terça-feira, agosto 12, 2008

Uma história de violência (VI)

Para que não restem dúvidas...

Obrigar um pré-adolescente de onze ou doze anos a participar num acto criminoso, como um assalto, é um acto ignóbil e deve, por si só, merecer punição legal, para além da que é devida ao acto criminoso em si. Mas atenção: a responsabilidade pela sua integridade física não se esgota em quem o integrou nesse acto criminoso. Para ser mais concreto, e no caso de Loures, não se pode afirmar “a responsabilidade pelo acontecido é dos pais” e... ponto final! Polícia e criminosos não são face e verso de uma mesma realidade. Estes agem à margem da legalidade, àquela compete-lhe fazer cumprir a lei de um estado democrático e direito, estando também a ela sujeitos. Por isso mesmo, não podem fazer justiça pelas próprias mãos e devem ter como objectivo último levar os alegados criminosos a responder pelos seus actos perante os tribunais competentes e as leis da república, com todas as garantias de defesa previstas mormente aquela que afirma que até prova em contrário todos os cidadãos são inocentes e que todos são iguais perante a lei e têm direito a uma defesa justa. Mais ainda, essa pena deve, também ela, ser proporcional ao crime em causa. Em função desse seu estatuto e desse objectivo último, devem as polícias usar da força com parcimónia e apenas com a proporcionalidade necessária ao cumprimento desse seu desiderato, pelo que - e o que vou dizer será politicamente incorrecto – será mesmo preferível deixar escapar meia-dúzia de criminosos de 2ª ou 3ª extracção com igual meia-dúzia de milhares de euros a pôr em risco a vida de uma criança ou de outros cidadãos inocentes. Mesmo em relação a eventuais criminosos, constitui uma clara desproporção de forças e desrespeito pela lei atirar a matar num caso como o do assalto de Loures. É tudo isto que distingue a civilização da barbárie, uma polícia competente e profissional de um bando de malfeitores.

Nota: muitos daqueles que agora glorificam as acções das polícias nos casos do BES e de Loures, que estão muito longe de serem casos de grande criminalidade organizada ou terrorismo, incentivando-as à justiça por conta própria, serão os mesmos que espumam de raiva nos diversos fóruns de “opinião pública” contra os “ricos e poderosos”, os “grandes tubarões” e “grandes criminosos e corruptos” que nunca são presos ou condenados preocupando-se a polícia apenas em “apanhar” o “peixe miúdo”. O problema não é deles, que não sabem o que dizem. o problema é de quem, com responsabilidades governativas, cede a este tipo de comportamentos e atitudes demagógicas.

4 comentários:

Anónimo disse...

É pena os bloggers não serem obrigados a se identificar porque da forma como se tornam opinion makers deveriam ter um rosto e um nome, mas claro para isso era preciso ter coragem para enfrentar, e defender, o que afirmam. Expressões como "atirar a matar", "será mesmo preferível deixar escapar meia-dúzia de criminosos de 2ª ou 3ª", são de pura irresponsabilidade, e não politicamente incorrectas. Como sabe que os polícias atiraram para matar? É preferível deixar escapar criminosos?? Os "grandes tubarões" como lhes chama, não causam os problemas que o pequeno criminoso causa ao cidadão comum.
Já agora fica um desafio: identifique-se e responda a uma pergunta, se fosse assaltado por alguém que tivesse uma faca e só tivesse uma pistola consigo o que fazia para se defender? (cuidado, não se esqueça da expressão que usou: "desproporção de forças".
Já agora fica

JC disse...

Nuno Figueiredo:
1º Estou perfeitamente identificado: basta ir ao meu endereço electrónico.Se precisar de algum esclarecimento extra s/ mim, por favor não hesite. Mas, muito sinceramente, não percebo, num país livre e democrático, que diferença isso possa fazer.
2º A expressão "grandes tubarões" está entre aspas, o que significa que estou a citar terceiros (neste caso os participantes nos fóruns). Não tenho por hábito utilizar tal expressão ou outras de idêntico teor.
4º O que é facto é que mataram e esses "erros" são recorrentes e situações do género, permanentemente identificadas por organismos como a Amnistia Internacional.
3º Quanto ao que faria se fose assaltado, etc. Um pequeno pormenor: não sou polícia. Por isso, não só não fui treinado para agir de modo adequado e profissional a situações como a que cita, como, qualquer que fosse a minha atitude, teria sempre de justificar os meus actos perante a lei e a justiça que me julgaria.
Cumprimentos

Victor Gonçalves disse...

Gato Maltês, não se esqueça que a política é sempre, mesmo sempre, demagógica desde a invenção da Democracia Representativa. Isto é, os políticos profissionais pensam e agem de acordo com o seu eleitorado (maior ou menor), por vezes fazem-no dentro das suas próprias convicções, outras vezes não. Por isso, é necessário repensarmos o estigma que facilmente lançamos contra as demagogias.

JC disse...

De acordo, Dionísio, mas existem parâmetros determinados, quanto mais não seja, pelo bom senso, aquilo que os cidadãos, a cada momento, estão dispostos a aceitar em troca da manutenção dessa mesma democracia representativa. Um pouco como a mentira na n/ vida em sociedade: todos mentimos, mas até para a mentira existem parâmetros aceitáveis e outros que o não são.
Cumprimentos