terça-feira, agosto 19, 2008

Portugal e os Jogos Olímpicos (7): que fazer?

Do mesmo modo como Vicente Moura apenas veio a terreiro fazer afirmações contundentes sobre a participação olímpica de alguns atletas quando sentiu que o seu lugar de presidente do COP poderia estar em causa, acabando, perante os resultados de hoje, por decidir não se recandidatar, também afirmações, mais ou menos bem intencionadas, apelando ao brio dos atletas portugueses pouco ou nada conseguirão resolver, tal como, por si só, acontecerá com a demissão de Vicente Moura. É preciso responzabilizar premiando quem obtém resultados ou mostra capacidade para os vir a conseguir no futuro e penalizando quem se mostra incapaz de progredir, concentrando os investimentos onde essa a evolução possa ser possível.

Como pode isso vir a ser feito? Bom, já em posts anteriores lançei algumas pistas, mas tentemos aqui condensar algumas das propostas dispersas em outros posts, sempre baseando o nosso raciocínio no facto de a participação nos Jogos Olímpicos não dever funcionar como um prémio mas como uma ferramenta para o “crescimento” desportivo e o progresso dos resultados.
  • Como disse, não me parece fazer qualquer sentido seleccionar para os JO quem apenas conseguiu obter o mínimo com demasiada dificuldade e em provas realizadas em condições muito específicas, “desenhadas” especificamente para o efeito. Claro que depois de ultrapassado esse “pico” de forma, que deveria ser programado para acontecer durante os Jogos e não para alcançar o “mínimo”, e em condições longe das ideais, mesmo em termos de “pressão” competitiva, o atleta, sabendo que se irá arrastar pelos últimos lugares e sem qualquer possibilidade de lhes fugir, não terá qualquer incentivo a continuar a sua preparação e concentração, preferindo o “turismo” e o “convívio”.
  • A selecção deveria, para além dos mínimos, basear-se também em outros parâmetros, tais como a evolução recente e frequência dos resultados dos atletas, as classificações e marcas obtidos anteriormente em grandes competições, a margem de progressão existente, capacidade psicológica demostrada, etc. Por exemplo, não faz qualquer sentido seleccionar para uma grande competição quem, já ultrapassado o auge da sua carreira e sem margem de progressão evidente, nunca tenha alcançado qualquer lugar ou resultado, no mínimo, dentro da média de uma grande competição.
  • Também não me parece ser defensável continuar a investir em Federações desportivas cuja evolução de resultados o não justifica, sem que estas apresentem um plano estratégico coerente que prove a sua capacidade para inverter essa tendência, sempre tendo em atenção que, em condições idênticas, acções semelhantes geram necessariamente os mesmos resultados. Será este o caso da Federação Portuguesa de Natação. Os investimentos devem, isso sim, ser canalizados para onde mostrem ser rentáveis. O mesmo se passa em relação a atletas e treinadores.
  • Deve ser seleccionado um conjunto de modalidades (poucas) nas quais, historicamente, o país tenha demonstrado capacidade para obter resultados consistentes (vela, atletismo, judo), ou algumas outras, emergentes, nas quais as potencialidades sejam evidentes, tanto pelo facto de terem atletas ganhadores já com provas dadas, como é o caso de Vanessa Fernandes, como por estarem em franco desenvolvimento (v. g. triatlo, canoagem). Nessas modalidades e atletas deve ser concentrado o investimento.

    E fiquemo-nos por aqui, pelo menos por agora... Talvez volte ao assunto.

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