Penso ser hoje bem visível quais os (não) resultados e eficácia das tais medidas emblemáticas, ditas "simbólicas", decretadas pelo actual governo no início do seu mandato, tais como viajar em turística, reduzir o funcionamento do ar condicionado durante o verão, pôr os desempregados e os beneficiários do RSI a limpar as matas e tratar dos "velhinhos", etc, etc. Só faltou passarem a andar de Renault Clio, mas para tanto, felizmente, não lhes chegaram a "lata" e o desplante. Tratam-se apenas de medidas populistas, da mais genuína demagogia, destinadas a cumprir a função ideológica de "épater le bourgeois", isto é, de convencer os portugueses que o problema estava nas "gorduras" do Estado, nas "mordomias dos políticos" e coisas mais ou menos semelhantes.
Tenho-me lembrado disto a propósito de algumas atitudes do Papa Francisco e de uma certa "narrativa" (lá vem a palavra da moda) que tem feito o seu caminho e sido assimilada acriticamente pelos "media", desde o facto de, enquanto cardeal e bispo, se deslocar em transportes públicos, até ter escolhido hospedar-se em aposentos mais modestos, ter continuado a usar os mesmos sapatos, ter lavado os pés a alguns detidos e por aí fora. Que me desculpe Jorge Bergoglio se estou a ser injusto (o tempo o dirá), mas, ao longo da vida, aprendi tanto a execrar manifestações gratuitas e excessivas de riqueza e opulência, como uma certa ostentação da pobreza e promoção da humildade demasiadas vezes características da Igreja Católica e de muitos populismos sul-americanos mais ou menos ditatoriais. Como aprendi, claro, a saber o que valem, na maior parte dos casos, as tais medidas ditas "simbólicas" de recém-chegados a qualquer instituição, seja esta um empresa, um clube desportivo, um governo ou a hierarquia católica. É que, diz-me a experiência, quem quer efectivamente reformar raramente se deixa tomar por tais impulsos. Veremos o que o futuro nos reserva.
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