No fundo, se pensarmos bem, algumas das principais memórias desportivas dos Jogos Olímpicos, aquelas que ficaram para a História ou nos lembram, no presente, as grandes lutas desportivas do passado, estão também indissoluvelmente ligadas à luta política, ou têm uma determinada conjuntura política como os necessários referencial e pano de fundo que lhes deram essa dimensão "bigger than life". Exemplos? Jessie Owens em 1936, Berlim; o célebre jogo "blood in the water", de polo aquático, entre a Hungria e a URSS, em 1956, Melbourne, tendo como pano de fundo o esmagamento da revolução húngara; John Carlos, Tommie Smith e o "black power" nos jogos do México, em 1968; a final de basquetebol entre os USA e a URSS em 1972, em Munique; a luta entre Nadia Comaneci, de uma Roménia pouco alinhada com as teses de Moscovo, e as soviéticas nos jogos de Montreal; e até o incidente entre a a sul-africana Zola Budd, correndo pelo UK devido ao boicote à África do Sul, e a americana Mary Decker, nos 3000 metros obstáculos dos jogos de Los Angeles. Como pano de fundo, desde o final da WWII e até à implosão da URSS e do "bloco comunista", a luta pela hegemonia desportiva entre URSS, RDA e USA, que levou à criação de autênticos monstros de laboratório e à obtenção de marcas e registos que ainda hoje se mantêm e nos causam incredulidade.
Como vêm, nem sequer é necessário repescar questões políticas "stricto sensu", como boicotes, países não convidados por questões políticas, o massacre de Munique, as questões entre amadorismo e profissionalismo, também elas de natureza essencialmente política e social, para concluir da enorme carga política dos Jogos. Nada contra, claro: a política é parte essencial da vida e nunca um acontecimento desta magnitude poderia ou até deveria ficar fora dela. Ainda bem que não ficou e, no fundo, talvez seja mesmo a actual subalternização da política em favor da economia e das finanças uma das razões que têm vindo a contribuir para tornar os Jogos Olímpicos de 2012 dos mais desinteressantes de sempre.
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