Em todos os campos da actividade humana, das pessoas e das instituições, existem erros pontuais e problemas estruturais. Os primeiros são quase sempre ditados por inexperiência; má avaliação, aqui e ali, das situações; lacunas de conhecimento; desconhecimento total ou parcial da realidade que enfrentamos; medo que nos tolhe ou sobreavaliação das nossas capacidades. Muitas vezes, mesmo,um conjunto destas circunstâncias. Por graves que possam ser as suas consequências, são normalmente corrigíveis com pequenos ajustamentos, sem necessidade de grandes mudanças nas organizações ou alterações significativas nos recursos humanos envolvidos. Já quando falamos de problemas estruturais, que têm a sua raiz no modo como funcionam as organizações, na personalidade e ideias de cada um ou de quem dirige uma instituição, a situação é muito diferente, e é quase sempre preciso mexer na organização, no modo como esta funciona e, nos casos em que falamos de indivíduos, é necessária uma correcção em alguns ou em muitos aspectos da sua personalidade, para os corrigir.
No SLB dos últimos anos existiram alguns erros pontuais, cometidos por inexperiência, deficiente avaliação das situações e, até, por soberba de alguns, treinador incluído. Estou a falar, por exemplo, da soberba com que se encarou a participação na Champions League na época de 2010/2011; dos erros cometidos com a constituição da equipa em alguns jogos (Liverpool e FCP), com a colocação de David Luiz a defesa-esquerdo; da contratação pouco avisada de um guarda-redes sem "estofo" para um grande clube (Roberto); do modo deficiente como tantas vezes se "rodou" o plantel; da leviandade e pouco rigor postos na contratação de um defesa-esquerdo e mais um ou outro problema que não vale a pena enumerar. Felizmente, a frequência desses erros tem vindo a diminuir, com reflexos nos resultados obtidos.
Mas, infelizmente, sobrepondo-se a estes, existem também alguns problemas estruturais que, portanto, estão ligados ao modo como funciona o futebol profissional do clube, à organização (ou parte dela) e às ideias e "way of doing the things" de algumas pessoas que dirigem algumas das suas áreas. E estou a falar, fundamentalmente, da área técnica. Indiquei-as no
"post" anterior e tenho-as focado, ao longo do tempo, neste "blog": um modelo de jogo que entusiasma, mas demasiado desgastante, que não sabe "ter bola", tem dificuldade em controlar todos os momentos e tempos do jogo e se revela muitas vezes pouco seguro (não estou a falar de "segurança defensiva", mas de "segurança de jogo"). Que tem dificuldade, pelo menos internamente, em se impor sem reservas nos grandes jogos: nunca, até agora, conseguiu vantagem directa sobre o FCP (na época passada perdeu mesmo dois jogos em casa), só esta época o conseguiu sobre o S.C. Braga, tendo mesmo perdido para este uma meia-final da Liga Europa, e, no actual campeonato, não foi além de empates caseiros com FCP, S.C.Braga e G.D. Estoril-Praia, equipas que, em princípio, se irão classificar nos cinco primeiros lugares. Por outro lado, a equipa tem-se revelado, nestas quatro épocas, emocionalmente demasiado instável, coleccionando expulsões em jogos decisivos e apresentando níveis de ansiedade demasiado elevados que parecem ser sintomáticos de alguma falta de confiança. Claro que o facto de ser um "challenger" e não um habitual ganhador potencia essa ansiedade, que tantas vezes lhe tolhe o discernimento, mas deveria competir a quem a dirige resolver um problema que me parece ser demasiado reflexo da personalidade do seu treinador.
Agora que se aproxima o fim da época, e tendo também em atenção, claro, os resultados alcançados num período de quatro anos, saber distinguir entre erros pontuais e problemas de natureza estrutural, entre, por um lado, a substituição mal feita, o jogador que poderia ou não ter jogado e, por outro, a ideia de jogo e a preparação, crescimento e mentalidade de jogadores e equipa, parece-me essencial para que as decisões a tomar na área técnica, incluindo a recondução ou não de quem a dirige, possam ser tomadas com ponderação e segurança. Existe um período de tempo já suficientemente longo para o permitir.