta semana dois bons exemplos de como a intensidade de jogo, o ritmo, a agressividade e a capacidade de explosão são fundamentais no futebol moderno. Refiro-me, claro está, ao Bayern e ao Borussia Dortmund. Hoje, sem Enzo Perez e com as opções Aimar e André Gomes (o primeiro já não tem vida para estas coisas e o segundo penso nunca terá), o SLB perdeu essa intensidade, rapidez nas transições e agressividade ofensiva que o caracterizam e fazem quase sempre a diferença. Por isso, perdeu o jogo e vai ter que fazer muito para não perder a eliminatória. Mas desde que ganhe na Madeira...
O PS já percebeu ou é preciso fazer um desenho?
O discurso de hoje de Cavaco Silva foi, de facto, a todos os títulos lamentável. Nesse aspecto, nada a acrescentar ao que já se disse. Mas temos de concluir foi coerente com o perfil pessoal e político do actual Presidente da República e sublinhou uma linha de continuidade assumida ao longo dos seus dois mandatos. Mas triste e revelador de menoridade política e de tacticismo inconsequente foi também verificar - e isto tem de ser dito - ter um partido com as responsabilidades do PS precisado de tantos anos (basicamente, desde a "conspiração das escutas") e de um sem número de atitudes de Cavaco Silva para perceber que este seria sempre um seu adversário político e que nunca poderia contar com o apoio ou neutralidade do actual Presidente para se manter ou chegar ao poder. Será que finalmente se convenceu ou é preciso fazer um desenho?
Já agora: o que falta para convencer o país a pôr cobro de vez a este disfuncional regime semi-presidencialista e a optar finalmente pela clareza e maioridade do parlamentarismo?
quarta-feira, abril 24, 2013
Mário Soares, Abril e as comemorações
- Confesso que me custa contrariar Mário Soares, mas não posso deixar de dizer que, no essencial, os valores da Revolução (Democratizar, Desenvolver e Descolonizar) estão cumpridos, embora a democracia seja, por definição (e ainda bem), um sistema imperfeito e o desenvolvimento um objectivo evolutivo. Quando muito, e aí estarei de acordo, posso considerar que o empobrecimento a que o actual governo e as instituições europeias nos estão a sujeitar estará sem dúvida a pôr em causa o prosseguimento do desenvolvimento e de alguns dos valores de justiça social assumidos desde o 25 de Abril. Mas tal não justifica a ausência do principal fundador do Portugal democrático da casa dessa mesma democracia quando se homenageia a data e todos os que para ela contribuíram. Ele, Mário Soares, permitam-me que o diga, à frente de todos os outros.
- Gostaria que as comemorações populares do 25 de Abril não fossem mais uma vez monopolizadas pelos símbolos e valores do PCP e da esquerda radical, mas pudessem ser assumidas e participadas por todos aqueles que se reconhecem na democracia e no Portugal moderno, civilizado, progressivo, cosmopolita e europeu. Mas este é um voto que me parece nunca verei cumprido.
Mas foi preciso esperar muitos anos depois do 25 de Abril para se recuperar e renovar o "fado jocoso"
Deolinda - "Fado Toninho"
E foi depois do 25 de Abril que se fez a melhor música "pop" em Portugal
Doce - "Amanhã de Manhã" (Tozé Brito - Mike Sergeant)
Mas também, aqui e ali, depois do 25 de Abril houve alguma boa música ligeira
Maria Guinot - "Silêncio e Tanta Gente"
E o 25 de Abril também produziu boa música revolucionária
GAC - Grupo de Acção Cultural - "Olha o Sol a Pôr"
E o "nacional-cançonetismo" também produziu alguma boa música, embora pouca
Maria de Fátima Bravo - "Vocês Sabem Lá" (Nóbrega e Sousa - Jerónimo Bragança)
Simone de Oliveira - "Sol de Inverno" (Nóbrega e Sousa - Jerónimo Bragança)
O 25 de Abril também produziu má música; digna do 24 de Abril, pois claro (reposição).
"Post" editado neste "blog" no dia 24 de Abril de 2009. Junto-lhe agora os "links" para as músicas em questão para que as possa ouvir sem que elas "conspurquem" este "blog".
"O “Gato Maltês” não transige em questões do gosto, e acha o dia 24 de Abril deveria servir também para deitar para “o caixote do lixo da História” muito do que, tal como a ditadura de Salazar e Caetano, se poderia e deveria incluir numa mesma categoria do mau gosto. Mesmo que tenha dado à luz já depois do 25 de Abril ou à sua sombra tenha progredido e feito carreira.
No caso da música portuguesa, se ao 25 de Abril e à luta contra a ditadura se deve muito do melhor que alguma vez se fez - desde a obra de José Afonso (aquele que melhor soube casar a música popular de origem urbana - o fado e a balada de Coimbra - com as recolhas rurais de Giacometti e a influência músical dos povos das colónias) até a um dificilmente classificável Sérgio Godinho (que reinventou o português como língua musical) passando por um Adriano que nos deu a conhecer Manuel Alegre e a balada coimbrã no seu melhor e um GAC que provou ser possível conciliar música de mobilização popular, inovação e qualidade musical e interpretativa (felizmente há alguns outros, mas não vale a pena ser exaustivo) -, também à sua sombra e das proclamadas boas intenções (muito infernais, como é sabido) se produziu muito do que de pior alguma vez se ouviu aqui pelo rectângulo, bem digno de enfileirar com o que de mais deprimente o denominado “nacional-cançonetismo” pré 25 de Abril alguma vez terá ousado (diga-se de passagem que o tal “nacional-cançonetismo” também logrou algumas coisas – poucas – de qualidade assinalável).
Nesse sentido, e longe de querer ser exaustivo já que não gosta o “Gato Maltês” de guardar muito lixo na memória – apenas o necessário como exemplo do que é mau e, por isso, se não deve repetir -, resolve este "blog", para comemorar o último dia de uma ditadura cheia de defeitos entre os quais se conta o do mau gosto de existir, elencar, para que se não repita, alguma da pior música que o 25 de Abril produziu, por isso mesmo digna de ser incluída no mesmo saco da defunta e sinistra ditadura e na ausência de saudades que o 24 de Abril nos deixa. Para além da má qualidade, em grande parte dos casos trata-se apenas de oportunismo feito música(?), o que ainda é bem pior.
No caso da música portuguesa, se ao 25 de Abril e à luta contra a ditadura se deve muito do melhor que alguma vez se fez - desde a obra de José Afonso (aquele que melhor soube casar a música popular de origem urbana - o fado e a balada de Coimbra - com as recolhas rurais de Giacometti e a influência músical dos povos das colónias) até a um dificilmente classificável Sérgio Godinho (que reinventou o português como língua musical) passando por um Adriano que nos deu a conhecer Manuel Alegre e a balada coimbrã no seu melhor e um GAC que provou ser possível conciliar música de mobilização popular, inovação e qualidade musical e interpretativa (felizmente há alguns outros, mas não vale a pena ser exaustivo) -, também à sua sombra e das proclamadas boas intenções (muito infernais, como é sabido) se produziu muito do que de pior alguma vez se ouviu aqui pelo rectângulo, bem digno de enfileirar com o que de mais deprimente o denominado “nacional-cançonetismo” pré 25 de Abril alguma vez terá ousado (diga-se de passagem que o tal “nacional-cançonetismo” também logrou algumas coisas – poucas – de qualidade assinalável).
Nesse sentido, e longe de querer ser exaustivo já que não gosta o “Gato Maltês” de guardar muito lixo na memória – apenas o necessário como exemplo do que é mau e, por isso, se não deve repetir -, resolve este "blog", para comemorar o último dia de uma ditadura cheia de defeitos entre os quais se conta o do mau gosto de existir, elencar, para que se não repita, alguma da pior música que o 25 de Abril produziu, por isso mesmo digna de ser incluída no mesmo saco da defunta e sinistra ditadura e na ausência de saudades que o 24 de Abril nos deixa. Para além da má qualidade, em grande parte dos casos trata-se apenas de oportunismo feito música(?), o que ainda é bem pior.
Peço desculpa de eventuais falhas, mas trata-se apenas de nomear alguns temas cujo carácter simbólico seja também evidente. Além disso, interpretando os sentimentos e intenções do “blog” e o racional que está na base desta lista, poderá também o leitor contribuir para colmatar alguns lapsos de memória deste escriba.
Nota: como é óbvio, para nos mantermos dentro dos padrões do bom gosto, não poderá ouvir aqui nenhum dos temas indicados, ao contrário do que é habitual neste “blog” que faz da música uma das suas razões de existência.
Vamos pois a isso?
Nota: como é óbvio, para nos mantermos dentro dos padrões do bom gosto, não poderá ouvir aqui nenhum dos temas indicados, ao contrário do que é habitual neste “blog” que faz da música uma das suas razões de existência.
Vamos pois a isso?
- “Força, Força Companheiro Vasco”, “Daqui O Povo Não Arranca Pé”, “A Mim não Me Enganas Tu” – Carlos Alberto Moniz e Maria do Amparo
- “A Vitória É Difícil” e “Só De Punho Erguido” (há muitas mais; aliás, quase tudo o que de lá vem) – José Jorge Letria
- “Obrigado Soldadinho” e "O Povo em Marcha" – Tonicha
- “Só O Povo Unido”, “A Valsa da Burguesia” e “Vamos Brincar À Caridadezinha” – José Barata Moura
- “Fado de Alcoentre”, “Fado Do Operário Leal” e “Tango Económico” (são apenas um exemplo; há um saco cheio delas) – Fernando Tordo
- “Dulcineia” – Manuel Freire
Confesso que me parece como (mau) exemplo chegará e, lendo a lista, chego a ficar com medo o tal mau gosto também se contagie. Acrescente o leitor alguns, se quiser..."
Adriano Correia de Oliveira e Manuel Alegre (5)
"Canção com Lágrimas" - Adriano Correia de Oliveira - Manuel Alegre (1964)
terça-feira, abril 23, 2013
Os "lances polémicos"
Jornalistas e comentadores desportivos, dirigentes e jornalistas travestidos de comentadores alinhados por um clube, adeptos e "por aí fora" estão em situação de inferioridade perante os agentes do jogo (árbitros, treinadores e jogadores) e responsáveis pela gestão dos clubes: não assistem aos treinos, não conhecem em pormenor o estado físico e anímico dos jogadores, os problemas de gestão dos clubes e a sua real situação financeira e, na sua esmagadora maioria, nem sequer possuem conhecimentos técnicos e capacidade analítica para entender esses e outros parâmetros do jogo e da indústria do desporto. Mas existe, contudo, uma única área onde estão em esmagadora superioridade perante os agentes do jogo: a capacidade para, a posteriori, com todo o tempo do mundo e com recurso a tecnologias de que esses agentes não dispõem, analisarem os chamados "lances polémicos de um jogo: "penalties", "cartões" e assunto relacionados. Exactamente por isso, por ser o único campo em que podem afirmar essa sua superioridade de meios, reduzir a análise de um jogo ou de vários jogos de futebol de uma competição a esses tais "lances polémicos", para além de empobrecedor, é também um enorme acto de cobardia.
segunda-feira, abril 22, 2013
Da participação dos "não-militantes"
Percebo que se queiram incluir simpatizantes e/ou votantes de um partido, cidadãos que se reconhecendo em termos gerais na ideologia e linha política desse partido não se sintam vocacionados ou atraídos para a responsabilidade da militância e disciplina partidárias, na escolha do respectivo líder. No fundo, sejam chamados a participar naquelas que são verdadeiras primárias do candidato, de facto, a primeiro-ministro. Digamos que, à partida, admito tal possa ser mobilizador, ajude a aproximar muitos cidadãos da discussão política e contribua para para maior abertura dos aparelhos partidários à sociedade. No entanto, há que ter em conta não existir em Portugal e na Europa, tanto quanto sei (até porque na grande maioria dos casos estamos na presença de democracias parlamentares - que elegem deputados - e não de regimes presidencialistas), qualquer tradição nesse sentido, ao contrário do que acontece, por exemplo, nos USA, de onde a ideia parece ter sido importada. É exactamente por isso que, embora compreenda as razões que estão na base da proposta, acho se devem recomendar "cautelas e caldos de galinha", não se entrando demasiado de rompante e à força em experimentalismos sem se ter uma ideia mais precisa, ou pelo menos aproximada, das respectivas vantagens e inconvenientes. É que não basta parecer "modernaço" para ser efectivamente moderno, e o mundo está cheio de ideias bem intencionadas, aparentemente inovadoras, que, na prática, acabam por ter efeito contrário ao pretendido ou, pura e simplesmente, servem apenas para consumir recursos sem resultados correspondentes, o que de si mesmo já é negativo e acaba por contribuir para o desalento de quem as propôs e o recuo de quaisquer futuras ideias inovadoras.
Já quanto a não-militantes poderem ser eleitos para cargos dirigentes, confesso não perceber qual a vantagem. Se alguém, mais ou menos identificado com a ideologia e orientação politicas de um partido, decide não o integrar, parece-me fá-lo-á por não querer sujeitar-se aos direitos e deveres correspondentes, sendo nesse caso mais lógico definir uma quota de não-militantes que, em condições a definir, possa participar em certas reuniões dos orgãos dirigentes com a categoria de "observadores" e com intervenção limitada. Este poderá ser, se bem conseguido, um modo, não só de cativar novos militantes, como de responsabilizar os dirigentes integrantes desses orgãos, nas suas intervenções, perante um universo mais vasto do que apenas o constituído pelos seus pares. Veremos como tudo isto evolui, mas espero, pelo menos, à ideia não presida qualquer oportunismo partidário ou visão de curto-prazo. Seria desastroso.
"As Tears Go By" e Andrew Loog Oldham* (3/3)
P. P. Arnold - "As Tears Go By" (Jagger-Richards)
Também com produção de *Andrew Loog Oldham, P. P. Arnold gravou a sua versão do tema em 1968, para a Immediate, em "single", como "B" side de "Angel Of The Morning", e incluído no seu primeiro álbum, "Kafunta"
"O Sporting joga e o Benfica marca"
Depois do jogo de ontem, e a propósito do SCP, dei comigo a pensar na selecção e nas equipas portuguesas dos anos 70 do século passado, talvez a pior década dos tempos modernos do futebol português. Ou, se quisermos recuar aos tempos da geração anterior à minha, e pelos relatos que ouvi a pai e tios, a época da "selecção ataca e a Espanha marca". Também nesses tempos, já longínquos, a selecção portuguesa e as equipas de clube faziam "grandes exibições" contra equipas consideradas mais fortes, causavam-lhes sérias dificuldades, dizia-se que a qualidade o o "perfume" (era este o termo) do seu futebol "encantavam" e depois... a equipa contrária, com maior intensidade, ritmo de jogo mais elevado e jogadores de muito maior categoria, dava duas ou três "sapatadas" no jogo e acabava por ganhar. Era o tempo das chamadas "vitórias morais" e, nos anos 70 (destas duas épocas, a que já vivi), dizia-se que faltavam trinta metros ao futebol português, uma frase que condensa em si toda uma assumpção de inferioridade.
Ontem, no Estádio da Luz, aconteceu algo de parecido. O SCP, dirigido por um treinador experiente e que conhece bem a ideia e princípios de jogo do SLB, causou, de facto, sérias dificuldades à equipa mais forte (existiam 34 pontos de diferença), preparou muito bem jogo, até surpreendeu pela positiva e deve ter tido mesmo mais tempo de "posse de bola" (mas atenção: o SLB não é uma equipa de "posse"), mas quando o SLB deu as tais "sapatadas" no jogo, valeu a categoria dos seus jogadores e a diferença no ritmo e intensidade de jogo, principalmente no último terço do campo. Por isso, assistimos a qualquer coisa no género de "o Sporting joga e o Benfica marca". E peço muita desculpa a quem tem opinião contrária, mas quem não percebe isto deve rapidamente rever os seus conceitos sobre futebol.
domingo, abril 21, 2013
SLB - SCP
Confesso que o SCP me surpreendeu pela positiva. Esperava uma equipa em "bloco" baixo (o normal "autocarro") e, pelo contrário, vi um SCP a jogar e pressionar em todo o campo, dificultando muito as saídas a jogar de um SLB que, por isso, perdeu muitas bolas e se viu obrigado a recorrer demasiado às jogadas individuais. Acabou por prevalecer a categoria individual dos jogadores benfiquistas, e aí a diferença é abissal. No fundo, pode dizer-se que o SCP esteve muito bem entre os golos do adversário. Que me desculpem os sportinguistas, mas não é isso o que costuma acontecer nas chamadas vitórias morais?
Matiné de Domingo (23)
"Emil und die Detektive", de Gerhard Lamprecht (1931)
Filme completo c/ legendas opcionais em inglês e castelhano
sexta-feira, abril 19, 2013
A conferência/fiasco
Três hipóteses para justificar aquela conferência de imprensa "fiascosa" em que o governo anunciou nada ter para anunciar:
- Não houve acordo no Conselho de Ministros e desmarcar uma conferência de imprensa depois de uma reunião de 11 ou 12 horas e perante tanta expectativa criada seria um fiasco.
- No governo, por indecisão, desacordo interno, medo das consequências e por aí fora, ninguém sabe muito bem o que fazer e resolveu-se ganhar tempo, opção habitual de muita gente em circunstâncias semelhantes.
- As medidas estão decididas e aprovadas e o governo espera melhor oportunidade para as anunciar, aproveitando entretanto o hiato para ir falando de "consenso" (depois de "narrativa" é a palavra da moda) e a conferência de imprensa para apresentar o ministro Poiares Maduro, erigido numa espécie de "badge brand" do governo, à "cidade e ao mundo".
Alguém quer acrescentar mais alguma?
"As Tears Go By" e Andrew Loog Oldham* (2/3)
The Rolling Stones - "As Tears Go By" (Jagger-Richards)
Os Rolling Stones gravaram a sua versão de "As Tears Go By" em Outubro de 1965, também com produção de Andrew Loog Oldham*.
O tema foi editado em "single" nos USA em Dezembro de 1965 e no UK em Fevereiro de 1966. Nos USA faz parte do álbum December's Children" (Dezembro de 1965), sem correspondência na discografia dos Stones no UK.
quinta-feira, abril 18, 2013
"As Tears Go By" e Andrew Loog Oldham* (1/3)
Marianne Faithfull - "As Tears Go By" (Jagger-Richards)
Produção de Andrew Loog Oldham
Produção de Andrew Loog Oldham
O tema, da autoria de Mick Jagger e Keith Richards, foi entregue por Andrew Loog Oldham* à então desconhecida Marianne Faithfull que o gravou em Junho de 1964.
(Nota à margem: as fotografias são de fazer perder a respiração)
"Consenso" e "conflito": um exemplo histórico
Ora voltemos ao "consenso", já que parece existir demasiada gente a falar do assunto sem fazer uma pequena pausa que seja para pensar. E voltemos ao tal "consenso" revisitando a História e o Reino Unido, tantas vezes apontado, uma vezes com razão, outras sem ela, como bom exemplo. Ora no caso do Reino Unido, convém recordar, nem nas vésperas da eclosão da II Guerra Mundial ou mesmo durante os primeiros meses do conflito existiu consenso sobre a necessidade de o travar. E não estamos a falar dos mais ou menos "patuscos" e minoritários fascistas da British Union of Fascists, de Oswald Mosley, mas dos partidários do "appeasement", com o primeiro-ministro Neville Chamberlain à cabeça, maioritários e beneficiando do aval real até a evidência lhes entrar pela porta dentro. Aliás, Chamberlain só deixou a chefia do gabinete em Maio de 1940, já em plena invasão da França, sendo nessa altura substituído por Winston Churchill, desde sempre um adepto de uma atitude "dura" face a Hitler. Mais ainda: Lord Halifax, um dos mais notáveis promotores da política de "appeasement", manteve-se no governo até Dezembro de 1940 e politicamente activo durante toda a guerra (foi embaixador nos USA). Significa isto que não foi indispensável o tal "consenso" para que o Reino Unido travasse e vencesse uma guerra em condições de extrema dificuldade, mas sim o confronto entre duas linhas políticas antagónicas no qual uma acabou por se conseguir impor e sair vencedora. É esta, aliás, a superioridade da democracia: permitir o confronto criativo mesmo quando as condições adversas parecem, pelo menos para os espíritos tacanhos, aconselhar as águas turvas do unanimismo. Lamentável que haja demasiada gente querer nele a refugiar-se.
Subsídio em Novembro
O pagamento do subsídio de férias a servidores do Estado, reformados e pensionistas apenas em Novembro não afecta apenas quem a ele tem direito. Até poderemos dizer que tal é compensado (até talvez mais do que isso) com o pagamento do subsídio de Natal em duodécimos, desta força antecipando o seu recebimento e permitindo aos seus beneficiários, caso o queiram, receber rendimentos da sua aplicação.
Mas digamos que esse adiamento também não é neutro para a actividade económica, beneficiando uns sectores da economia em detrimento de outros. É óbvio que com esta decisão uma área como a "hotelaria e turismo", tradicionalmente com um "pico" da sua actividade no Verão, sai prejudicada em favor, por exemplo, do comércio a retalho. Não me parece o ramo "Horeca", já de si bastante crítico do governo por motivo do aumento da taxa do IVA para o sector, fique muito satisfeito com a decisão.
quarta-feira, abril 17, 2013
O governo, o PS e a história do Capuchinho Vermelho
Ficou hoje perfeitamente clara a táctica do governo ao convidar o PS para uma reunião e ao anunciar estar disponível para dar sequência a este primeiro encontro: tentar colocar o principal partido da oposição - que não pode furtar-se ao diálogo - perante a opinião pública, numa posição politica pouco clara entre o apoio e a contestação ao governo e, no caso de rompimento por parte do PS, atribuir a este partido o ónus da responsabilidade por tal atitude. Digamos que estamos numa cena típica de Lobo Mau que, disfarçando-se de bondosa avózinha, se prepara para tentar devorar o inocente Capuchinho. Para já, parece-me na conferência de imprensa Seguro não conseguiu disfarçar algum desconforto; um certo aligeirar de tom e talvez também algum distanciamento entre forma (pouco convicta) conteúdo (mais afirmativo). Evitará atravessar a floresta ou estará a caminho algum bom e honesto caçador para o salvar?
Cavaco e o "consenso"
Depois de, em 2009, ter aceitado, contra tudo o que era politicamente recomendável, dar posse a um governo minoritário em plena crise financeira mundial; depois de, antes disso, ter conspirado activamente contra o governo de maioria de José Sócrates; depois de ter deixado a concertação social chegar a um ponto de quase ruptura; no momento em que na sociedade portuguesa se consolida um consenso, que vai da direita à esquerda, dos patrões aos sindicatos, contra o radicalismo "austeritário" da UE e deste governo, Cavaco Silva vem agora publicamente apoiar um apelo tardio e de eficácia mais do que duvidosa, de um governo maioritário mas isolado, ao "diálogo" e ao "consenso". Será que vale ainda a pena acrescentar o que quer que seja à credibilidade política e ao perfil pessoal de tal personagem?
terça-feira, abril 16, 2013
A carta
A carta (muito escreve esta gente) do primeiro-ministro a António José Seguro, solicitando uma reunião para "concertação" das medidas a adoptar após a declaração de inconstitucionalidade de algumas normas do Orçamento de Estado 2013, parece ser, à partida, uma boa ideia para o governo e para os partidos que o apoiam: marca a agenda política e causará, no mínimo, alguma perplexidade na opinião pública e no PS, colocando este partido numa posição pouco confortável face às suas mais recentes posições. Mas também pode, se Seguro for inteligente e souber aproveitar o momento, constituir uma boa oportunidade para o PS demonstrar, enquanto oposição, que está aberto ao diálogo, a expor as suas ideias e até, aqui e ali, a algum acordo pontual sem abdicar, no essencial, do combate ao governo e de uma visão estratégica e orientação política alternativas. Para isso, terá que ser claro e isento de ambiguidades no modo como transmitirá aos portugueses as razões da sua aceitação e as conclusões do encontro, assumindo, nessa reunião, o papel de porta-voz daquele que é, neste momento, o largo consenso existente na sociedade portuguesa, da direita democrata-cristã à esquerda comunista, das associações patronais aos sindicatos, de recusa das opções radicais da troika" e do governo. Se conseguir gerir bem este processo (veremos), o PS pode ter aqui uma oportunidade para começar a descolar decisivamente nas sondagens. Se falhar, dificilmente AJS poderá alguma vez vir a convencer os portugueses.
Taças e televisões
A Taça da Liga é uma competição desenhada para as televisões: com o desequilíbrio existente entre as equipas portuguesas, o seu modelo de competição quase impõe os principais clubes estejam presentes nas meias-finais e final. Até há pouco tempo, a Taça de Portugal era exactamente o contrário: com um pouco de felicidade nos sorteios, era possível assistir a uma final sem a presença de nenhum dos "grandes" ou até mesmo com equipas de escalões inferiores. Como este modelo era incompatível com o interesse televisivo (em Portugal, só é "vendável" um jogo no qual um ou dois "grandes" estejam presentes), a FPF resolveu alterar o modelo e passar a fazer disputar as meias-finais em duas "mãos", facilitando a vida aos principais clubes. Percebo e aceito perfeitamente as razões da FPF, dos patrocinadores e a necessidade de assegurar as receitas geradas pelas transmissões televisivas, mas receio também tal acabe, no médio-longo prazo, por matar o interesse da competição durante grande parte do seu desenrolar. Ontem, o SLB - Paços de Ferreira, por exemplo, até para mim, benfiquista, foi um enorme bocejo (uma espécie de jogo-treino) e receio bem o mesmo aconteça com o VSC - CFB de amanhã. Não sei muito bem como e alterando o quê, mas algum equilíbrio entre competitividade e interesses comerciais parece-me essencial para a sobrevivência das "Taças" e a dificuldade em conseguir patrocinadores para os modelos actuais parece demonstrar isso mesmo.
"By the book"
Por formação pessoal e profissional, sou dos que acham as coisas acontecem quando efectuamos os movimentos necessários para tal. Quer isto dizer que acredito se carregarmos no botão "A" acontece o que é suposto acontecer quando se faz tal gesto, sem que seja necessário interferir mais no processo. O mesmo se carregarmos nos botões "B", "C", "D" e assim sucessivamente. Infelizmente, aprendi neste dois últimos dias que com os serviços públicos portugueses, apesar da inquestionável melhoria dos últimos dez ou vinte anos - que sempre saudei - as coisas podem não se passar exactamente assim, "by the book". Quer isto dizer que podemos carregar no botão "A" e acontecer o que é suposto acontecer quando carregamos no botão "B"? Enfim, não exageremos, não é disso que se trata nem as coisas chegam a tal ponto. O que acontece por vezes é, apesar de carregarmos no botão certo e o processo correcto se iniciar, as coisas emperrarem a meio e termos de descobrir onde tal aconteceu para lá irmos tentar desencalhar. E para que não me entendam mal, não perdi horas intermináveis, os locais eram funcionais e suficientemente confortáveis e todos os que me atenderam (funcionários públicos aos quais, nas presentes circunstâncias, não devem faltar motivos de desalento) atenciosos, prestáveis e cheios de boa vontade para resolver os assuntos, embora nem sempre bem informados e, por esse motivo, a eficiência deixasse um pouco a desejar... Mas enfim, com muito boa vontade e simpatia, que se sobrepuseram à eficácia, as coisas lá parecem ter-se encaminhado. Mas não inteiramente "by the book", o que confesso me faz alguma confusão.
segunda-feira, abril 15, 2013
José Sócrates na RTP
Deixemos de lado, momentaneamente, as nossas concordâncias ou discordâncias com o conteúdo. Se possível, ignoremos também, durante alguns momentos, ódios e paixões pelo personagem. Tidos em consideração estes dois pontos prévios, o que podemos dizer do "tempo de antena" - travestido de "comentário político", o que sempre acontece nestas circunstâncias e em casos semelhantes - de José Sócrates na RTP? Bom, aquilo que seria de esperar tendo em atenção o seu perfil e o estilo a que nos habituou: grande profissionalismo, comunicação directa e convicta do que afirma, um guião bem construído, e que me parece vir a mudar pouco ou nada em função das circunstâncias, e trabalho rigoroso de um "staff" onde parece bem evidente o dedo de Pedro Silva Pereira. Contraste claro com o estilo mais "ad lib" e truculento, mais "popularucho" e "one man show", digamos também mais espectacular e "catavento", de Marcelo Rebelo de Sousa. De José Sócrates, ao contrário do que acontece com Marcelo Rebelo de Sousa, não se esperem pois grandes surpresas. Força ou fraqueza? Depende. Direi que as duas em conjunto.
Demita-se, Srª ministra
É óbvio que quem faz uma afirmação destas não pode continuar a ser Ministra da Justiça ou sequer membro do governo. Estranho é como este tipo de comportamentos passa quase despercebido na comunicação social e também como tanta gente "rasga as vestes" por questões de quase "lana caprina" e encolhe os ombros perante ataques terroristas (é o termo exacto) deste jaez ao Estado de Direito. O comportamento desta senhora é indigno do lugar que ocupa e de um qualquer governo de um país civilizado. Como sou optimista, espero alguém me venha ainda dizer que afinal não é verdade e Paula Teixeira da Cruz nunca disse tal coisa. Mas tendo em atenção alguns dos seus comportamentos anteriores, confesso a esperança não é muita.
domingo, abril 14, 2013
sábado, abril 13, 2013
Documentário de sábado (9 - c)
Servants: The True Story of Life Below Stairs (3/3)
Dr Pamela Cox looks at the grand houses of the Victorian ruling elite - large country estates dependent on an army of staff toiling away below stairs."
sexta-feira, abril 12, 2013
Lima e Cardozo
O golo de ontem é um exemplo claro do que digo no "post" anterior sobre a simplicidade de processos da equipa com Cardozo. Não sendo, ao contrário de Lima, um jogador que se sinta confortável na condução de bola, mas tendo um excelente pé esquerdo, Cardozo optou por um passe, relativamente curto mas inteligente e certeiro, que desmarcou Rodrigo na esquerda, tendo este efectuado o centro para o golo de Sálvio. Em situação idêntica, Lima, muito provavelmente, teria optado por romper para a área, tornando o lance diferente. Claro que não está em causa o facto de se tratarem de dois bons "pontas de lança", mas apenas de evidenciar que não é só na hora de chutar à baliza e fazer golos que estes dois jogadores se definem: com cada um deles, a equipa ganha e perde opções de jogo.
quinta-feira, abril 11, 2013
Newcastle United - SLB
- Um jogo curioso. O SLB controlou o jogo até ao golo do Newcastle, Artur não fez uma defesa difícil durante todo o encontro, as oportunidades foram todas do SLB e no entanto... No entanto, depois da oferta que constituiu o golo de Cissé, aos 71', esperava-se a qualquer momento um novo golo, o que ditaria a eliminação do "Glorioso". Estranho, mas foi mesmo assim...
- E Jesus tem razão: quando os "magpies" se deixaram de tácticas e aderiram ao "pontapé para a frente e fé em Deus", a melhor equipa (o SLB) perdeu as referências no seu jogo defensivo. Além disso, o meio-campo viu a bola começar a passar-lhe por cima e teve de recuar para junto da sua linha defensiva, deixando a equipa de ter bola. A equipa tremeu. Mais uma vez Jesus teve a razão: substituindo Lima por Cardozo e fazendo entrar Rodrigo conseguiu esticar o jogo e chegar ao empate. Jorge Jesus comete hoje em dia muito menos erros. Já era tempo.
- Jogando a equipa com apenas um "ponta de lança" e sendo este Lima e não Cardozo, o SLB ganha não só maior capacidade de posse e circulação de bola como consegue pressionar melhor, mais alto e em bloco (Cardozo é sempre um "corpo estranho" a esse bloco). Mas, claro, perde presença e capacidade para romper na área, bem como alguma simplicidade de processos.
- O Chelsea é ainda a melhor equipa na Liga Europa. O SLB será a segunda melhor. As apostas irão reflectir isso mesmo.
Moedas e o "crescimento"
Como Carlos Moedas não é burro nem está mal informado ou preparado, só vejo duas razões para esta sua afirmação, perfeitamente ao nível daqueles que, nos fóruns de opinião, ainda reclamam pelos cortes nas "gorduras do Estado", nas "pensões milionárias" e nas "mordomias dos políticos:
- Acredita mesmo no que diz e a insanidade e obstinação ideológica de quem nos governa estão mesmo a atingir níveis preocupantes.
- Não acredita no que diz, mas como o crescimento está longe de ser preocupação na estratégia do governo, tem que dizer alguma coisa que convença os portugueses do contrário e os mantenha na esperança dos "amanhãs que cantam".
Franqueza, franquezinha, preferia acreditar na segunda hipótese, mas começo a ter sérias dúvidas sobre a justeza dessa minha escolha.
quarta-feira, abril 10, 2013
História(s) da Música Popular (209)
The Crystals (ou Darlene Love & The Blossoms) - "He's Sure The Boy I Love"
Phil Spector (VII)
Ora depois do sucesso de "He's A Rebel", o único #1 das Crystals nos USA, Phil Spector usou (é o termo) uma vez mais Darlene Love e as Blossoms, travestidas de Crystals (ver aqui), para o número seguinte, "He's Sure The Boy I Love". Já muito "wall of sound", este é um tema caracteristicamente Brill Building, escrito por Barry Mann e Cynthia Weil, com arranjos de Jack Nitzsche, e gravado para a Philles Records em Novembro de 1962. Chegou a #11 do Billboard. Penso que terá sido esta a última gravação das "falsas" Crystals e de Darlene Love, em breve substituída por "LaLa" Brooks, como respectiva vocalista. Mas não asseguro.
Bruno de Carvalho e o populismo
Os perigos e consequências da demagogia populista estão bem visíveis na situação actual do SCP. Levado ao poder por via de uma gestão financeira irresponsável e de uma política desportiva desastrosa da direcção Godinho Lopes (e não só), Bruno de Carvalho foi visto por muitos sportinguistas como o Messias, o D. Sebastião que iria combater os "malvados" da Banca e, assim, "salvar" um clube sobre-endividado de décadas de declínio, entregando-o de novo aos seus legítimos proprietários, os seus sócios e adeptos. A acéfala comunicação social desportiva deu-lhe cobertura, e começou por exaltar as suas tiradas e atitudes populistas ao estilo "O Sporting é de novo nosso" (cito de cor), bem como o facto de ter decidido sentar-se no "banco" de suplentes. Dois resultados positivos ajudaram ao "estado de graça". Agora surgem os problemas, e vem à luz do dia o facto de não estar preparado nem ter os apoios indispensáveis para exercer as funções para as quais foi eleito. Conhecemos bem o que se vai seguir: aproveitando o sentimento geral anti-Banca que grassa no país, muitas vezes com razão, Bruno de Carvalho prepara-se para fazer dessa mesma Banca, que, neste caso, tenta apenas salvaguardar os seus interesses e dos seus "stakeholders" (clientes, depositantes, investidores, outros credores, etc), bode expiatório para os problemas que a sua direcção enfrenta e para os quais não tem solução sem a colaboração dos que agora ataca. Digamos que o mito vai durar ainda menos tempo do que alguma vez supus.
terça-feira, abril 09, 2013
Uma história simples
José Sócrates, o "arrogante", já assumiu o enorme erro que foi ter aceitado formar um governo de minoria em 2009. Serve de pouco, mas reconheceu esse seu irreparável erro e foi positivo tê-lo feito. Gostaria também de ver Cavaco Silva, que "nunca se engana e raramente tem dúvidas", assumir o erro de ter dado posse a um governo nessas circunstâncias, erro que em grande parte nos conduziu à "salganhada" política actual. Mas bem me parece que "posso esperar sentado", já que consentir na formação de um governo minoritário foi a "casca de banana" lançada ao PS pelo experiente político que é o actual Presidente da República para que o PSD "tomasse conta do pote". José Sócrates, ingénuo e/ou demasiado obstinado e vaidoso, subavaliou os riscos da situação e apostou numa "fuga para a frente". Cavaco Silva, um mau político e um homem mesquinho que já vinha à largo tempo a conspirar contra o governo, não se importou de lançar o país para a tempestade pensando que a bóia que PSD e CDS lhe lançavam o ajudaria a flutuar. Como mau político que é, enganou-se.
O PS e o "consenso"
Confesso não entender qual a a vantagem para o país em atrelar o PS à governação. O actual governo dispõe de uma confortável maioria na Assembleia da República, e o parceiro menor da coligação, independentemente de um ou outro "arrufo" calculado, mais para evitar uma queda nas sondagens do que para afirmar alguma efectiva autonomia, demonstrou estar disposto a quase tudo para se manter no governo. O primeiro-ministro, o ministro das Finanças e o governo dispõem de ampla cobertura do Presidente da República, o que nunca terá acontecido com nenhum governo face a um qualquer anterior inquilino de Belém. Para além de uma ou outra manifestação organizada e institucional, onde o PS não tem expressão, não existe agitação social e a "rua" mantém-se ordeira, reinando uma espécie de "paz dos cemitérios". A "concertação social", graças aos sindicatos, associações patronais e presidente do CES, esforça-se por funcionar, apesar da indiferença, e até dos esforços em contrário, do governo. O próprio PS, como uma liderança frágil, tem tido dificuldade em afirmar-se como uma alternativa sólida, não conseguindo descolar nas sondagens, o que tem como consequência afastar qualquer cenário de eleições antecipadas, pelo menos no curto-prazo. De qualquer modo, mantendo-se o PS como oposição, evita que o natural descontentamento - esse sim, bem evidente nas sondagens - seja polarizado na esquerda radical ou potencie o aparecimento de forças mais ou menos populistas e/ou folclóricas. Então de onde vem essa tal a insistência no "consenso"?
Bom, em primeiro lugar, nas sociedades fracas, sem ou com pouca autonomia face ao Estado e principalmente em tempos de crise, existe quase sempre um medo - diria, quase congénito - da ruptura, do confronto, preferindo-se recorrer a um consenso que esconda ou evite expor essas próprias fraquezas. Aliás, veja-se que em termos individuais, são sempre também os mais fracos, os mais "expostos", os que dispõem de menor grau de autonomia, que preferem o consenso ao confronto e à ruptura. Como o subdesenvolvimento e a pobreza fomentam essa fraqueza e essa quase ausência de autonomia, não admira o país, maioritariamente, se comporte de modo idêntico. Depois vem o fenómeno de imitação: um fala (neste caso de "consenso") e todos imitam, até porque falar de "consenso" gera simpatias, cai quase sempre bem, mantém quem os advoga em equilíbrio político (e "nunca se sabe o dia de amanhã") e evita raciocínios mais profundos, o que também costuma dar algum trabalho. Por último, e agora vem a questão mais directamente política, claro que à actual maioria, pelo menos conjunturalmente e tendo "vistas-curtas", convém ter o PS como parceiro, na medida em que tal enfraqueceria ainda mais o partido e poderia vir mesmo a causar-lhe rupturas irreversíveis.
Claro que tal - não se "atrelar" à actual governação - não significa o PS assuma uma posição radical e maximalista, eximindo-se a apresentar propostas consequentes ou mesmo a efectuar acordos sempre que isso não fira no essencial a sua estratégia e linha políticas. Por exemplo, deveria ter feito propostas e discutido no essencial a questão da "reforma do Estado", defendendo a suas opções sobre o Estado Social em vez de optar por uma visão imobilista. Não pode, também, afirmar que "quem causou o problema que o resolva", até porque tem nesse mesmo problema a sua quota-parte de responsabilidade. Mas deixar-se atrair pelo "canto da sereia" e "atrelar-se" a uma governação dirigida por uma "vanguarda iluminada" ou por uma espécie de representante dos credores; diria, agindo quase (disse, quase) como um qualquer governo colaboracionista em tempo de guerra; seria suicidário para o país e para o partido. Os que o defendem sob a capa da defesa do "interesse nacional", estão eles próprios a defender interesses partidários ou, pior ainda, outros mais ou menos inconfessáveis.
segunda-feira, abril 08, 2013
Cortes na despesa: um imposto regressivo
Ao afirmar ontem que não iria aumentar impostos, Pedro Passos Coelho disse apenas meia verdade. Ou melhor, 1/3 de verdade, procurando agradar à sua base social de apoio e ir ao encontro, por exemplo, do grupo de personalidades conotadas com o ultra-liberalismo que na semana anterior tinha entregue um abaixo assinado reclamando uma redução da despesa pública. Na verdade, ao reduzir, como ameaçou (é o termo), a despesa pública na saúde, educação e segurança social, o governo irá lançar um verdadeiro imposto regressivo, que afectará fundamentalmente os portugueses que auferem menores rendimentos e que são aqueles que maioritariamente recorrem ao ensino público, serviço nacional de saúde e beneficiam das transferências e apoios sociais. Sendo também o grupo em que a chamada "propensão marginal para consumir" atinge valores mais elevados, esta estratégia terá um carácter ainda mais recessivo.
domingo, abril 07, 2013
A resposta de José Sócrates
Ao abdicar de responder hoje à comunicação ao país de Pedro Passos Coelho, entregando tal tarefa, em nome do PS, a uma figura secundária do partido - o seu porta-voz -, António José Seguro permitiu que fosse José Sócrates, no seu comentário da RTP, a incumbir-se dessa missão, o que este fez com a segurança habitual. Os que, no partido, são considerados como próximos do antigo primeiro-ministro, por certo terão agradecido e os que gostariam de ver uma oposição fortalecida não deixarão de lamentar.
O "estado de excepção"
A decisão do Tribunal Constitucional sobre algumas normas do Orçamento de Estado vem também demonstrar os limites à implementação em democracia de um programa do tipo que é advogado pelo governo e pela "troika". E curiosamente, tal acontece não por existir agitação nas ruas, alteração da ordem pública ou extrema degradação social, que, em maior ou menor grau, era o que seria legítimo esperar da aplicação de um tal programa, mas em função das normas reguladoras e arquitectura constitucional inerentes à existência e funcionamento de um qualquer Estado de Direito digno desse nome. No fundo, o que o governo de Gaspar e Passos Coelho (a ordem não é arbitrária), em conjunto com a minoria "revolucionária" que o apoia, gostaria era de governar em "estado de excepção" (as "vanguardas" costumam governar assim), suspendendo os Direitos Liberdades e Garantias e o primado da Constituição e da Lei. A tal extremo nem no tempo de João Franco se chegou, e mesmo assim a "brincadeira" acabou com as mortes do rei e do príncipe herdeiro e a queda do regime monárquico-constitucional. Devia ter servido de exemplo.
6 notas 6 sobre a crise.
- A actual crise será a mais grave desde o 25 de Abril? Enfim, digamos que houve o 28 de Setembro, o 11 de Março e o 25 de Novembro, com o país à beira da guerra civil, mas, embora de extrema gravidade, foram situações conjunturais e estávamos ainda no período pré-constitucional, sem um situação democrática plena e normalizada. A actual crise é estrutural, e o que a torna ainda mais grave e a sua resolução mais difícil é o facto de, pela primeira vez, não termos uma Europa e instâncias internacionais ás quais recorrer que saibamos façam parte da solução e não, como acontece agora, apenas ajudem a agravar o problema.
- Olhar para a crise e ver como actores políticos e principais protagonistas encarregues de nos fazer sair deste "enorme buraco" nomes como Cavaco Silva, Passos Coelho, Miguel Relvas, Vítor Gaspar, António José Seguro e Carlos Zorrinho lança o mais optimista em depressão profunda. Está cumprida a missão de todos aqueles - jornalistas, comentadores, "bloguistas", participantes nos diversos "fóruns de opinião", frequentadores de caixas de comentários e também muitos políticos - que dedicaram estes últimos 15 ou 20 anos a denegrir a imagem do regime e dos seus actores, contribuindo para afastar da política muita gente com qualidade. Ao contrário do que seria a sua intenção, não destruíram o regime: apenas o tornaram mais fraco e doente, logo, menos capaz de agir em nome do país e dos seus cidadãos.
- O governo (leia-se, o PSD, que o CDS não vai por aí) deveria abandonar rapidamente a "narrativa" de culpabilização do Tribunal Constitucional, que já só "colhe" no seu grupo de apoiantes mais radical, um género de tropa de choque ideológica da "vanguarda" que nos governa. Estreita, em vez de alargar, a já de si muito pouco significativa base de apoio do governo e enxota os indiferentes. Mas pode uma "vanguarda" agir de outro modo?
- Ao contrário do que tenho lido e ouvido por aí, não basta o governo "arranjar" os 1.25 mil milhões de euros em falta, recorrendo, por exemplo, a um agravamento fiscal universal, para colmatar o "buraco" de 0.7pp gerado pela inconstitucionalidade de algumas disposições orçamentais. Sabendo que a manutenção do actual nível de fiscalidade não é sustentável nem compaginável com a sua ideologia, a intenção do governo sempre foi, desde o início, reduzir a massa salarial na Função Pública, e com uma inflação muito baixa não se vislumbra como o possa fazer sem recorrer a reduções salariais, já que despedimentos com 19% de desemprego seriam um problema e, além dos mais, custam dinheiro em indemnizações e respectivo subsídio. O governo está, mais uma vez, e neste caso, a ser vítima da sua incompetência e falta de preparação: teria sido bem melhor e até mais justo ter, desde o seu início, encarado de frente a necessidade de restruturação dos serviços públicos, com as subsequentes implicações tanto a nível do número de funcionários como da sua mobilidade. Mas preferiu distrair-se com as "trafulhices" de Miguel Relvas, as viagens em "turística", a privatização da RTP e assim sucessivamente.
- Seguro quer eleições. Certo, as eleições fazem parte da vida democrática. Mas, como parece muito improvável vir a conseguir uma "maioria absoluta", depois faz o quê? Uma coligação apenas com o CDS, deixando o PSD "à solta". Uma coligação que inclua o PSD de Passos Coelho? Espera, numa atitude voluntarista, que o PSD "corra" com Passos Coelho e este partido passe a ser dirigido por alguém pertencente à sua área "cristã-democrata", essa sim, "coligável"? Aposta na colaboração do Presidente da República, que quer é ver-se livre do problema que criou para si próprio fruto da sua incompetência política? O país não o entende, e sendo assim...
- Já agora, e falando da incompetência política de Cavaco Silva, será que este já estará finalmente arrependido de não ter feito aquilo que devia, isto é, impedido o PS de José Sócrates de governar em minoria forçando, nessa altura, uma governo de coligação? Sabemos de viva voz que José Sócrates está arrependido de ter assumido governar em minoria (disse-o na sua entrevista à RTP), mas de Cavaco Silva "moita, carrasco", e era ao Presidente da República que competia a última palavra.
sábado, abril 06, 2013
Documentário de sábado (9 - b)
Servants: The True Story of Life Below Stairs (2/3)
Dr Pamela Cox looks at the grand houses of the Victorian ruling elite - large country estates dependent on an army of staff toiling away below stairs."
sexta-feira, abril 05, 2013
Friday midnight movie (36) - Nazi Exploitation (II)
(aka "Last Orgy of the Third Reich", de Cesare Canevari (1976)
Filme completo c/ legendas em castelhano
O Pequeno Livro Cinzento do Presidente Cavaco
Podem estar todos um pouco distraídos, mas convém lembrar que lhe pagamos para dizer estas banalidades...
4 notas sobre o SLB - Newcastle United
- O futebol é assim mesmo: o SLB podia ter-se limitado a um empate 2-2, um mau resultado, e acabou por ganhar 3-1, o que lhe permite entrar em St. James Park com algum à vontade até porque me parece o ataque do Newcastle United será bem mais fácil de anular quando obrigado a jogar em ataque continuado e sem espaço nas costas da defesa contrária e o do SLB existindo mais espaço para as transições rápidas. Mas isto é teoria, e a prática é bem mais complicada.
- Sempre achei que se estava a exagerar nas possibilidades do SLB ganhar a Liga Europa. O Chelsea é uma equipa claramente superior e mesmo o Tottenham, pelo menos com Bale, uma equipa com outras opções e outro andamento. Mas os resultados de ontem parecem ter dado uma pequena ajuda. Veremos. Mas há o Chelsea, que ainda é o campeão europeu.
- A imprensa desportiva deveria ter mais cuidado na edificação de ídolos prematuros. André Gomes, sem intensidade e com um ritmo de jogo sonolento, fez ontem figura de corpo estranho numa equipa que faz da intensidade e ritmo frenéticos duas das suas principais armas. O problema acentua-se contra equipas como o Newcastle United, habituada a jogar num campeonato onde esses factores assumem importância decisiva. Se querem a minha opinião, não me parece André Gomes possa vir a ser opção futura.
- A maioria dos meus vizinhos de bancada acha que árbitro que não mostre oito ou dez "amarelos" por jogo não é digno de crédito. Questão de maus hábitos.
Relvas e o regime
Em relação ao que aqui escrevi a 3 de Julho de 2012 sobre a "licenciatura" de Miguel Relas, queria apenas acrescentar o seguinte: claro que o caso vai prioritária e essencialmente afectar o próprio, o primeiro-ministro e o governo, que assim se vai esboroando muito mais por culpa própria do que por acção de uma oposição inepta ou de uma "rua" pouco activa. Mas desiludam-se os que rejubilam e assim mostram pensar "pequenino": os estilhaços são mais mortíferos do que se possa imaginar e o caso acabará por atingir e afectar toda a classe política (impropriamente assim chamada, pois os políticos podem constituir uma corporação mas não são um classe social), os partidos e o regime democrático. Por essa razão, embora Miguel Relvas e o governo bem mereçam o "castigo", preferia o episódio nunca tivesse acontecido.
quinta-feira, abril 04, 2013
Daniel Oliveira e o voluntarismo da esquerda radical
Ontem, em acção de "zapping", dei com um tal canal Q, que confesso nem sabia que existia. Mas como vi por lá entrevistavam Daniel Oliveira, alguém que respeito, com quem estou frequentemente em desacordo, mas que sabe pensar e de quem me habituei a ouvir algumas coisas interessantes, deixei-me por lá ficar durante alguns minutos. O suficiente para ouvir Daniel de Oliveira, questionado sobre a impossibilidade de um acordo de governação entre o PS e os partidos à sua esquerda, fazer uma afirmação que se tornou um quase-dogma no Bloco de Esquerda, partido que Daniel abandonou há pouco. E diz esse quase-dogma que "a crescente degradação social tornará viáveis acontecimentos hoje em dia julgados impossíveis" (cito de modo livre). Ora estamos perante uma afirmação voluntarista e perigosa. Voluntarista porque faz dos desejos realidade, não tendo em conta a situação no terreno, a natureza do PCP e as relações de força existentes: nada nos leva a acreditar, apesar do desastre governativo, numa deterioração extrema da situação social que leve a uma agudização dos conflitos e a uma erupção da violência até ao ponto de colocar em causa o chamado "normal funcionamento das instituições". Perigosa porque joga tudo nessa mesma deterioração e explosão social, indesejáveis, pois apenas desse modo Daniel Oliveira vê possibilidade de transformar os seus desejos em realidade. No fundo, esta afirmação remete-me para o período do PREC, quando a extrema-esquerda era de opinião que a radicalização do processo revolucionário, das "massas", acabaria por subalternizar e ultrapassar "na rua" as posições reformistas e revisionistas do PC. Que raio!, já era tempo de terem memória e com ela aprenderem alguma coisa.
quarta-feira, abril 03, 2013
Um mau debate e as opções possíveis
Não quero exagerar dizendo que o debate de hoje na Assembleia da República sobre a moção de censura apresentada pelo PS foi deprimente. Mas foi-o, sem dúvida, de muito baixa qualidade, situação agravada pelo facto do PS, apesar da posição de força que a apresentação de uma moção de censura poderia sugerir, se apresentar a debate fragilizado por saber, e se conhecer, não estar na posse de uma solução governativa viável nem poder implementar uma clara alternativa política e estratégica à actualmente dominante na UE.
Mas perante esta reconhecida mediocridade do debate, duas opções podem ser consideradas:
- Criar condições para atrair para a vida política gente melhor preparada, com um perfil mais adequado para a função e para o debate, com melhores qualificações e formação política acrescida, o que inclui, obviamente, prestigiar a função e considerar a oferta de melhores condições de trabalho e salariais.
- Ou deixar estar tudo como está, alimentando o ataque aos "altos salários" e "mordomias" dos políticos, arriscando-nos assim a assistir a uma cada vez maior degradação da qualidade do debate e do trabalho político. Também da vida do país, claro está.
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