terça-feira, abril 09, 2013

O PS e o "consenso"

Confesso não entender qual a a vantagem para o país em atrelar o PS à governação. O actual governo dispõe de uma confortável maioria na Assembleia da República, e o parceiro menor da coligação,  independentemente de um ou outro "arrufo" calculado, mais para evitar uma queda nas sondagens do que para afirmar alguma efectiva autonomia, demonstrou estar disposto a quase tudo para se manter no governo. O primeiro-ministro, o ministro das Finanças e o governo dispõem de ampla cobertura do Presidente da República, o que nunca terá acontecido com nenhum governo face a um qualquer anterior inquilino de Belém. Para além de uma ou outra manifestação organizada e institucional, onde o PS não tem expressão, não existe agitação social e a "rua" mantém-se ordeira, reinando uma espécie de "paz dos cemitérios". A "concertação social", graças aos sindicatos, associações patronais e presidente do CES, esforça-se por funcionar, apesar da indiferença, e até dos esforços em contrário, do governo. O próprio PS, como uma liderança frágil, tem tido dificuldade em afirmar-se como uma alternativa sólida, não conseguindo descolar nas sondagens, o que tem como consequência afastar qualquer cenário de eleições antecipadas, pelo menos no curto-prazo. De qualquer modo, mantendo-se o PS como oposição, evita que o natural descontentamento - esse sim, bem evidente nas sondagens - seja polarizado na esquerda radical ou potencie o aparecimento de forças mais ou menos populistas e/ou folclóricas. Então de onde vem essa tal a insistência no "consenso"?

Bom, em primeiro lugar, nas sociedades fracas, sem ou com pouca autonomia face ao Estado e principalmente em tempos de crise, existe quase sempre um medo - diria, quase congénito - da ruptura, do confronto, preferindo-se recorrer a um consenso que esconda ou evite expor essas próprias fraquezas. Aliás, veja-se que em termos individuais, são sempre também os mais fracos, os mais "expostos", os que dispõem de menor grau de autonomia, que preferem o consenso ao confronto e à ruptura. Como o subdesenvolvimento e a pobreza fomentam essa fraqueza e essa quase ausência de autonomia, não admira o país, maioritariamente, se comporte de modo idêntico. Depois vem o fenómeno de imitação: um fala (neste caso de "consenso") e todos imitam, até porque falar de "consenso" gera simpatias, cai quase sempre bem, mantém quem os advoga em equilíbrio político (e "nunca se sabe o dia de amanhã") e evita raciocínios mais profundos, o que também costuma dar algum trabalho. Por último, e agora vem a questão mais directamente política, claro que à actual maioria, pelo menos conjunturalmente e tendo "vistas-curtas", convém ter o PS como parceiro, na medida em que tal enfraqueceria ainda mais o partido e poderia vir mesmo a causar-lhe rupturas irreversíveis.

Claro que tal - não se "atrelar" à actual governação - não significa o PS assuma uma posição radical e maximalista, eximindo-se a apresentar propostas consequentes ou mesmo a efectuar acordos sempre que isso não fira no essencial a sua estratégia e linha políticas. Por exemplo, deveria ter feito propostas e discutido no essencial a questão da "reforma do Estado", defendendo a suas opções sobre o Estado Social em vez de optar por uma visão imobilista. Não pode, também, afirmar que "quem causou o problema que o resolva", até porque tem nesse mesmo problema a sua quota-parte de responsabilidade. Mas deixar-se atrair pelo "canto da sereia" e "atrelar-se" a uma governação dirigida por uma "vanguarda iluminada" ou por uma espécie de representante dos credores; diria, agindo quase (disse, quase)  como um qualquer governo colaboracionista em tempo de guerra; seria suicidário para o país e para o partido. Os que o defendem sob a capa da defesa do "interesse nacional", estão eles próprios a defender interesses partidários ou, pior ainda, outros mais ou menos inconfessáveis. 

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