segunda-feira, abril 22, 2013

Da participação dos "não-militantes"

Percebo que se queiram incluir simpatizantes e/ou votantes de um partido, cidadãos que se reconhecendo em termos gerais na ideologia e linha política desse partido não se sintam vocacionados ou atraídos para a responsabilidade da militância e disciplina partidárias, na escolha do respectivo líder.  No fundo, sejam chamados a participar naquelas que são verdadeiras primárias do candidato, de facto, a primeiro-ministro. Digamos que, à partida, admito tal possa ser mobilizador, ajude a aproximar muitos cidadãos da discussão política e contribua para para maior abertura dos aparelhos partidários à sociedade. No entanto, há que ter em conta não existir em Portugal e na Europa, tanto quanto sei (até porque na grande maioria dos casos estamos na presença de democracias parlamentares - que elegem deputados - e não de regimes presidencialistas), qualquer tradição nesse sentido, ao contrário do que acontece, por exemplo, nos USA, de onde a ideia parece ter sido importada. É exactamente por isso que, embora compreenda as razões que estão na base da proposta, acho se devem recomendar "cautelas e caldos de galinha", não se entrando demasiado de rompante e à força em experimentalismos sem se ter uma ideia mais precisa, ou pelo menos aproximada, das respectivas vantagens e inconvenientes. É que não basta parecer "modernaço" para ser efectivamente moderno, e o mundo está cheio de ideias bem intencionadas, aparentemente inovadoras, que, na prática, acabam por ter efeito contrário ao pretendido ou, pura e simplesmente, servem apenas para consumir recursos sem resultados correspondentes, o que de si mesmo já é negativo e acaba por contribuir para o desalento de quem as propôs e o recuo de quaisquer futuras ideias inovadoras.

Já quanto a não-militantes poderem ser eleitos para cargos dirigentes, confesso não perceber qual a vantagem. Se alguém, mais ou menos identificado com a ideologia e orientação politicas de um partido, decide não o integrar, parece-me fá-lo-á por não querer sujeitar-se aos direitos e deveres correspondentes, sendo nesse caso mais lógico definir uma quota de não-militantes que, em condições a definir, possa participar em certas reuniões dos orgãos dirigentes com a categoria de "observadores" e com intervenção limitada. Este poderá ser, se bem conseguido, um modo, não só de cativar novos militantes, como de responsabilizar os dirigentes integrantes desses orgãos, nas suas intervenções, perante um universo mais vasto do que apenas o constituído pelos seus pares. Veremos como tudo isto evolui, mas espero, pelo menos, à ideia não presida qualquer oportunismo partidário ou visão de curto-prazo. Seria desastroso.

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