Durante a maior parte de século XX os jornais constituíram-se no principal meio de informação, tendo, uma sua maioria, uma orientação ideológica definida e de todos conhecida. Uns estavam próximos da direita democrática conservadora, normalmente democrata-cristã; outros da esquerda reformista, dos partidos socialistas e sociais-democratas da Internacional Socialista; alguns, muitas vezes sob a forma de revistas semanais ("L'Express"), de algum liberalismo, dito "tecnocrático", centrista e ainda outros, como o "L'Humanité" ou o "L'Unitá", umbelicalmente ligados, enquanto respectivos orgãos oficiais, aos partidos comunistas, então organizações de massas importantes nos países da Europa do Sul. Mesmo nas ditaduras ibéricas, e apesar da censura e da proibição da existência de partidos, era essa a situação dominante. Em Portugal, por exemplo, o "República" reflectia as posições do "reviralhismo" republicano e, mais tarde, do embrião do que viria a ser o Partido Socialista; o "Diário de Lisboa", da família Ruella Ramos, mais liberal, era também ele simpatizante da oposição democrática, funcionando o "Diário de Notícias", um pouco, como orgão oficioso do regime. E por aí fora... Portanto, para todos aqueles, leitores, para quem os assuntos da política não eram estranhos, seria fácil entenderem das razões de oportunidade desta ou daquela notícia e até interpretarem-na à luz dos acontecimentos políticos conjunturais e da orientação do jornal. Claro que, parece-me à distância, as questões deontológicas tinham também outro peso, o que se reflectia necessariamente na idoneidade da profissão e na credibilidade do que se lia. Mas adiante...
Hoje, tudo isso é passado, e os jornais, de "orgãos de informação" e campo de luta política e ideológica, transformaram-se em panfletos onde a defesa dos interesses empresariais do grupo a que pertencem se tornaram prioritários; e se queremos perceber o porquê de certas notícias, muitas delas sem qualquer credibilidade e aí plantadas "custom made", temos de começar por conhecer a estrutura accionista do jornal, os projectos de desenvolvimento do grupo empresarial a que pertence, as ligações dos seus accionistas a alguns governantes e ex-governantes e de ambos ao mundo dos negócios, a loja maçónica ou a organização de influência religiosa em que militam os seus jornalistas, quais a agências de comunicação com maior influência junto da sua direcção e corpo redactorial, etc, etc. Uff... convenhamos que é obra, tarefa talvez demasiado vasta e árdua para que possa atrair um simples leitor...
A proposta de governo de concessionar o serviço público de rádio e televisão a privados trouxe de novo à ordem do dia a discussão sobre qual o conteúdo desse mesmo serviço público, tornando-se comuns afirmações, não destituídas de lógica e bom-senso, de que a definição de tal conteúdo seria o primeiro e indispensável passo para qualquer decisão futura sobre o grupo RTP/RDP. Certo. Mas deixemos um pouco de lado os chamados "grandes princípios", muitas vezes demasiado abstractos, e, embora não sendo eu especialista na área da comunicação social nem nunca tendo sido jornalista, tentemos analisar alguns dos problemas práticos que qualquer decisão nesse campo terá de enfrentar e resolver.
Em primeiro lugar, a quem caberá essa definição de "serviço público"? Ao governo? À ERC? A uma qualquer comissão "ad-hoc" de nomeação governamental, tipo "conselho de sábios"? À Assembleia da República? E qual o papel da Presidência da República no projecto? E depois, quem fiscalizará o seu cumprimento e com que meios? Nada de inultrapassável, mas um problema à partida.
Não sendo de opinião que os consensos tenham sempre inegáveis vantagens face às rupturas, penso estarmos aqui perante um assunto que, pela sua sensibilidade, pelo seu carácter estrutural e constitucional e pelo facto de nem mesmo entre os partidos do governo existir uma ideia comum, mereceria o tal "amplo consenso", pelo menos dos chamados partidos do "arco governamental", evitando o hábito tão português do faz/desfaz com os custos inerentes. Caso contrário estaremos perante uma questão estrutural resolvida por uma pequena "vanguarda", mais ou menos iluminada (o pequeno grupo actualmente dominante no PSD e núcleo duro do poder) e sob suspeição (ou bem mais do que isso) de decidir em causa própria de alguns dos seus dirigentes e apoiantes externos. Assim sendo, estamos já aqui perante um problema com contornos bem mais graves.
Num assunto ideológica, cultural e vivencialmente tão carregado e extremado e onde se movem interesses vários, mais ou menos venais e contraditórios, uma coisa é a definição dos grandes princípios ("defesa da língua portuguesa", "divulgação dos valores históricos e culturais", "defesa do pluralismo de opinião", e outros do género). Outra, bem diferente, a sua transformação em actos e conteúdos concretos. Exemplos? Muito simples: assegurar a transmissão dos jogos de futebol da selecção nacional e das equipas portuguesas nas provas da UEFA é ou não serviço público? Outro? A "defesa e promoção da língua portuguesa" é assegurada como? Através de um programa como aquele bem interessante do qual Diogo Infante era apresentador ou de que outra forma? E caberá no conceito de "serviço público" a divulgação e apoio ao cinema português e a divulgação de clássicos do cinema internacional? E a apresentação diária de uma "agenda cultural"? E a música popular portuguesa, a ópera, a música erudita e o teatro português, clássico e de vanguarda? Mais ainda, o conceito de "serviço público" deverá incluir indicações claras sobre o conteúdo e alinhamento da informação noticiosa, evitando que os primeiros quinze minutos sejam preenchidos com noticiário tablóide (crimes, desastres, "fait-divers", etc)? Poderíamos continuar por aqui fora, mas penso já existe matéria suficiente para nos fazer pensar sobre as talvez insuperáveis dificuldades a enfrentar.
Num tempo em que o desenvolvimento das novas tecnologias obriga os "media" a constantes mudanças (também de conteúdos) e a enorme flexibilidade, faz sentido definir o que se entende por "serviço público" de forma mais ou menos permanente e pouco maleável? A sua concessão a um privado é compatível com uma actualização constante do que cabe no conceito? E é possível assegurar que um operador privado não tenha uma interpretação "criativa" (como é comum acontecer em Portugal) das obrigações decorrentes do cumprimento do "serviço público" e acabe por o desvirtuar nas intenções perante, no mínimo, o encolher de ombros da entidade reguladora?
Por último, é possível um operador privado, que tem de defender, obviamente, os seus legítimos interesses, interessar-se por um projecto que o obrigue a cumprir a agenda de um verdadeiro serviço público de rádio e televisão, com os constrangimentos daí inerentes, sem o transformar, desvirtuando-o com a conivência do Estado, numa verdadeira caricatura? Por algum motivo, e não me parece apenas por razões históricas, não me lembro tal figura exista na Europa e é bom que desçamos à terra e comecemos a pensar um pouco nestas coisas.
Nota final: a RTP tem um valor não tangível, uma determinada "brand equity". Já alguém levou isso em consideração? Acham que já alguma vez um qualquer governo britânico se lembrou de concessionar a BBC?
Se as equipas são quase sempre a "cara" do seu treinador, isto é ainda mais verdadeiro com o SC Braga: linhas muito próximas, um bloco subido que permite à equipa ganhar bolas em zonas altas do terreno, grande capacidade, certeza e velocidade na circulação de bola, mas... como é habitual nas equipas de José Peseiro, alguma falta de agressividade e eficácia junto das duas balizas. Não fora tal coisa, já vista na Luz (dois golos oferecidos pelo SLB) e em ambos os jogos com a Udinese, e teriam facilmente "arrumado", sem necessidade de recurso a prolongamento e penalties, uma equipa italiana muito fraca (o futebol da "bota" está pela hora da morte) e com poucas soluções. A jogarem sempre assim, vão mesmo ser um "osso" duro de roer no campeonato.
Devo dizer que a sustentabilidade do projecto do SC Braga ainda me deixa algumas dúvidas. Independentemente dos méritos gestionários de António Salvador e da sua equipa, o clube está, talvez demasiadamente, ligado à autarquia (que é a sua verdadeira dona) e parece que ainda ao empresário Jorge Mendes. Não será o Boavista da família Loureiro, de reputação mais do que duvidosa e que fez do clube parte integrante e importante do seu projecto de poder, abandonando-o quando deixou de o servir, mas será que pode ter algumas semelhanças com o caso do VFC (Setúbal), que cresceu e atingiu o auge com o desenvolvimento da segunda vaga industrial no distrito e caiu a pique quando ela entrou em colapso? Enfim, Braga, enquanto cidade centro de uma área diversificada e relativamente estruturada onde coexistem indústria, agricultura, serviços e universidade, parece-me bem mais ao abrigo do declínio do que a Setúbal dos anos 60/70 do século XX. Mas manda o saber de experiência feito ter algumas cautelas e tentar aprofundar as questões para melhor se prever o futuro.
O Vitória FC (Setúbal) tem o orçamento mais baixo da primeira liga (1.2M), 83.3 vezes inferior ao do FCP (100M) e 58.3 vezes inferior ao do SLB (70M). Agora digam-me se faz algum sentido o VFC competir na mesma prova de regularidade de FCP e SLB, tipo de competição este onde o valor dos orçamentos acaba por ser decisivo.
Mais do que tempo de UEFA pensar seriamente na fusão de campeonatos ou na criação de uma liga europeia que ponha fim a esta situação aberrante.
O escândalo não são as excepções à regra nos salários de alguns gestores públicos: tais excepções são apenas ditadas por uma regra estúpida que limita o seu salário ao do primeiro-ministro, e pelo facto deste ter um salário quase ridículo. As cedências ao populismo e às "manchetes" do Correio da Manhã têm destas consequências.
Não percebo porque os médicos com mais de 50 ou 55 anos deverão ter um regime de excepção no que respeita ao seu trabalho nas urgências, tal como já não percebia porque razão os professores mais velhos tinham (e acho ainda têm) direito a uma carga horária aligeirada. No caso dos médicos mais velhos, até admito beneficiem, após as urgências, de um período de descanso um pouco mais alargado; no que diz respeito aos professores, nem isso, já que um professor mais experiente terá, em princípio, menos trabalho na preparação de uma aula e sofrerá menor desgaste na sua condução.
Ora aqui está mais uma explicação adicional, desta vez bem clara, para a tal "opção interessante", isto é, a preferência pela figura da concessão. Tudo acaba por se reduzir a uma mera operação contabilística de curto-prazo, sacrificando-se as questões estratégicas e subalternizando-se as opções políticas de fundo. É o Manelinho* - o dos livros da Mafalda - no poder.
Ora vamos lá ver... A necessidade de existência de um serviço público de rádio e televisão e o modo como ele possa ser assegurado, quer directamente pelo Estado quer indirectamente através de um qualquer regime contratual com privados, é um assunto que deveria ser seriamente discutido e não transformado em arma de arremesso político ou em oportunidade de negócio para poucos, normalmente ligados a empresas que apenas existem e subsistem em função das ligações políticas dos seus detentores e responsáveis. É uma questão política e ideologicamente (sim, ideologicamente) importante no modo como olhamos o país e na definição de como queremos ele venha a ser no futuro. Não é, nem pode reduzir-se, portanto, a uma mera questão contabilística: a democracia, o bem estar dos cidadãos, uma sociedade aberta, educada e culta, aquilo a que chamamos civilização, enfim, têm custos, e é necessário todos nos convençamos disso e não nos deixemos embalar e iludir pela demagogia populista dos "Correio da Manhã" e quejandos.
O problema... o problema é que tenho sérias dúvidas que a maioria dos portugueses - leitores desse género de "pasquins", espectadores das telenovelas e dos reality shows" da SIC e TVI (convenhamos que a RTP também não tem ajudado), intervenientes nos diversos "fóruns de opinião" e seguidores do "Dia Seguinte", intoxicados diariamente pelo tablóidismo dos "media" - sinta este assunto como seu, seja sensível a este tipo de argumentação e se mostre capaz de pensar para além desse seu mundo demasiado "pequenino" e redutor dos "malandros dos políticos, dos "carros de luxo da RTP", dos "ordenados milionários dos gestores públicos", etc, etc. O problema, o verdadeiro problema é que são os próprios políticos a fomentarem demasiadas vezes esse mesmo populismo mediático - que confundem, erradamente, com luta política - e, mais tarde ou mais cedo, sabemos tal acaba por se voltar contra esses mesmos "aprendizes de feiticeiro". PS, PSD e CDS - e menciono apenas estes por se tratarem dos partidos que exercem ou já exerceram funções governativas - já todos eles provaram à vez do veneno que produziram ou ajudaram a preparar. Por enquanto, vai-nos valendo o guarda-chuva da UE, enquanto esta dura nos moldes actuais. E se houver um "depois" e "chover mesmo em Lisboa"?
Não vou ao Bonfim há cerca de vinte anos, e já nessa altura o estádio estava decrépito, em estado adiantado de degradação. Mas como espectador tenho sempre o direito de opção, e por isso mesmo resolvi não voltar. Acontece, no entanto, que os jogadores não podem escolher e têm mesmo que jogar naquele péssimo relvado, indigno de um clube da primeira liga. E nós, espectadores, se queremos ver o jogo com alguma comodidade temos de pagar um "balúrdio" à Sport TV, sendo que em troca deveríamos direito a ver um jogo disputado com todas as condições para ser um bom espectáculo. Aliás, já na jornada anterior já tive oportunidade de entrever um relvado - Olhão - em estado deplorável. E se isto acontece nas primeiras jornadas, ainda com sol, calor e um "defeso" onde teria sido possível tratar do assunto, pergunto-me o que acontecerá daqui a uns meses. Importa-se a LPFP de olhar para os relvados, vetar os impróprios e perguntar aos clubes da Premiership como cuidam deles?
Se o actual governo fechar a RTP2 e concessionar a RTP1 por 15 ou 20 anos, gostava que Seguro explicasse como o vai fazer. Ou será que estamos apenas perante um "palpite" ou, pior, perante um "piscar de olho" eleitoralista e demagógico?
Vendo bem, em termos do conceito que lhes está subjacente (felizmente estamos bem longe dos respectivos aspectos práticos) não existirão assim diferenças tão grandes entre pôr os beneficiários do RSI a limpar matas e a a tratar dos "velhinhos" e a "redenção e reeducação pelo trabalho", muitas vezes "junto do (bom) povo", tão cara aos regimes totalitários, comunistas ou de extrema-direita. Em ambos está presente uma certa penalização dos que, de uma maneira ou de outra, por pensamento ou origem, mas sempre "por sua própria responsabilidade", se mantiveram longe do "main stream" social, da "linha justa", tornando-se "marginais" face à ordem estabelecida. A alguns, haverá que fazer tudo para os "corrigir", fazer voltar ao "redil", evitando que se tornem um "mau exemplo", uma praga que se arrisque a contaminar, com esse seu mau exemplo, sectores mais vastos, os chamados "portugueses pacientes", a tradução de "bom povo" para novilíngua. Resta saber qual a cor do triângulo que lhes está destinado, se os os amarelos sobrepostos formando a estrela de David, se o verde dos criminosos, o encarnado dos políticos, o castanho dos ciganos, etc, etc. Pois, lá vão dizer que sou um exagerado...
Quando se ouvem as - justas - críticas à falta de legitimidade democrática de António Borges, percebe-se melhor porque no Reino Unido os ministro são obrigatoriamente escolhidos entre os membros do Parlamento, tendo-se assim submetido ao voto popular. Com um factor adicional que os legitima: não foram eleitos em lista mas em círculo uninominal, tendo sido obrigados previamente a submeter-se à dura experiência política de disputar uma eleição. Antes de serem ministros, são portanto políticos, e embora não defenda a adopção de círculos uninominais para Portugal - por razões que não vêm agora ao caso - reconheço aí uma vantagem.
O actual governo esteve ontem entre as 21h e as 23.30h na SIC Notícias (Ribeiro e Castro, Pedro Adão e Silva, Pedro Marques Lopes e Paquete de Oliveira) sob o mais continuado e violento ataque de que há memória por parte de uma estação de televisão, desde que tomou posse. Por ter posto em causa os interesses da Impresa? É provável que isso tenha o seu peso, embora o assunto esteja longe de aí se esgotar. Por, eventualmente, ter ousado enfrentar esses interesses em nome de algo essencial à prossecução dos seus objectivos, à solidez da coligação, ao cumprimento do seu programa, ao bem estar dos portugueses? Nada disso, e até se arriscando, como já se viu, a criar brechas no entendimento governamental. Na realidade, por algo que parece ter a ver apenas com os interesses de algumas pessoas, dentro e fora do governo, eventualmente ligadas aos negócios e interesses estratégicos da ditadura angolana. Talvez também a um outro grupo adversário, quase "inimigo", da Impresa, também ele actuando na área da comunicação social e com ligações africanas e à Fomentinvest, empresa de Ângelo Correia onde Pedro Passos Coelho trabalhou.
Um erro político tremendo, num momento em que os objectivos e estratégia do governo estão cada vez mais em causa, e uma demonstração clara do modo como o Estado e os governos (e não apenas este) se deixam capturar por interesses particulares. Uma evidência inequívoca de que cada vez que o governo se deixa enrodilhar numa trapalhada há sempre um nome em comum e quase sempre o mesmo país estrangeiro envolvido: o do ministro Miguel Relvas, ex-administrador da Finertec - empresa com fortes ligações a Angola -, autor do acto censório sobre Pedro Rosa Mendes por críticas deste à ditadura angolana e defensor público e confesso daquele célebre programa de propaganda ao mesmo país emitido pela RTP1, a mesma RTP que o ministro quer agora concessionar. Chega ou querem mais explicações?
Não sei que efeitos positivos poderá ter esta decisão da Agência Anti-Dopagem norte-americana tomada passados treze anos da primeira vitória de Lance Armstrong no Tour, sete após a sua última (2005) e quando o ciclista já abandonou a competição. Em vez desta ânsia persecutória, seria bem melhor que os organismos encarregues do combate ao "doping" se tornassem mais eficazes em tempo útil, não me parecendo para tal despropositado que, também aqui, a figura da prescrição passasse a ter validade.
A ser interpretada literalmente, a declaração do Governo admitindo, no caso da alienação da RTP (prefiro chamar-lhe assim em vez de privatização), "qualquer solução que reduza custos do Estado" significaria teríamos chegado ao "grau zero" da política, substituída por uma qualquer ordenamento contabilístico no qual os ministérios seriam entregues a uma plêiade de guarda-livros encartados e a chefia do governo a um revisor oficial de contas. Acresce que a RTP não produz parafusos, automóveis ou produtos químicos; nem sequer o objecto da sua actividade é financeiro: produz e difunde informação e entretenimento, que estão nos antípodas do que se poderia considerar politicamente neutro ou irrelevante deste mesmo ponto de vista. Significa isto, portanto, e não sendo eu por princípio contrário à privatização da empresa (entre os poucos bons legados dos governos de Cavaco Silva pode contar-se a abertura do sector à iniciativa privada), que a decisão sobre o futuro da RTP será sempre, mesmo mais do que qualquer outra privatização, uma questão política, essencial para os cidadãos e para o modo como estes se relacionam com a sociedade e com o mundo.
Mas pior... O problema é que sob essa aparente capa de desprezo pela política, tão presente na resposta do gabinete do ministro Relvas e característica dos ditadores de facto ou de quem deles herdou tiques e genes - e também sob esse "piscar de olho" ao populismo mais rasteiro que vê em qualquer despesa pública o dedo de Satanás ou de Al Capone - se esconde uma decisão eminentemente política e, talvez mais do que isso, um negócio com uma qualquer ditadura mais ou menos cleptocrática (rabo mal escondido com o resto do gato de fora) efectuado à sombra do "execrável" e "execrado" Estado. E se todos nós, cidadãos que prezamos a democracia e a livre iniciativa empresarial que lhe está associada, já deveríamos torcer o nariz quando se colocam sectores económicos estratégicos nas mãos de ditaduras que negam esses dois princípios básicos, muito mais nos deveríamos preocupar quando está em causa a liberdade de informar e ser informado. À bon entendeur...
Nota 1: se fossem necessárias provas para definir a natureza da "clique" que se apoderou do PSD, a notícia de ontem sobre o trabalho obrigatório para os beneficiários do RSI, a entrevista de António Borges à TVI e a resposta de hoje do gabinete no ministro Relvas sobre a alienação da RTP seriam mais do que suficientes.
Das duas uma - e independentemente de razões de liberdade, dignidade, trabalho e salário dignos que parecem não preocupar muito o governo:
Ou os beneficiários do RSI, agora obrigados a limpar matas e jardins ou a tratar de velhinhos nas IPSS, vão ocupar postos de trabalho realmente disponíveis e para os quais não terão qualificações nem vontade, contribuindo, deste modo, para a falta de eficácia desses serviços e para que o desemprego não diminua.
Ou não vão na realidade efectuar qualquer trabalho útil (o que me parece estar bem mais perto da verdade, sendo a decisão apenas expressão de uma vontade punitiva sobre os mais fracos) e o Estado, além do pagamento do RSI respectivo, ainda verá os seus custos agravados com o valor do subsídio de almoço, transporte e seguro.
Conclusão: a não ser que a intenção seja mesmo obrigar alguns beneficiários do RSI (poucos, já que uma larga maioria se encarregará de arranjar maneira de se incluir nas excepções) a recusar poupando assim uns míseros euros à custa de alguns dos valores essenciais da dignidade humana, tomar decisões apenas por razões ideológicas e para agradar ao "Correio da Manhã" e ao "povo da SIC", alinhando pelas posições do populismo mais rasca e mais ignorante da sociedade portuguesa, nem sempre constituirá também a opção mais inteligente em termos de eficácia governativa. Felizmente, excepto talvez aqui e ali, em situações muito raras e concretas, nada disto vai funcionar e até talvez se venha a voltar contra os seus proponentes. Espero bem que sim: terão o que merecem.
As diferenças notoriedade e peso político, dentro e fora do Bloco de Esquerda, entre Catarina Martins e Ana Drago resumem-se numa frase: a primeira foi obrigada a dizer que estava disponível para assumir a liderança do BE e a segunda não teve que assumir coisa alguma: bastou demonstrá-lo ao ser convidada para programa de Mário Crespo (SICN) onde lhe foram oferecidos cerca de 20' de tempo de antena para expor, num discurso fluente, as suas ideias políticas e evidenciar a sua telegenia. Quer-me parecer que Louçã pode ter aqui um problema.
Uma boa solução para o SLB, simultaneamente de continuidade e de ruptura directiva, seria a passagem de Luís Filipe Vieira a "chairman" e a criação de um cargo de CEO, um género de presidente-executivo eleito na mesma lista, que assumisse também o cargo de administrador-executivo da SAD. Tal permitiria reconhecer o trabalho que, apesar de tudo, LFV realizou no SLB, em circunstâncias difíceis, e, ao mesmo tempo, entregar a efectiva direcção do clube e da SAD a quem desse garantias de cometer bem menos erros na sua gestão desportiva, o grande "calcanhar de Aquiles" de Vieira. Permitiria também manter a a gestão financeira nas mãos de Domingos Soares de Oliveira, alguém com provas dadas. Resta saber se a conhecida personalidade de LFV se coadunaria com este cenário e se alguém com efectivo perfil para CEO (Moniz ou outro) aceitaria "encaixar-se" neste tipo de solução com Vieira sem que daí resultasse algum tipo de conflito.
Ao deixar de aceitar dinheiro de plástico nas compras inferiores a €20, o Pingo Doce está a assumir um risco? Bom, digamos que esta decisão, nada "consumer friendly", parece contraditória com a imagem ("Pingo Doce venha cá" ou "se lhe dá jeito, o Pingo Doce faz") que o grupo de lojas tem vindo a tentar consolidar nos últimos tempos, podendo vir a gerar alguma "má vontade" junto dos clientes. Mas, por outro lado, acentua a sua imagem como um "promotional discount store", o que parece estar em linha com o seu reposicionamento recente e tenderá a melhorar o tempo de espera no "check out", o que também significa maior eficácia no serviço prestado.
Quanto ao risco efectivo de perda de clientes. tal já me parece bem mais distante: no segmento "supermercados de vizinhança", de "compra por conveniência", o Pingo Doce é quase monopolista e a nas chamadas "grandes compras", ou "compras do mês", onde o risco de perda de clientes para a Sonae poderia ser maior, o dinheiro de plástico continuará a vigorar.
Digamos, no entanto, que estamos perante uma decisão "antipática", que corre o risco de reavivar a controvérsia sobre as acções recentes da cadeia e a imagem pouco consensual e conflituosa do seu patriarca, tendo-se ambas transformado, simultaneamente, em imagem de marca e modelo de intervenção política da família. O Pingo Doce e o grupo Jerónimo Martins parecem dar-se bem com o estilo e conteúdo, mas convém ter algum cuidado quando na promiscuidade entre negócio e intervenção política esta tende a tornar-se dominante e, principalmente, demasiado visceral. Acresce que Alexandre Soares dos Santos e a Jerónimo Martins não são banqueiros. Nem sequer grandes industriais ligados à metalurgia ou à indústria química, por exemplo. Ou jovens empresários de um qualquer Silicon Valley: são merceeiros. Bons merceeiros. Têm-se mesmo revelado excelentes merceeiros, o que se saúda e tem todo o mérito. Mas merceeiros e isso, nada tendo de negativo, faz contudo toda a diferença.
Vi ontem o golo de Nelson Oliveira ao Osasuna. Conseguido exactamente do mesmo modo como o agora jogador do Depor actuou durante o Mundial de sub-20: equipa toda encolhida a defender (o Depor ganhava por 1-0 e o jogo estava nos "descontos") e uma auto-estrada aberta para um "sprint" longo de Nelson, a sua maior qualidade. Depois executou um chapéu perfeito, sem oposição. A pergunta que deixo aos críticos do seu empréstimo e fazedores de heróis precoces é a seguinte: quantas vezes poderia Nelson Oliveira jogar deste modo numa equipa como o SLB? Quem quiser que responda.
Jorge Jesus não é comentador de futebol; é treinador de um clube com a dimensão do SLB e responsável pela sua principal equipa de futebol. Por isso mesmo, as suas intervenções nas conferências de imprensa não podem nem devem limitar-se a uma análise relativamente independente das incidências do jogo, mas integrar-se na estratégia de comunicação do clube e assumir uma função importante naquilo que poderemos designar como "team building"; devem assumir-se como elemento estruturante na construção de uma identidade e tornarem-se activo importante para que a equipa consiga alcançar melhor e mais facilmente os seus objectivos. Ora as afirmações de Jorge Jesus após o jogo de ontem, praticamente colocando SLB e SCB ao mesmo nível, estão exactamente nos antípodas do que acima digo: em vez de serem mobilizadoras, são conformistas; em vez de forjarem uma atitude vencedora, acabam por gerar indiferença perante o resultado; em vez de evidenciarem que as diferenças de grandeza e investimento entre as duas equipas exigem necessariamente resultados bem diferentes, falam de equilíbrio. Assim também se perdem (ou ganham) campeonatos e alguém da estrutura da SAD do SLB deveria intervir.
Não me lembro de erros tão primários, em tanta quantidade e tão evidentes numa equipa portuguesa de topo como aqueles que foram praticados de modo sistemático por Jorge Jesus nas suas últimas épocas como treinador do SLB. A pergunta que deixo é a seguinte: não haverá na hierarquia do futebol do clube quem seja capaz, já não digo de os evitar, mas de os minimizar no seu número e gravidade? Que raio, LFV pode não perceber patavina de futebol, mas António Carraça, pelo seu percurso no futebol profissional, que se não é brilhante pelo menos é longo, não deveria ter conhecimentos e poderes para o fazer? E quais as funções de Rui Costa, que - este sim -, pelo seu prestígio e percurso internacional, tem com certeza os conhecimentos necessários para ter uma maior capacidade de actuação? Será que Jorge Jesus e a principal equipa de futebol do SLB estão em auto-gestão? Mistérios...
Duas questões sobre a sucessão do Bloco de Esquerda:
João Semedo é um político experiente, com intervenção desde há muito na sociedade portuguesa e cujo discurso político, concordando-se ou não (e eu, maioritariamente, discordo), é conhecido e dotado de consistência. Significa isto que se amanhã Semedo vier a liderar o BE tal acontecerá sem surpresa e poderá ser considerado um passo natural no seu percurso de cidadão e político, na sua dedicação à causa pública. Catarina Martins estará nos seus antípodas: para além de deputada relativamente recém-chegada (Outubro de 2009) ao grupo parlamentar do BE, não se lhe conhece trabalho ou pensamento político estruturado que possam justificar a sua eventual ascensão à liderança do partido. Uma incógnita.
O PSR, um dos partidos que compõem o Bloco de Esquerda e do qual Francisco Louçã é militante, é membro da IV Internacional (trotskista), organização onde coexistem várias tendências com ideias próprias e muitas vezes conflituais. Muito do que se passa na IV Internacional tem assim óbvias repercussões na vida do PSR e do BE, e por vezes é difícil entender a vida destes últimos sem analisarmos e entendermos as movimentações internas dessa mesma IV Internacional. Espanta-me o esquecimento a que os "media" e analistas políticos portugueses votam este assunto.
O SLB fez toda a pré-época a jogar em 4x5x1 (vamos considerar assim, simplificando um pouco), com apenas um "ponta de lança" e Javi, Witsel e Carlos Martins no meio-campo. Este foi mesmo o melhor jogador e marcador da equipa. Mas, vamos lá saber porquê, Jorge Jesus, logo no primeiro jogo oficial e, ainda por cima, contra o S.C. Braga, achou por bem tudo mudar e optar por um esquema com dois "pontas de lança" e Bruno César numa posição que ninguém muito bem entendeu, possivelmente nem o jogador, assim um misto de ala e nº10, meio extremo, meio interior à moda antiga. Alguém explica a Jorge Jesus para que servem as pré-épocas?
Salvio e Rodrigo não fizeram um único jogo na pré-época, ao contrário de Enzo Perez e Carlos Martins que até estiveram em bom plano. Alguém me explica porque foram os dois primeiros titulares? E Aimar, que esteve toda a pré-época lesionado, porque entrou quando a equipa precisava recuperar de um resultado negativo? Aguardo, com pouca ou nenhuma esperança, as explicações de Jorge Jesus.
Lei de Murphy: "o que pode correr mal corre mal". Como aqui disse, a opção por Melgarejo tinha tudo para correr mal. Ainda correu pior: correu pessimamente.
Conclusão: tanta estupidez junta só podia dar mau resultado. Milagre foi não termos perdido.
Dois exemplos bem ilustrativos do completo estado de degradação a que chegou a comunicação social em Portugal:
Enquanto o jornal "A Bola" destaca que o árbitro Christian Fischer "não classifica o acto de Luisão (no Jogo Fortuna Düsseldorf-SLB) como agressão", "O Jogo" afirma exactamente o contrário. Como é óbvio, um deles está a mentir (ou ambos) e mais do que informar ou analisar preferem assumir cada um a sua barricada e "partir daí para a luta". Apesar da total falta de credibilidade a que a imprensa desportiva já nos habituou, há limites para a desinformação e para a degradação da profissão de jornalista - que é disto que se trata.
Penso não errar muito se disser que o massacre dos mineiros na África do Sul e o julgamento das Pussy Riot terão sido os acontecimentos mais relevantes do dia. Pois a RTP resolveu abrir o seu Telejornal da 20h com um desastre de autocarro que transportava portugueses em França (sem consequências muito graves, note-se) e um caso de negligência médica. Notícias sobre o grave incidente na África do Sul, onde até vivem uns bons milhares de portugueses, e o julgamento de Moscovo vieram já decorrida cerca de 1/2 hora do principal jornal informativo do Serviço Público de Televisão. O "respeitinho" por quem dá jeito é muito bonito...
Em Portugal, durante a ditadura e até mesmo já depois da democracia institucionalizada ("old habits die hard") muitos actos de censura foram tentados e muitos outros perpetrados sob a alegação de os acontecimentos ou assuntos em questão "ofenderem gravemente as convicções religiosas da grande maioria do povo português". Eu sempre me senti ofendido, nas minhas profundas convicções de não-crente, com tal argumentação, como também acho interessante nunca argumento semelhante tenha sido usado em relação às convicções culturais, estéticas, literárias, desportivas, e assim sucessivamente, da maioria do povo português. Por exemplo, os dislates e "dotes" declamatórios do Sr. Pinto da Costa ofendem gravemente as convicções desportivas e culturais da grande maioria do povo português, e nunca ninguém se lembrou de o mandar calar nas suas diatribes ou de o impedir de declamar Régio, nem mesmo a Srª Dona Maria Barroso ou os eventuais descendentes de João Villaret, que teriam toda a razão para o fazer invocando a decência e o bom-gosto. A questão é que o apelo à religiosidade, remetendo-nos para o além e para a morte, infunde sempre um certo temor reverencial, enquanto o ateísmo é coisa bem mais das lides terrenas. Por outro lado, essa coisa da separação entre a Igreja e o Estado foi de gestação lenta e dolorosa, feita de avanços e recuos, a cuja habituação muitos ainda teimam a recusar-se.
O que talvez já não esperasse, mas bem vistas as coisas não me cause talvez assim tanto espanto, é ver uma juíza de um país governado durante uns bons setenta anos por um partido comunista, por definição inimigo da religião e da Igreja, oficialmente ateu, fazer apelo, apenas uns vinte e picos anos após a queda do regime, aos supostamente ofendidos "sentimentos religiosos dos crentes" para justificar a pena de prisão infligida a umas simpáticas raparigas membros de um grupo "punk-rock". Não sei se a ideia terá sido de uma qualquer Zita Seabra que por lá exista (que las hay!...), mas, independentemente das razões da juíza e também da "tenebrosa ameaça" que as raparigas podiam constituir para a ditadura de Putin/Medvedev ou que esta terá tido oportunidade de invocar num país onde a independência do poder judicial deverá assemelhar-se a uma espécie de ficção, será caso para reafirmar que, também por lá, ou agora especialmente por lá já que por cá bem nos custaram democracia e liberdade, "old habits die hard". Mesmo.
Como já disse, análises ao plantel de qualquer das equipas que vão disputar a Liga portuguesa só após o fecho do mercado, a 31 de Agosto. Mas como não sou adepto de "prognósticos só no fim do jogo", isto é, de me resguardar falando apenas depois dos factos acontecerem, há questões, relativas a uma análise do que poderá vir a ser a época do SLB, que transcendem o assunto das "compras e vendas" e poderão, desde já, ser equacionadas permitindo-me, em função elas, estar mais ou menos confiante sobre o que pode vir a acontecer.
Bom, em primeiro lugar quais os objectivos do SLB? Sem dúvida, ser campeão, chegar, no mínimo, aos 1/8 de final da Champions League, ganhar a Taça de Portugal ou então, como mal menor e em alternativa a esta última, a Taça da Liga. Mas digamos que ser campeão e atingir os 1/8 de final da Champions League são os objectivos essenciais para que a época possa ser considerada bem positiva. Perguntar-me-ão se, em função destes objectivos, estou optimista? Devo dizer que não totalmente, e justifico:
A equipa começa o campeonato (e logo contra o S.C.Braga) sem um defesa-esquerdo consistente, acima de qualquer suspeita. Até pode dar certo, mas é um risco demasiado grande para quem (a dupla LFV/JJ) não está em posição de os assumir. Um mau resultado no qual, de algum modo, o jogador que ocupar essa posição (Melgarejo ou Luisinho) possa estar envolvido arrisca-se a causar instabilidade na equipa e na sua ligação com os adeptos. "Keep fingers crossed"...
Fiquei apreensivo com o esquema apresentado naquele que teria sido o jogo de Düsseldorf, que me pareceu ser um ensaio para uma eventual saída de Witsel. Jorge Jesus vai para a sua quarta época no SLB, tempo suficiente para ter percebido a necessidade de ter uma equipa mais equilibrada e consistente defensivamente. Por isso, também cruzo os meus dedos para que Witsel não saia.
O jogo de Düsseldorf veio demonstrar que os problemas de estabilidade emocional da equipa, que já custaram a perda de muitos pontos, não só não estão resolvidos como se terão agravado (era um jogo particular e não existiu qualquer provocação ou atitude agressiva prévia do Fortuna...). E começam, não em Luisão, mas nas entradas imprudentes de Javi Garcia.
As reacções da equipa técnica e responsáveis directivos presentes após o incidente protagonizado por Luisão e o árbitro Christian Fischer revelam enorme falta de capacidade de liderança, já que esta tem de partir sempre de uma análise correcta das situações que permita agir sobre elas, resolvendo-as rapidamente. Aliás, ninguém entende muito bem a organização do futebol profissional do clube, onde, em algumas áreas, parece não existir uma inequívoca definição de funções nem uma clara capacidade de acção/decisão nos diversos níveis hierárquicos. Embora, no caso do Fortuna, a intervenção da FPF e de LFV tenha acabado por resolver o assunto, o que acima descrevo tem forte possibilidade de "dar errado".
Por último, o que me parece mais positivo: a contratação de Ola John e Salvio permite, em princípio e se tudo correr bem, resolver um dos problemas revelados pela equipa na última época: a ausência, com a excepção de Nolito, de alas "rompedores"/ "desequilibradores", um pouco à imagem de Di Maria e até de Ramires, que nem Bruno César nem Gaitán, na sua essência, são.
E depois disto? Enfim... são onze de cada lado, a bola é redonda, 45' cada parte (mais ou menos) e no fim... que ganhe o "Glorioso"!
Publicado neste "blog" quando dos 30 anos da morte de Elvis Presley, a 16 de Agosto de 2007:
"Confesso que pouco ou nada me interessa a efeméride assinalada com os trinta anos da morte de Elvis Presley. Ou dez, vinte, quarenta ou cinquenta (e etc), se lá chegar. Muito menos os disparates que oiço e leio nos media portugueses. A questão tem nula importância para a história do rock n’ roll e da música popular, estando, isso sim, muito mais ligada a fenómenos de religiosidade pagã comuns a muitas personalidades do show business, chamem-se Elvis, Eva Péron (a política, tal como Evita a encarava, também é, ou é principalmente, espectáculo) ou Carmen Miranda. Se, em Portugal, nada de semelhante se passou com Amália Rodrigues isso deve-se, talvez, ao facto de ter morrido já retirada e com idade respeitável, mas também, um pouco, ao 25 de Abril e às modificações muito rápidas a que ele deu origem na sociedade portuguesa durante as duas décadas seguintes. Aliás, existem semelhanças notáveis nos percursos de Elvis e de Amália, mormente o facto de terem tido carreiras relativamente longas, mas a sua importância na história da música popular (a níveis diferentes, evidentemente), bem como a qualidade da música por ambos produzida, se ter restringido a um período muito curto. Mas adiante...
Se quisermos assinalar a morte de Elvis Presley seria bem melhor escolher uma data como 24 de Março de 1958, dia em que “entrou para a tropa”. Ou também o dia em que deixou a Sun Records, de Sam Philips, e assinou contrato com a major RCA. Ou, ainda, o dia em que o célebre “Colonel” Parker se tornou seu manager e Elvis começou a deslizar do terreno do rockabilly e do rock n’ roll para o de vedeta do show business e do music-hall, algures entre Hollywood e Las Vegas. Isto, porque o contributo de Elvis para o nascimento do rockabilly, enquanto fusão do rock n’ roll dos negros (o termo era um eufemismo para o acto sexual) e do hillbilly dos brancos – com toda a importância sociológica que irá ter na luta contra o conservadorismo e a segregação racial na década seguinte – se restringe, fundamentalmente, ao período das suas gravações para a Sun e início do seu período RCA, onde as primeiras edições são, ainda, algumas delas, “fitas” compradas à Sun.
Elvis nasceu de facto a 5 de Julho de 1954 (data em que gravou “That´s All Right”, um blues de Arthur “Big Boy” Crudup, para a Sun), e morreu a 24 de Março de 1958, dia em que foi alistado na infantaria do tio Sam. Este é de facto o período que dá origem ao nascimento de uma nova cultura, e não apenas a uma nova música. Sejamos rigorosos e justos nas comemorações."
Alguns nomes e factos importantes:
A ouvir:
“The Sun Sessions CD” (RCA) – inclui todos os originais de Elvis para a Sun, gravados em Memphis, Tennessee, entre Julho de 1954 e Julho de 1955.
Alguma colectânea (há muitas) das suas primeiras gravações para a RCA, incluindo temas como “All Shook Up”, “Mean Woman Blues”, “Hound Dog” (da dupla Leiber-Stoller, escrito para “Big Mama” Thorton), “Blue Suede Shoes” (um original de Carl Perkins, seu colega na Sun), “Rip It Up”, “Ready Teddy”, Baby I Don’t Care” (Leiber-Stoller), “Lawdy Miss Clawdy” (de Loyd Price), “Don’t Be Cruel”, “I Got A Woman” (Ray Charles), “Tutti Frutti (de Little Richard), “Money Honey”, etc.
Outros nomes da Sun Records do mesmo período: Jerry Lee Lewis, Roy Orbison, Carl Perkins, Sonny Burgess, Warren Smith (in “The Best Of Sun Rockabilly” ou “The Sun CD Collection – Rock n’ Roll Originals").
Outros: Johnny Burnette, Larry Williams, Little Richard, Charlie Feathers, Arthur “Big Boy” Crudup."
A evitar:
"Tudo o que tenha a ver com as comemorações da sua morte, incluindo a grande maioria das referências nos media, bem como as gravações posteriores a 1958.
Os filmes."
Outros nomes:
"Sam Phillips – proprietário da Sun Records, em Memphis, que gravou e editou os primeiros discos de Elvis Presley e foi um dos primeiros brancos a gravar música negra (Howlin’ Wolf, Junior Parker, etc)".
"Dewey Phillips e WHBQ – foram o primeiro disk jockey e a primeira rádio a “passar” “That’s All Right” a 7 de Julho de 1954. Convém lembrar que foi a pujança e proliferação das editoras de discos e rádios locais, e a sua concorrência numa América em crescimento no período do pós-guerra, que esteve na base da divulgação da nova cultura "juvenil".
Scotty Moore – primeiro manager de Elvis e guitarrista nas suas primeiras gravações."
Elvis Presley - "That's All Right" (lado "A") e "Blue Moon Of Kentucky" (lado "B")
1ª gravação (5 de Julho de 1954, editada a 19 do mesmo mês) em disco de Elvis Presley(SUN 209)
Originais de Arthur "Big Boy" Crudup e Bill Monroe, respectivamente.
Peço desculpa, mas com o PIB a cair 3,3% e o desemprego a atingir os 15% numa altura do ano que até costuma ser favorável ao emprego, os portugueses deveriam exigir mais do que este tipo de afirmações ocas dos dois partidos charneira do seu sistema político. Mas deviam também exigir mais de tanta coisa... Dos jornais, das TVs, dos dirigentes olímpicos, da actuação das polícias, da Justiça... Mas será que o sabem fazer?
Seguem-se os textos escritos neste "blog" antes e após o visionamento do primeiro programa desta série na 2:
22 de Dezembro de 2006:
"Confesso que estou curioso sobre o primeiro (?) programa da série “As Grandes Batalhas de Portugal” que hoje, na 2: (21.15h), se debruça sobre a batalha de Aljubarrota, cuja descrição e enquadramento nos livros de História de Portugal do ensino secundário tem constituído fraude digna de candidatura ao “Guiness Book Of Records”, tão do agrado dos portugueses que preferem o fogo fátuo ao trabalho organizado de longo prazo. Vá lá que nos últimos anos alguns artigos de divulgação, publicados em jornais e revistas, se têm encarregue de colocar as coisas nos seus devidos lugares. De qualquer modo, e antecipando-me um pouco, não quero deixar desde já de acentuar algumas questões:
Não existia, na época, um sentimento “nacional” tal como o conhecemos hoje, não estando, por isso, o assunto na primeira linha do conflito. O levantamento do “povo” (leia-se “burgueses”) de Lisboa tem como objectivo fundamental não a “independência” mas a tentativa de evitar o seu domínio por parte da aliança entre grande aristocracia portuguesa e castelhana, o que constituiria um travão às suas aspirações de fortalecimento e poder. Forçaram mesmo aquilo a que se chamaria hoje um “parecer jurídico”, por parte de D. João das Regras, para justificar a entrega do trono a um bastardo que, ainda por cima, estaria relutante em aceitá-lo.
Estávamos, na Europa, em plena “Guerra dos Cem Anos”, e o que aconteceu em Aljubarrota (onde parece que os dois exércitos nunca estiveram realmente face a face o que, a acontecer, tornaria qualquer eventual heroísmo ou bravura inglórios), em certa medida, não foi mais do que um dos seus episódios, não substancialmente diferente do que aconteceu em Crécy e Poitiers e, mais tarde, em Azincourt. Aliás, havia ingleses do lado português, que foram decisivos, e franceses, além de portugueses (uma boa parte da grande aristocracia portuguesa combateu por D. João de Castela, que defendia os seus interesses), do lado de Castela que foram também decisivos, neste caso para derrota.
John of Gaunt, 1º Duke of Lancaster e filho de Edward III de Inglaterra, pai da futura rainha Filipa de Portugal (Philippa of Lancaster), era pretendente ao trono de Castela por via do seu casamento com D. Constança, filha de D. Pedro de Castela, e o seu envolvimento, para além de questões de Estado relacionadas com a “Guerra dos Cem Anos”, deve-se também a este facto. Invadirá, sem sucesso, Castela no ano seguinte (1386) ao da batalha de Aljubarrota.
Este é o início da chamada “aliança inglesa” (entre Portugal e a Inglaterra), episódio da luta de Inglaterra contra as duas grandes potências continentais (Castela/Espanha e França), que garantirá a independência de Portugal nos séculos seguintes mas tornará o país uma sub-potência marítima sob protecção britânica, afastando-o das grandes decisões que se jogarão no espaço europeu" continental. Talvez a referência inicial do nosso subdesenvolvimento."
23 de Dezembro (dia seguinte):
"Apesar de alguma pobreza de meios, o programa da 2: sobre a batalha de Aljubarrota pautou-se por um rigor e sentido da verdade histórica que se saúda. Recomendável: uma desmontagem que não deixou pedra sobre pedra sobre um dos maiores mitos da nossa história, que marca o fim da Idade Média em Portugal. Devia ser exibido obrigatoriamente aos estudantes do secundário e aos candidatos (devem ser poucos) aos cursos de História. Fico à espera do mesmo rigor nos programas que se seguem, sobre a batalha de La Lys (nota:já exibido neste "blog") e a operação “Nó Górdio” que não se enquadrará lá muito bem no que se designa, normalmente, por batalha. Estranha-se a ausência da Guerra da Restauração e das batalhas travadas quando das invasões napoleónicas. Esperemos por elas numa nova série. Entretanto, uma enorme chapelada aos autores do primeiro programa."
Tal como aqui disse (e não retiro uma vírgula), Luisão, ao dirigir-se ao árbitro no tom e modo como o fez, cometeu um acto estúpido em Düsseldorf, agravado por ser o capitão de equipa, acto esse que poderá eventualmente vir a trazer consequências desagradáveis (espero que não - também o disse), para si e para o clube, para além das que já se verificam no que diz respeito à instabilidade que pode estar a criar e em alguma degradação da autoridade perante os árbitros, característica que deve ser sempre apanágio de um capitão de equipa. Independentemente disso, também o disse, é sintoma da falta de estabilidade emocional da equipa já verificada em outros jogos das últimas épocas, com prejuízo de alguns pontos que poderiam ter sido conquistados.
Tendo dito isto, a direcção do SLB e o seu gabinete de comunicação têm agido correctamente no sentido de defender o seu profissional e activo do clube, assim protegendo a própria instituição. Qualquer outro clube organizado faria o mesmo, em idênticas circunstâncias, e espero continuem a agir correctamente nesse sentido. Enquanto benfiquista, têm todo o meu apoio nessa acção, escusado será dizer.
Convém ainda lembrar aos adeptos dos linchamentos e julgamentos "populares", efectuados nas páginas de muitos jornais, "blogs", caixas de comentários, etc, que existem instâncias competentes (penso que apenas a UEFA e dentro do seu quadro legal normativo) para julgar da atitude do jogador, castigando-o ou não, e, para isso, para além de achar possa existir matéria para tal, será necessário que o assunto siga os procedimentos normais e competentes, isto é, e segundo parece, que exista um relatório oficial do jogo entregue na DFB, que a ocorrência seja aí mencionada, etc, etc. Não me parece que a UEFA decida em função das imagens, principalmente de um jogo particular e não de uma competição em que esteja envolvida, títulos dos jornais ou a pedido da Cofina e dos seus Octávios Ribeiros, nem que a eventual entrega de uma queixa-crime, por parte do árbitro, possa vir a influenciar as instâncias desportivas. Aguardemos.
Vicente Moura, presidente do Comité Olímpico Português, afirmou, como justificação para os fracos resultados conseguidos pelos atletas portugueses em Londres, que "não temos desporto escolar nem universitário". Não nego a pertinência das afirmações de Vicente Moura - embora gostasse de as ter ouvido antes e não depois da participação portuguesa nos Jogos, mas também a isso me vou habituando - e também não ignoro a importância da prática desportiva entre os jovens, que transcende em muito a questão da alta-competição. Mas gostava de chamar a atenção para o seguinte: no tempo da ditadura existia desporto escolar (os campeonatos da Mocidade Portuguesa) e universitário (campeonatos universitários), uma escola de vela da MP e até três clubes (CDUL, CDUP e AAC) e três estádios universitários novinhos em folha (Lisboa, Coimbra e Porto) com vários campos relvados e pistas. Devo dizer, em desportos diferentes, participei em ambos, pelo que posso alegar "saber de experiência feito". Pese embora o ensino secundário e universitário estivesse então reservado às elites, o que muito limitava o campo de recrutamento, não consta Portugal tivesse um desporto de alta competição digno desse nome ou alcançasse melhores resultados nos Jogos Olímpicos nessa altura e nesse tempo. Mais ainda. Não me consta Carlos Lopes, António Leitão, Fernanda Ribeiro, Rosa Mota, Naide Gomes, Nelson Évora, Sérgio Paulinho, Armando Marques, Rui Silva, Francis Obikwelu, etc, fossem oriundos dos desporto escolar ou a sua evolução enquanto atletas se ficasse a ele a dever, mesmo que em limitada percentagem.
Não nego, como acima já disse, a importância do desporto escolar, que não se esgota na sua contribuição futura para a melhoria dos resultados alcançados no desporto de alta-competição. Mas antes do COP lançar mão da ladaínha e dos lugares-comuns do costume, talvez não fosse má ideia pensar um pouco antes de falar, analisando os factos e as condições em concreto em vez de "deitar da boca para fora" o que possa "parecer bem" ou ter impacto mediático. Nos salazarentos tempos da ditadura, a desculpa costumava ser a "falta de instalações", o que também calhava sempre bem... Pelo que oiço e leio, não me parece se tenha aprendido grande coisa... Infelizmente.