Em 1969, durante a final da Taça de Portugal disputada entre a Associação Académica de Coimbra e o Sport Lisboa e Benfica, os estudantes de Coimbra, em tempo de luto académico, manifestaram-se nas bancadas do Estádio Nacional, de forma bem visível e audível, contra a ditadura. Era um tempo em que quem se manifestava corria sérios riscos de ser espancado, acabar na prisão, expulso da universidade ou incorporado á força no exército colonial. Em sentido contrário, já após a tentativa de golpe de estado de 16 de Março de 1974, no estertor do regime, muitos dos espectadores presentes num jogo SCP-SLB, realizado no estádio José Alvalade, aplaudiram Marcelo Caetano, que assistia ao jogo. Na final da Taça de Portugal do passado domingo, numa conjuntura terrível para grande parte do povo português e perante o Presidente da República da democracia com mais baixos índices de popularidade de sempre, e apesar de terem sido expressamente convidados por uma organização política a manifestarem-se e a presença da TV incentivar ao protesto, amplificando-o, nem um só gesto de desagrado para com Cavaco Silva se fez notar ou ouvir no Estádio Nacional. Este é o retrato de um país anestesiado, adormecido, que parece permanecer absolutamente indiferente e conformado com um presente de sacrifício sem que se lhe vislumbre um sentido e um futuro de empobrecimento e retrocesso civilizacional.
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