domingo, abril 07, 2013

6 notas 6 sobre a crise.

  1. A actual crise será a mais grave desde o 25 de Abril? Enfim, digamos que houve o 28 de Setembro, o 11 de Março e o 25 de Novembro, com o país à beira da guerra civil, mas, embora de extrema gravidade, foram situações conjunturais e estávamos ainda no período pré-constitucional, sem um situação democrática plena e normalizada. A actual crise é estrutural, e o que a torna ainda mais grave e a sua resolução mais difícil é o facto de, pela primeira vez, não termos uma Europa e instâncias internacionais ás quais recorrer que saibamos façam parte da solução e não, como acontece agora, apenas ajudem a agravar o problema.
  2. Olhar para a crise e ver como actores políticos e principais protagonistas encarregues de nos fazer sair deste "enorme buraco" nomes como Cavaco Silva, Passos Coelho, Miguel Relvas, Vítor Gaspar, António José Seguro e Carlos Zorrinho lança o mais optimista em depressão profunda. Está cumprida a missão de todos aqueles - jornalistas, comentadores, "bloguistas", participantes nos diversos "fóruns de opinião", frequentadores de caixas de comentários e também muitos políticos - que dedicaram estes últimos 15 ou 20 anos a denegrir a imagem do regime e dos seus actores, contribuindo para afastar da política muita gente com qualidade. Ao contrário do que seria a sua intenção, não destruíram o regime: apenas o tornaram mais fraco e doente, logo, menos capaz de agir em nome do país e dos seus cidadãos. 
  3.  O governo (leia-se, o PSD, que o CDS não vai por aí) deveria abandonar rapidamente a "narrativa" de culpabilização do Tribunal Constitucional, que já só "colhe" no seu grupo de apoiantes mais radical, um género de tropa de choque ideológica da "vanguarda" que nos governa. Estreita, em vez de alargar, a já de si muito pouco significativa base de apoio do governo e enxota os indiferentes. Mas pode uma "vanguarda" agir de outro modo?
  4. Ao contrário do que tenho lido e ouvido por aí, não basta o governo "arranjar" os 1.25 mil milhões de euros em falta, recorrendo, por exemplo, a um agravamento fiscal universal, para colmatar o "buraco" de 0.7pp gerado pela inconstitucionalidade de algumas disposições orçamentais. Sabendo que a manutenção do actual nível de fiscalidade não é sustentável nem compaginável com a sua ideologia, a intenção do governo sempre foi, desde o início, reduzir a massa salarial na Função Pública, e com uma inflação muito baixa não se vislumbra como o possa fazer sem recorrer a reduções salariais, já que  despedimentos com 19% de desemprego seriam um problema e, além dos mais, custam dinheiro em indemnizações e respectivo subsídio. O governo está, mais uma vez, e neste caso, a ser vítima da sua incompetência e falta de preparação: teria sido bem melhor e até mais justo ter, desde o seu início, encarado de frente a necessidade de restruturação dos serviços públicos, com as subsequentes implicações tanto a nível do número de funcionários como da sua mobilidade. Mas preferiu distrair-se com as "trafulhices" de Miguel Relvas, as viagens em "turística", a privatização da RTP e assim sucessivamente.
  5. Seguro quer eleições. Certo, as eleições fazem parte da vida democrática. Mas, como parece muito improvável vir a conseguir uma "maioria absoluta", depois faz o quê? Uma coligação apenas com o CDS, deixando o PSD "à solta". Uma coligação que inclua o PSD de Passos Coelho? Espera, numa atitude voluntarista, que o PSD "corra" com Passos Coelho e este partido passe a ser dirigido por alguém pertencente à sua área "cristã-democrata", essa sim, "coligável"? Aposta na colaboração do Presidente da República, que quer é ver-se livre do problema que criou para si próprio fruto da sua incompetência política? O país não o entende, e sendo assim...
  6. Já agora, e falando da incompetência política de Cavaco Silva, será que este já estará finalmente arrependido de não ter feito aquilo que devia, isto é, impedido o PS de José Sócrates de governar em minoria forçando, nessa altura, uma governo de coligação? Sabemos de viva voz que José Sócrates está arrependido de ter assumido governar em minoria (disse-o na sua entrevista à RTP), mas de Cavaco Silva "moita, carrasco", e era ao Presidente da República que competia a última palavra.

Sem comentários: