sábado, agosto 23, 2008

O governo, o "sentimento geral de insegurança" e os "media"

Parece ser hoje em dia bem claro que a PSP terá sempre jogado forte num desfecho “duro” no caso do assalto ao BES de Campolide, de modo a que, sabendo que teria o apoio maioritário do país para esse tipo de soluções, isso pudesse aumentar o poder negocial das instituições policiais no seio do aparelho de estado. Que as polícias possam agir desse modo defendendo os seus interesses mais imediatos sem cuidarem de avaliar outro tipo de repercussões, particulares ou gerais, posso achar compreensível, embora não aceitável: de qualquer modo, sabiam bem que qualquer onda de violência como resposta á solução encontrada ou qualquer sentimento generalizado e ampliado de insegurança manifestado pelos cidadãos só poderia resultar em seu benefício e no reforço dos seus interesses enquanto corporação, bem como de todos aqueles que defendem soluções “musculadas” mesmo que em prejuízo da plena fruição das liberdades individuais e do estado de direito democrático. Que o governo tenha caucionado a 100% o desenlace do caso, cavalgado a onda populista e securitária por via da popularidade que isso lhe poderia trazer a curto prazo num clima de quase recessão económica e dificuldade generalizadas, já o disse, parece-me um erro que já estará a pagar caro perante o tratamento mediático subsequente que, funcionando como um sistema de amplificação e distorção da realidade, tem contribuído para o fortalecimento no país desse tal sentimento de insegurança que pode, a prazo, funcionar contra o próprio governo de José Sócrates, exigindo os cidadãos soluções mais radicais que o PS não poderá protagonizar. Que o PSD tenha quebrado o seu sepulcral silêncio para falar (?) sobre o tema e exigir a demissão do ministro, só pode ser prova do que aqui digo e mau sinal para aquilo que pode esperar o PS.

Significa isto que estarei também a co-responsabilizar os” media” pelo ambiente criado? De todo: não tenho, em termos gerais, dos orgãos de comunicação social uma visão “educativa” ou “formativa” e, por isso, considero-os um negócio como qualquer outro (com as suas especificidades, claro), apenas sujeito às leis gerais do país e não de uma qualquer tutela tendo como objectivo um qualquer "desígnio nacional". Teria competido, isso sim, ao governo, quando optou pela demagogia em prejuízo do bom senso e do equilíbrio, pelo curtíssimo em vez do médio prazo, prever que, tratando-se de um tema com claras conotações populistas e tendo em atenção tablóidização dos “media” a que assistimos nos últimos anos, a criação de um tal estado de insegurança pudesse ser, por via de tratamento mediático, uma das consequências da sua desastrada actuação. Mais pela defesa da democracia liberal e do estado de direito democrático do que por qualquer interesse ou ligação partidária, que não tenho, espero bem a criatura não destrua o criador, apesar da inabilidade demonstrada por este na concepção do monstro.

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