Durante a maior parte de século XX os jornais constituíram-se no principal meio de informação, tendo, uma sua maioria, uma orientação ideológica definida e de todos conhecida. Uns estavam próximos da direita democrática conservadora, normalmente democrata-cristã; outros da esquerda reformista, dos partidos socialistas e sociais-democratas da Internacional Socialista; alguns, muitas vezes sob a forma de revistas semanais ("L'Express"), de algum liberalismo, dito "tecnocrático", centrista e ainda outros, como o "L'Humanité" ou o "L'Unitá", umbelicalmente ligados, enquanto respectivos orgãos oficiais, aos partidos comunistas, então organizações de massas importantes nos países da Europa do Sul. Mesmo nas ditaduras ibéricas, e apesar da censura e da proibição da existência de partidos, era essa a situação dominante. Em Portugal, por exemplo, o "República" reflectia as posições do "reviralhismo" republicano e, mais tarde, do embrião do que viria a ser o Partido Socialista; o "Diário de Lisboa", da família Ruella Ramos, mais liberal, era também ele simpatizante da oposição democrática, funcionando o "Diário de Notícias", um pouco, como orgão oficioso do regime. E por aí fora... Portanto, para todos aqueles, leitores, para quem os assuntos da política não eram estranhos, seria fácil entenderem das razões de oportunidade desta ou daquela notícia e até interpretarem-na à luz dos acontecimentos políticos conjunturais e da orientação do jornal. Claro que, parece-me à distância, as questões deontológicas tinham também outro peso, o que se reflectia necessariamente na idoneidade da profissão e na credibilidade do que se lia. Mas adiante...
Hoje, tudo isso é passado, e os jornais, de "orgãos de informação" e campo de luta política e ideológica, transformaram-se em panfletos onde a defesa dos interesses empresariais do grupo a que pertencem se tornaram prioritários; e se queremos perceber o porquê de certas notícias, muitas delas sem qualquer credibilidade e aí plantadas "custom made", temos de começar por conhecer a estrutura accionista do jornal, os projectos de desenvolvimento do grupo empresarial a que pertence, as ligações dos seus accionistas a alguns governantes e ex-governantes e de ambos ao mundo dos negócios, a loja maçónica ou a organização de influência religiosa em que militam os seus jornalistas, quais a agências de comunicação com maior influência junto da sua direcção e corpo redactorial, etc, etc. Uff... convenhamos que é obra, tarefa talvez demasiado vasta e árdua para que possa atrair um simples leitor...
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