Continuando, também afirma Miguel Nora que existem “relatórios que concluem ser uma elevada percentagem do público “provador”, nas “Amoreiras”, constituído por estrangeiros, provavelmente dos hóteis circundantes”. Ora bem, como dizem na “Inbicta”, embora gostasse de saber exactamente a percentagem (esta minha mania dos números...), e fazendo um pouco de humor (espero Miguel Nora não se ofenda), digamos que isso me enche de medo, pois sendo a maioria dos hóteis situados ali por perto unidades de 5 estrelas, frequentados por gente, em princípio, mais sofisticada e com maior poder de compra e sabendo, tão bem ou melhor do que Miguel Nora, a imagem que, maioritariamente, os vinhos portugueses ainda têm no estrangeiro, apesar dos esforços de alguns produtores, ao olhar para os vinhos que vejo lá pelo balcão da ViniPortugal receio bem que apenas sirvam para confirmar essa má imagem... E isto, caro Miguel, nada tem a ver com o seu preço, pois, tal como disse no post, existem vinhos de qualidade, para o “dia a dia”, a preços que rondam os 5 euros ou até menos e que em nada, mesmo nada, envergonham se comparados com vinhos do mesmo nível de preço das mais diversas origens, incluído do Novo Mundo e da Austrália, regiões conhecidas por serem capazes de produzir bons vinhos a preços muito razoáveis. E quanto ao facto dos vinhos provados serem VQOPRD, DOC ou outra coisa qualquer, você sabe, tão bem como eu, o que isso significa: zero ou próximo disso!!! Essa classificação tem mais a ver com a legislação do IVV quanto a castas autorizadas, etc, do que com a sua efectiva qualidade. Quando muito significa que é um vinho, digamos, "honesto", em termos de qualidade! Nada mais! Como muito bem sabe, aquele que foi durante muitos anos o vinho português mais conceituado, o “Barca Velha”, feito na Região Demarcada do Douro, nunca foi DOC mas sim vinho de mesa! Também sabe os problemas que alguns excelentes produtores tiveram, e estou a lembrar-me, por exemplo, do Luís Pato e do Carlos Campolargo, ambos da Bairrada e “autores” do que de melhor por lá se faz, e que os levaram a decidir por deixar de ostentar a designação DOC nos seus vinhos. Por isso...
Quanto ao momento e modo de prova, incluindo os copos de plástico, é v. o primeiro a reconhecer que não é o adequado. Muito bem: reconhecendo essa questão essencial, a pergunta que se deve fazer é porque se opta por continuar uma acção manifestamente inadequada em, pelo menos, duas das suas vertentes fundamentais e não se tenta mudar? Por exemplo – e se não quer deixar as Amoreiras – porque não, em vez do balcão, uma pequena zona delimitada com painéis, mais aconchegada, onde o consumidor possa “entrar”, provar com calma e dar dois dedos de conversa com quem lhe possa dar uma explicação adicional, comer umas bolachas com um pouco de queijo (não será difícil obter a colaboração de um produtor de ambos os produtos), tudo isto com copos adequados? “Megalomania financeira”? Não me parece, pois não será necessário recorrer aos Riedel; algo bem mais barato serve bem para o efeito com a enorme vantagem de serem laváveis e reutilizáveis, não é assim? Seria assim tão difícil convencer a Mundicenter focando o valor acrescentado que uma acção “com pés e cabeça” teria também para ela? Mas aqui temos uma incompatibilidade evidente: v. diz que “é melhor ser produtivo com aquilo que tem”; eu acho que está por provar que o modo como o faz seja produtivo, ou melhor, que obtenha resultados (daí o meu post original), e que mais do que “fazer” é preciso fazê-lo bem feito para obter esses mesmos resultados. E talvez, desse modo, fosse finalmente possível a presença de vinhos de alguns dos produtores portugueses mais emblemáticos e que apresentam uma melhor relação preço/qualidade, mesmo a preços próximos dos 5€, também mais adequados aos neófitos e a uma prova fora das refeições, algo que, infelizmente, não tenho conseguido ver por lá.
E quanto á escassez de apoios (desculpe, mas não viesse o “choradinho” do costume), deixe-me dizer-lhe duas coisas: só o apoio dos fundos comunitários aos produtores permitiu fazer do sector do vinho, em Portugal, um caso de evidente sucesso, não tendo a qualidade dos vinhos portugueses, hoje em dia, nada que ver com o passado, mesmo com o mais recente; se calhar, ainda bem que os apoios são poucos, na área da promoção: pelo que me foi dado constatar, e espero não ser ofensivo nem é essa a minha intenção, correria o sério risco de continuarem a ser mal aplicados.
E muito obrigado pelos seus convites para visitar as salas ogivais. Não deixarei de o fazer numa próxima oportunidade.
Quanto ao momento e modo de prova, incluindo os copos de plástico, é v. o primeiro a reconhecer que não é o adequado. Muito bem: reconhecendo essa questão essencial, a pergunta que se deve fazer é porque se opta por continuar uma acção manifestamente inadequada em, pelo menos, duas das suas vertentes fundamentais e não se tenta mudar? Por exemplo – e se não quer deixar as Amoreiras – porque não, em vez do balcão, uma pequena zona delimitada com painéis, mais aconchegada, onde o consumidor possa “entrar”, provar com calma e dar dois dedos de conversa com quem lhe possa dar uma explicação adicional, comer umas bolachas com um pouco de queijo (não será difícil obter a colaboração de um produtor de ambos os produtos), tudo isto com copos adequados? “Megalomania financeira”? Não me parece, pois não será necessário recorrer aos Riedel; algo bem mais barato serve bem para o efeito com a enorme vantagem de serem laváveis e reutilizáveis, não é assim? Seria assim tão difícil convencer a Mundicenter focando o valor acrescentado que uma acção “com pés e cabeça” teria também para ela? Mas aqui temos uma incompatibilidade evidente: v. diz que “é melhor ser produtivo com aquilo que tem”; eu acho que está por provar que o modo como o faz seja produtivo, ou melhor, que obtenha resultados (daí o meu post original), e que mais do que “fazer” é preciso fazê-lo bem feito para obter esses mesmos resultados. E talvez, desse modo, fosse finalmente possível a presença de vinhos de alguns dos produtores portugueses mais emblemáticos e que apresentam uma melhor relação preço/qualidade, mesmo a preços próximos dos 5€, também mais adequados aos neófitos e a uma prova fora das refeições, algo que, infelizmente, não tenho conseguido ver por lá.
E quanto á escassez de apoios (desculpe, mas não viesse o “choradinho” do costume), deixe-me dizer-lhe duas coisas: só o apoio dos fundos comunitários aos produtores permitiu fazer do sector do vinho, em Portugal, um caso de evidente sucesso, não tendo a qualidade dos vinhos portugueses, hoje em dia, nada que ver com o passado, mesmo com o mais recente; se calhar, ainda bem que os apoios são poucos, na área da promoção: pelo que me foi dado constatar, e espero não ser ofensivo nem é essa a minha intenção, correria o sério risco de continuarem a ser mal aplicados.
E muito obrigado pelos seus convites para visitar as salas ogivais. Não deixarei de o fazer numa próxima oportunidade.
No hard feelings!
2 comentários:
Caro João Cilia (JC):
Como lhe tinha dito por mail, não estava à procura de resposta: apenas lhe queria dar uma ideia mais próxima da realidade, para que o JC e os leitores do blog ficassem com uma informação mais precisa e correcta.
Ainda assim, e embora não queira prolongar o diálogo, há aqui novamente questões que não posso deixar que (com certeza que sem intenção do JC) fiquem mal explicadas.
O JC diz, e com toda a razão, que o mercado do vinho mudou. Mas depois entra em contradição esse facto, citando exemplos de vinhos de prestigio (o Barca Velha, e os vinhos de Luis Pato e Carlos Campolargo) que no passado de facto nao eram DOC, mas que mudaram (por alguma razão terá sido...) e que no presente já "aderiram" aos DOC.
Por isso, dizer que os vinhos serem VQPRD ou DOC vale "zero ou próximo disso" poderia fazer sentido há alguns anos, mas agora já não faz e é, por isso, injusto afirmá-lo.
Quanto à questão da qualidade dos vinhos, não há qualquer escolha por parte da ViniPortugal (nem poderia haver!): apresentamos aqueles que nos são enviados pelos Produtores, que, ALGUMAS VEZES, optam por enviar vinhos mais correntes (o que não quer dizer que não tenham qualidade: isso seria o mesmo que dizer, por exemplo, que um Seat Ibiza não tem qualidade por não ser um Audi A8, que faz parte do mesmo grupo automóvel).
Falou no Barca Velha por exemplo, sem duvida um "ícone" no mercado dos vinhos, mas eu pergunto-lhe se vê muitas vezes esse vinho disponível nos Super/Hipermercados. Não vê, porque o mercado dos vinhos está bem estratificado, tendo em conta o canal onde é distribuído. Daí a razão óbvia (que o JC facilmente entenderá) dos Produtores enviarem vinhos (mais baratos, o que não quer dizer, nem de perto nem de longe, "sem qualidade") disponíveis nos Super/Hipermercados.
Quanto aos copos de plástico, como já referi (sem qualquer problema em admiti-lo) não é o mais adequado, mas invalida a qualidade da prova. Além disso, esse facto não depende de nós, pois este é o espaço que nos é cedido pela Mundicenter, e nao permite a lavagem de copos no local, pelas mais diversas razoes (inexistencia de pontos de agua, impossibilidade de transporte de materiais durante o funcionamento do Centro, etc).
Quanto a parcerias com queijos e bolachas, isso é algo que a ViniPortugal já faz ha alguns anos nestas provas, principalmente no Oeiras Parque (sei que parece coincidencia estranha, mas é a mais pura das verdades).
Quanto ao "fazer bem" é obvio que é isso que tentamos e não fazemos "só para fazer": um exemplo concreto disso foi a organização de cursos de iniciação à prova (nos moldes que o JC referiu) no Oeiras Parque, que não tiveram adesão e que, por isso, deixamos de fazer ao fim de alguns meses.
Quanto a imagem dos Vinhos Portugueses lá fora, digo-lhe, suportando a minha afirmação em estudos de mercado internacionais, que não é como o JC a "pinta" no post: não sei em que dados o JC se baseia, mas se forem fidedignos, gostava que os partilhasse connosco, para bem do sector vitivinicola português.
Discordo ainda (e aqui não é um facto, mas sim a minha leitura) da forma como o JC vê o momento de consumo de vinho: entendo que essa visão só se aplica para os vinhos de maior qualidade (normalmente mais caros). Entendo também que há bons vinhos para todas as ocasiões, existindo por isso também vinhos para fazer concorrência as cervejas (dai o aparecimento das cervejas "gourmet")... mas isto daria "pano para mangas".
Quanto ao "choradinho" do costume, até entendo que diga isso face ao que algumas vezes se passa no nosso País, mas peço-lhe que se informe sobre a taxa de promoção dos Vinhos Portugueses e que, depois disso e se assim o entender, faça um post sobre isso.
Sei que o que o objectivo deste blog (que, como lhe disse, por vezes consulto) é tentar por a nu as "fragilidades" do nosso País. Mas é preciso ter cuidado para não cair nas críticas gratuitas e “desinformativas”. E sei que é sempre possível criticar mais e tentar "dar a volta" aos factos apresentados (não estou a dizer que o JC faz isso, apenas o estou a alertar para esse perigo, como leitor do seu blog) e acho que esse excesso de criticismo de forma gratuita e sem a devida informação é muito próprio da sociedade portuguesa. E quem fica prejudicado é o leitor (no caso dos blogs e jornais), porque fica com uma ideia errada da realidade e depois se sente "enganado" quando descobre como realmente as coisas são.
E termino dizendo, sem qualquer problema, que não me senti "ofendido" pelas coisas que afirmou nos seus post, até porque este projecto de provas não foi "criado" por mim (embora gostasse de ter esse credito, pelos bons resultados que tem apresentado): apenas tenho tentado coordena-lo da melhor forma possível, sempre tentando ver as críticas (as positivas e as negativas) como construtivas, como encaro a maioria das que o JC fez.
Com os melhores cumprimentos,
Miguel Nora
Ps: como deve entender, não quero entrar em diálogo eterno com o JC, pelo que esta terá sido a minha última resposta. Não é por desrespeito (de modo algum!) ao JC ou aos leitores do blog, mas para não "arrastar" mais esta situação.
Caso o JC queira mais alguns esclarecimentos sobre este e outros assuntos relativos à ViniPortugal, terei todo o gosto em falar consigo, seja por e-mail ou até pessoalmente, porque deste lado também “no hard feelings”.
Caro Miguel Nora:
Uma resposta concisa, tanto quanto possível.
1. Uma parte mtº significativa dos vinhos de qualidade em Portugal, a 5 ou 50 €, não são DOC ou VQPRD, incluindo alguns do Pato ou do Campolargo, que citei como exemplo. São os denominados Vinhos Regionais. Com os vinhos da Estremadura e Ribatejo, onde hoje se produzem excelentes vinhos, isso acontece numa grande maioria dos casos. Tb, se for ao site do L. Pato verificará que todos, ou quase, são vinhos regionais das beiras, incluindo, p. ex. o Quinta do Ribeirinho Pé Franco. O mesmo se passa com o Campolargo, que trabalha mtº com castas "não autorizadas" para a Região
2.Se ler com atenção os meus posts verificará que quando falo de qualidade digo exactamente o mesmo que está a dizer. Não espero nas provas das Amoreiras encontrar grandes vinhos (seria despropositado), mas gostaria de ver os melhores de cada segmento. Ora não é isso que encontro.
3.Quanto às bolachas e queijo no Oeiras Parque, ainda bem. Só posso felicitá-lo por isso.
4.Em parte nenhuma dos meus posts me referi a cursos de iniciação á prova, mas sim à possibilidade de conversar c/ um representante do produtor ou de receber algumas explicações breves s/ o vinho em prova por parte do representante da ViniPortugal presente. São coisas diferentes.
5.Mesmo no caso dos vinhos mais baratos (5€ ou até menos) o momento e o modo como se prova e consome (e porque se consome) é diferente do da cerveja, ou deve ser assim promovido. Beber vinho deve ser considerado um "plus", um acto de cultura e maturidade. Só assim se podem converter consumidores de cerveja. De igual para igual o vinho perderá sempre. O lançamento recente das cervejas "gourmet" apenas vem tornar isso mais necessário.
6. Claro que a imagem internacional do vinho português está a mudar e já existem alguns vinhos bem cotados, para além dos vinhos do Porto. Mas, genericamente,ainda estamos longe da imagem dos vinhos franceses, espanhóis ou italianos. Sou o 1º a dizer que o sector do vinho é um caso de sucesso em Portugal e até já escrevi s/ isso no blog (http://eusouogatomaltes.blogspot.com/2008/01/do-vinho.html). Como vê, tento tb apresentar os pontos que considero positivos.
Obrigado pela sua visita e votos de bom trabalho. O vinho merece-o!
Enviar um comentário