Portugal participou pela primeira vez nos Jogos Olímpicos em 1912, em Estocolmo, e ganhou a sua primeira medalha em 1924, em Paris (hipismo). Desde essa sua primeira participação até 1976, nos Jogos de Montreal, todas as medalhas conquistadas o foram naquilo que poderíamos chamar a área dos desportos aristocrático/militares (hipismo, esgrima e vela), que, aliás, tiveram grande importância na génese dos Jogos Olímpicos, numa época em que apenas as elites sociais e económicas tinham condições (tempos livres e dinheiro) para a prática desportiva, para se tornarem verdadeiros "sportsmen". O Portugal da 1ª República e, depois, da ditadura era um país demasiado pobre, onde qualquer disseminação da prática desportiva era impossível, sem uma classe média digna desse nome, em número e poder, e onde as Forças Armadas e a aristocracia fundiária foram sempre, aliás, dois dos apoios mais incondicionais do regime que governou o país entre 1926 e 1974.
É já depois do 25 de Abril, com uma democratização que abriu finalmente algumas portas a uma massificação da actividade desportiva já timidamente ensaiada nos finais da ditadura, com o crescimento económico dos anos 60, que o estado de coisas começa a mudar; e muda por onde podia mais facilmente fazê-lo num país ainda a caminho do desenvolvimento e do estatuto europeu: pelas corridas de fundo, onde o investimento em infraestruturas e metodologias de treino é reduzido e basta uma estrada e vontade de correr para se conseguir progredir. É a partir da medalha de prata de Carlos Lopes nos 10 000 metros, em Montreal, que começa a época da dominação portuguesa nas provas de fundo do atletismo. E é também após a democratização começada com o 25 de Abril, com o seu espírito igualitário, que as mulheres conquistam as suas primeiras medalhas (Rosa Mota na maratona de Los Angeles).
Vamos ter de esperar por Sydney e por um Portugal já membro de pleno direito da UE, um país já terciarizado, com uma classe média em expansão e integrado no primeiro mundo desenvolvido, para que a distribuição de medalhas atinja desportos mais sofisticados e onde o investimento é maior (judo, triatlo, ciclismo e, agora, canoagem), ou provas de atletismo integradas nas chamadas disciplinas técnicas, muito graças aos portugueses imigrantes africanos de primeira ou segunda geração. No fundo, também um sinónimo de desenvolvimento, pois apenas os países mais desenvolvidos são estruturalmente destino de emigração.
Como se pode ver, percorrer a história da participação olímpica portuguesa é também visitar a evolução do país nos últimos quase 100 anos. O que virá agora e no futuro, quando a política de "empobrecimento" parece ter sido erigida em desígnio nacional?
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