Em termos de gestão "pura e dura", dos seus princípios, confesso não vejo uma boa razão, um racional ou uma argumentação convincente que defenda a continuidade de Jorge Jesus como treinador do SLB. Até agora, não a vi, o que não significa não exista e quem a possa defender no interior do clube não esteja na posse de argumentos decisivos nesse sentido. Mas como não detenho esses elementos, vamos lá analisar com os que tenho:
- Existem erros estruturais, continuados no tempo, que durante quatro anos não foram resolvidos e se vão mantendo. Não estamos, portanto, a falar de questões pontuais (uma ou outra substituição mal feita, um acto de indisciplina aqui e ali, duas ou três contratações questionáveis e outras questões de teor idêntico), mas de aspectos como modelo de jogo, mentalidade da equipa, quebras físicas e/ou mentais nos finais de temporada, uma comunicação desastrosa, etc, etc. Ora manda a mais elementar regra da gestão concluir que as mesmas acções dão necessariamente origem às mesmas consequências.
- Valorizam-se jogadores? Claro, e esse é um ponto em favor de Jorge Jesus, mas sem títulos e conquistas tal valorização acaba por não ser sustentável e os valor dos jogadores acabará por sofrer uma erosão. Uma das razões pela qual o FCP faz bons negócios é o facto da conquista de títulos ser uma garantia da qualidade (técnica, física e mental) dos jogadores que "vende". Uma empresa que sistematicamente é mal sucedida acaba por desvalorizar os seus activos, quem nela trabalha.
- Estabilidade? Como muito bem disse ontem Carlos Daniel (uma das poucas vozes mais ou menos lúcidas na análise do futebol português), na RTPInfo, estabilidade não constitui um fim em si mesmo, mas um meio importante para se atingirem os objectivos definidos. Quando estes não são continuadamente atingidos, há que descobrir e analisar as razões e fazer as alterações necessárias.
- Com Jorge Jesus o clube reduziu a distância que o separava do FCP? Sim, mas depois do título de campeão na primeira época, não se pode concluir essa distância tenha sido percorrida degrau a degrau, sustentadamente, numa aproximação continuada. Inclusivamente, a equipa mostrou sempre uma notória inferioridade nos jogos entre os dois clubes, situação que não foi ultrapassada, nem sequer minimizada, nos últimos anos. Além disso, não é possível comparar a organização do clube nos últimos 4 ou 5 anos e o investimento feito no plantel nos anos de Jorge Jesus, e já mesmo na época de Quique Flores, com o que acontecia em épocas anteriores. Podemos dizer que a gestão técnica de Jorge Jesus respondeu parcialmente ao acréscimo de investimento realizado, mas sem mais.
- Já toda a gente o disse: se as coisas correrem mal na próxima época e o clube tiver de dispensar Jorge Jesus durante a vigência do seu contrato, tal significará um prejuízo de um par de milhões de euros, não falando de eventuais perdas desportivas e em outras áreas de negócio (bilheteira, "merchandising"). No futebol existem imponderáveis e as coisas por vezes acontecem contra toda a lógica, mas renovar o contrato de Jorge Jesus será sempre uma decisão de risco, emocional, mais baseada numa "crença" do que em princípios de racionalidade. Eu não o faria...
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