Ora voltemos ao "consenso", já que parece existir demasiada gente a falar do assunto sem fazer uma pequena pausa que seja para pensar. E voltemos ao tal "consenso" revisitando a História e o Reino Unido, tantas vezes apontado, uma vezes com razão, outras sem ela, como bom exemplo. Ora no caso do Reino Unido, convém recordar, nem nas vésperas da eclosão da II Guerra Mundial ou mesmo durante os primeiros meses do conflito existiu consenso sobre a necessidade de o travar. E não estamos a falar dos mais ou menos "patuscos" e minoritários fascistas da British Union of Fascists, de Oswald Mosley, mas dos partidários do "appeasement", com o primeiro-ministro Neville Chamberlain à cabeça, maioritários e beneficiando do aval real até a evidência lhes entrar pela porta dentro. Aliás, Chamberlain só deixou a chefia do gabinete em Maio de 1940, já em plena invasão da França, sendo nessa altura substituído por Winston Churchill, desde sempre um adepto de uma atitude "dura" face a Hitler. Mais ainda: Lord Halifax, um dos mais notáveis promotores da política de "appeasement", manteve-se no governo até Dezembro de 1940 e politicamente activo durante toda a guerra (foi embaixador nos USA). Significa isto que não foi indispensável o tal "consenso" para que o Reino Unido travasse e vencesse uma guerra em condições de extrema dificuldade, mas sim o confronto entre duas linhas políticas antagónicas no qual uma acabou por se conseguir impor e sair vencedora. É esta, aliás, a superioridade da democracia: permitir o confronto criativo mesmo quando as condições adversas parecem, pelo menos para os espíritos tacanhos, aconselhar as águas turvas do unanimismo. Lamentável que haja demasiada gente querer nele a refugiar-se.
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