segunda-feira, agosto 04, 2008

As aventuras e desventuras de um cidadão que resolveu ir a Famalicão de combóio

Nas últimas semanas tenho tido de me deslocar, por razões profissionais, ao “Portugal desconhecido”; aquilo que dantes se chamava “província”, expressão que caiu em desuso por politicamente incorrecta. Até aqui, as seis ou sete vezes em que isso aconteceu, tenho-me deslocado de carro, tal como a maioria dos portugueses o faz, já que as auto-estradas do Dr. Cavaco e do Engº Sócrates colocaram qualquer ponto do país a não mais de três ou quatro horas de distância e o carro evita ter de usar depois um táxi quando chegamos ao destino - para além de flexibilizar os horários. Mas, mesmo assim, confesso que isto de guiar seiscentos ou setecentos quilómetros num dia, por repetido, acaba por me maçar um bocado e, já que amanhã terei de ir até Famalicão (o que se faz para ganhar a vida!), alguém sugeriu que tentasse o combóio, já que parece que o Alfa e o Intercidades prolongam a sua viagem até Braga e por Famalicão têm paragem. Bom, busca na net e primeira decepção: para estar em Famalicão a tempo de uma reunião às 14.30h teria de sair de Lisboa no Alfa das 7.00h da manhã (o que significava levantar-me nunca depois das 5.30h), chegar a Famalicão às dez e picos e ficar a “flanar” até às 14.30h a ver a paisagem local. Nada feito, pois. Mas eis que, numa segunda busca, concluo que existem comboios suburbanos que, do Porto, demandam a dita Famalicão e, assim sendo, o Alfa das 10h serve que nem uma luva. Alegria esfuziante!

Bom, lá percebi então que não poderia comprar o bilhete Porto-Famalicão e volta na net ou no Multibanco, o que, no limite da minha boa vontade, fui capaz de entender, pois talvez sobrecarregasse demasiado o sistema, pensei. Como, por norma e ao contrário da maioria dos portugueses, costumo dedicar a hora de almoço nos dias de trabalho a coisas bem mais úteis do que comer chocos com tinta, entrecosto ou cozido à portuguesa, resolvi deslocar-me a Stª Apolónia (ao que parece padroeira dos dentistas), tentando comprar o dito bilhete e confirmar, não fosse o diabo (que nestas coisas é muito português) tecê-las, que o que tinha visto na net sobre os tais suburbanos era mesmo verdade, "verdadinha" e as horas condiziam. Metropolitano (onde, para além de me estrear na nova extensão da "linha azul", consegui confirmar que no dito meio de transporte encontramos duas espécies de mulheres: as brasileiras e as portuguesas que gostam de parecer brasileiras) e nova decepção: na principal estação de comboios do país não é possível comprar um bilhete Lisboa-Porto-Famalicão e volta, pois o trajecto do Porto a Famalicão é, neste caso, suburbano, seja lá isso o que for mas parece ser algo como a linha de Cascais ou de Sintra. Mais ainda, quando perguntei na bilheteira se o horário dos tais suburbanos era mesmo o que tinha visto na net, a resposta veio célere: “aqui não posso ver, mas se está na net está certo”. E pronto, lá comprei em Stª Apolónia o bilhete do Alfa que poderia ter adquirido sem me levantar da cadeira e terei de comprar o "dito cujo" do suburbano amanhã em Campanhã, "carago"! Isto sem ter tempo de ir quase em frente comer uns filetes ao benfiquista Aleixo, dos poucos sítios do Porto onde não me sinto um intruso. Ah, e de caminho, já que não tenho de guiar e preciso de bem ocupar o meu tempo, vou perguntar ao Engº Sócrates se na Finlândia também é assim!

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