terça-feira, agosto 26, 2008

Portugal e os Jogos Olímpicos (11) - avaliação de resultados

Temos vindo a assistir nos últimos dias a uma tentativa de lançar cortinas de fumo que impeçam ou pelo menos dificultem uma análise objectiva e rigorosa dos resultados da participação portuguesa nos Jogos Olímpicos de Pequim, mormente querendo fazer crer que terá sido a melhor performance de sempre por via da conquista de uma medalha de ouro e outra de prata ou por se considerar que o problema foram objectivos demasiado ambiciosos. Ora vamos lá tentar afastar o fumo e a palha e tentar ir ao âmago da questão, isto é, analisar o que realmente importa e fazer as comparações da maneira correcta.

Em primeiro lugar, o quê e como se deve comparar? Em qualquer empresa, organização ou instituição é ponto assente que essa análise se deve efectuar comparando os resultados efectivos, reais, com os objectivos traçados e superiormente aprovados, bem como com o verificado em anos ou realizações anteriores. Assim sendo o que temos?

  1. Comparação com anos anteriores:

    Partindo do princípio que uma medalha de ouro e outra de prata (conquista inédita) valem mais do que uma de ouro e duas de bronze (o que é contestável mas se aceita), e comparando os resultados obtidos com os conseguidos em anos anteriores, conclui-se que, de facto e a nível medalhístico, Pequim terá sido a melhor Olimpíada de sempre para as cores portuguesas. Já quanto a pontuação, análise extremamente importante, mesmo decisiva, para se avaliar o trabalho em profundidade, eles são os piores desde Barcelona 92, principalmente se também considerarmos o ratio “número de pontos obtidos por cada atleta participante” (nº pontos/nº atletas). Algo sobre o qual o COP se deve debruçar pois este ratio reflecte de modo bem claro a rentabilidade do investimento realizado.
  2. Comparação com os objectivos traçados:

    Tendo como ponto assente que 2 medalhas não são 4 e 28 pontos não são 60, o que significa que se ficou bem longe dos objectivos, em primeiro lugar há que desmistificar a questão, ultimamente tão propalada e, salvo erro, veiculada com origem na Comissão de Atletas, de os objectivos traçados terem sido demasiado ambiciosos. Esses objectivos foram traçados a aprovados pelo COP em conjunto com as federações, ou seja, quem melhor conhece os atletas, os Jogos, as condições de disputa das diversas provas, etc. Quem estaria em melhor situação para os definir? A comissão de Atletas manifestou-se em devido tempo pedindo a sua revisão? Se foram mal definidos, por demasiado ambiciosos, está aí o primeiro erro de quem os traçou: o COP, as federações respectivas e a Comissão de Atletas que não fez ouvir a sua opinião, devendo o trabalho de todas elas começar por ser avaliado em função disso mesmo, do erro de cálculo respectivo. Até porque foi em função dos objectivos traçados pelo COP (“administração”) que se estabeleceu o valor do financiamento disponibilizado pelo Estado, isto é, por todos nós cidadãos (“accionistas”) que devemos pedir satisfações perante um investimento que se revelou menos rentável do que o esperado.

    Segunda questão: os atletas, tendo em atenção as suas características físicas (performances) e psicológicas, foram seleccionados em função dos objectivos definidos? Isto é, os planos de acção foram seleccionados e traçados em função desses objectivos? Parece-me claro que, em alguns casos, isso não terá acontecido, tendo em conta as declarações de alguns atletas sobre a sua inadaptação a algumas das condições de disputa das suas provas. É que ao seleccionar os atletas apenas em função dos “mínimos”, mais a mais independentemente da frequência e condições da sua obtenção, o COP e as federações estão, pura e simplesmente, a desresponzabilizar-se daquela que deveria ser uma das suas funções essenciais: a escolha da equipa olímpica.

    E pronto, já chega de Jogos Olímpicos...

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