Vicente Moura, presidente do Comité Olímpico Português, afirmou, como justificação para os fracos resultados conseguidos pelos atletas portugueses em Londres, que "não temos desporto escolar nem universitário". Não nego a pertinência das afirmações de Vicente Moura - embora gostasse de as ter ouvido antes e não depois da participação portuguesa nos Jogos, mas também a isso me vou habituando - e também não ignoro a importância da prática desportiva entre os jovens, que transcende em muito a questão da alta-competição. Mas gostava de chamar a atenção para o seguinte: no tempo da ditadura existia desporto escolar (os campeonatos da Mocidade Portuguesa) e universitário (campeonatos universitários), uma escola de vela da MP e até três clubes (CDUL, CDUP e AAC) e três estádios universitários novinhos em folha (Lisboa, Coimbra e Porto) com vários campos relvados e pistas. Devo dizer, em desportos diferentes, participei em ambos, pelo que posso alegar "saber de experiência feito". Pese embora o ensino secundário e universitário estivesse então reservado às elites, o que muito limitava o campo de recrutamento, não consta Portugal tivesse um desporto de alta competição digno desse nome ou alcançasse melhores resultados nos Jogos Olímpicos nessa altura e nesse tempo. Mais ainda. Não me consta Carlos Lopes, António Leitão, Fernanda Ribeiro, Rosa Mota, Naide Gomes, Nelson Évora, Sérgio Paulinho, Armando Marques, Rui Silva, Francis Obikwelu, etc, fossem oriundos dos desporto escolar ou a sua evolução enquanto atletas se ficasse a ele a dever, mesmo que em limitada percentagem.
Não nego, como acima já disse, a importância do desporto escolar, que não se esgota na sua contribuição futura para a melhoria dos resultados alcançados no desporto de alta-competição. Mas antes do COP lançar mão da ladaínha e dos lugares-comuns do costume, talvez não fosse má ideia pensar um pouco antes de falar, analisando os factos e as condições em concreto em vez de "deitar da boca para fora" o que possa "parecer bem" ou ter impacto mediático. Nos salazarentos tempos da ditadura, a desculpa costumava ser a "falta de instalações", o que também calhava sempre bem... Pelo que oiço e leio, não me parece se tenha aprendido grande coisa... Infelizmente.
3 comentários:
Meu caro Jc
Estou de acordo consigo. Mas não sei se jã reparou que os nomes de que fala, vêm todos pós-25 de Abril. Antes...népia. Só um 4º lugar do Manuel de Oliveira nos 3.000 m obstáculos.
Penso que o V. Moura se referia mais à organização e às iniciativas da MP. Claro que fechados ao mundo como estávamos e com o reduzido campo de recrutamento que havia e que refere, seria difícil obter resultados. Além do amadorismo com que tudo era feito.
Hoje há um campo de recrutamento muito mais alargado, mas não há iniciativas, caminhamos a passo de caracol,e os clubes continuam a fazer o papel que caberia ao governo.
Este ano também houve algum azar no atletismo com tantas lesões simultâneas. De qualquer forma,e com os resultados que foram obtidos, não acredito que algum dos atletas lesionados tivesse possibilidade de obter qualquer medalha.
Abraço
Caro Vic: Longe de mim estar a defender a ditadura! Livra! O que tento equacionar é se a obtenção de resultados na alta-competição, em geral, e nos Jogos Olímpicos, em particular, está assim tão ligada ao desporto escolar. O História não nos mostra tal evidência, o que v. mtº bem confirma quando fala dos quase inexistentes resultados desportivos antes do 25 de Abril, coisa que tb afirmo no "post". Mais: no meu e seu tempo de liceu, o andebol era o desporto escolar por excelência. Nos liceus por dpassei (Camões e D. João de Castro)era praticado nas aulas de EF e até havia campeonatos internos, para além do da "bufa". Mas não há memória de Portugal ter uma equipa, nacional ou de clube, c/ um mínimo de qualidade internacional.
Já agora: ontem vi o seu clube e parece-me finalmente têm uma defesa decente. Mas o Olympiacos tb foi quase inofensivo... Assim, Leonardo Jardim não chega ao Natal...
Abraço
Necessidade de manter testando meu blog. Não funciona como eu quero que ela ainda. Obrigado pelo tema. Talvez isto vai ter o meu olhar melhor.
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