Confesso que tenho seguido com indesmentível curiosidade algumas das análises e comentários à comunicação ao país do Presidente da República, tentando, através de elaboradas teorias da conspiração, especulações várias e dissecações mais ou menos obnóxias, justificar o injustificável: afinal o rei (neste caso, o presidente) não ia nu mas sim vestido dos tecidos mais raros, das mais finas sedas e brocados e, como nunca se engana e raramente tem dúvidas, por certo enxergou mais longe do que qualquer um de nós, simples mortais e comuns cidadãos, poderia fazer mesmo num clear day de Verão.
Não sendo jurista e muito menos constitucionalista, não me vou embrenhar das minudências técnico-jurídicas do estatuto açoreano, não me custando, contudo, admitir, depois de consulta rápida ao assunto, que algumas razões poderão assistir a Cavaco Silva, justiça seja feita.
Mas o problema é que não será esta a questão principal, mas sim a forma de intervenção escolhida e as implicações que isso poderá vir a ter no futuro relacionamento entre cidadãos e PR e, neste caso, ao optar pelo formalismo do anúncio, pela escolha do horário e dos “media” das grandes ocasiões e, até, pelo tempo em que o fez, o PR terá frustrado expectativas na maioria que as tinha e mostrado que, embora talvez não cavalgando nu, afinal as sedas e brocados nada mais eram que roupa “made in China” comprada na “loja dos trezentos”. Ou seja, mostrou, neste caso, ter um conhecimento algo distorcido do perfil dos cidadãos e um domínio precário dos "media" do país a que preside. Será que custa muito admiti-lo e não seria isso bem mais útil para a defesa do mandato presidencial e da instituição que Cavaco Silva representa?
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