Numa coligação, o papel fundamental dos partidos mais pequenos e a mais valia que podem representar, para além da soma dos votos e dos deputados, é trazerem para o governo de que fazem parte a representação de grupos minoritários, alargando assim a base de apoio desse mesmo governo. Claro que o risco de alguma conflitualidade no executivo pode assim aumentar, mas o alargamento da sua base social de apoio e um certo "arejamento" de ideias, evitando o "enquistamento", que esses partidos minoritários possam trazer consigo parece-me, numa maioria dos casos, compensar esse tal risco de alguma conflitualidade acrescida. O CDS de Paulo Portas tem percebido isso e, desse modo, foi tentando, na sua história recente, arvorar-se em defensor e representante privilegiado de alguns desses grupos e dos seus interesses e reivindicações mais imediatos. Ele foram os "lavradores", os "antigos combatentes", os "pescadores", os "pensionistas" e mais alguns que não recordo. No fundo, uma pequena-burguesia digamos que esquecida pelo poder, nele pouco representada ou deixada para trás pelo desenvolvimento, pela integração europeia e globalização da qual o CDS se quis fazer representante. A inteligência e habilidade políticas de Paulo Portas, em conjunto com o seu indiscutível carisma e, porque não dizê-lo, alguma falta de escrúpulos, foram dando o seu contributo e o CDS lá se foi mantendo na sua quota eleitoral de dois dígitos.
Esta foi, para o CDS, uma história mais ou menos bonita, mas que me parece ter acabado num domingo véspera de um treze de Maio. Agora, se aos portugueses ainda lhes restar alguma memória ou discernimento político, nem uma oração, ajoelhado junto ao túmulo da irmã Lúcia, poderá salvar Paulo Portas do descrédito e o CDS de se limitar a fazer número no governo, acrescentando-lhe os seus votos e deputados. Vítor Gaspar ganhou mais uma batalha.
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