Uma questão fundamental na “actual vaga de crimes violentos” é que, a existir (por exemplo, o número de assaltos a bancos diminuiu em relação a 2006, menos 31 casos, e apenas se registaram mais 10 casos do que no já longínquo ano de 1994), trata-se de uma situação conjuntural para a qual dificilmente existe uma resposta do mesmo tipo, mas apenas estrutural. Expliquemo-nos. No caso de uma vaga de incêndios é sempre possível actuar conjuntural e pontualmente com alguma eficácia, colocando rapidamente mais meios no combate e prevenção dos fogos, nem que seja recorrendo a militares e aluguer de material. Mais ainda, é possível actuar à posteriori, isto é, enviando esses meios adicionais para o local do sinistro tornando mais eficaz o seu combate. Isso contribui para, de imediato, apaziguar o sentimento de insegurança e alarme dos cidadãos, reforçando a confiança destes no seu governo. Já no caso do crime violento essa actuação conjuntural revela-se mais complicada na sua eficácia imediata, já que não se formam mais polícias de um dia para o outro (e o seu número parece ser já suficiente), só se melhora a eficácia da investigação a médio/longo prazo, não se pode colocar vigilância imediata em todos os locais onde o crime possa ser possível, vai sendo – felizmente - impossível alterar as leis ou as decisões dos tribunais “custom made” e, por fim, quando a polícia possa chegar ao local já, na esmagadora maioria dos casos, nada é possível fazer para evitar o crime ou minorar as suas consequências. Acresce que este tipo de criminalidade é um fenómeno urbano, e não rural como os incêndios, um meio sentido como mais “agressivo” para quem nasceu ou ainda tem fortes ligações à “terra”. Como, deste modo, o alarmismo dos cidadãos tende a manter-se e a confiança nos orgãos de governo a desvanecer-se, por não se verem acções imediatas como o “povo da SIC” pretende, o estado tende a virar-se para acções de “grande instrumental”, de grande mediatismo mas eficácia perto de nula. É o que se passa com estas mega-operações policiais a que estamos a assistir, em que são utilizados “grandes meios” que o output final das operações está longe de justificar. Quando muito, apanham-se alguns pilha-galinhas: condutores com excesso de álcool, um ou outro pequeno traficante de droga, meia dúzia de carros roubados, uma faca e, com sorte, uma pistola ou outra. "Much ado about nothing"! Talvez o “povo da SIC”, sempre tão célere a protestar contra os salários dos gestores e dos jogadores de futebol sem colocar a questão da respectiva produtividade; talvez os sectores mais conservadores e securitários da sociedade, sempre a protestar contra a ineficácia do estado (às vezes, mas nem sempre, com alguma razão – não toda), não ficassem muito agradados com o deve e haver deste tipo de actuações em que o dinheiro dos contribuintes é investido com poucos ou inexistentes resultados. Mas injecções de água destilada sempre acabam por originar algumas melhoras em doentes imaginários, não é assim? Enquanto os doentes forem pagando e achando que melhoram...
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