sexta-feira, agosto 08, 2008

Uma história de violência

Peço desculpa por não ficar em êxtase e entrar em júbilo pela actuação da polícia, que considero em parte falhada, durante o assalto de ontem a uma agência do BES. Isto porque considero que uma actuação totalmente profissional e coroada de êxito teria conseguido obter a libertação dos reféns, ilesos, o que foi feito, em conjunto com a detenção/rendição dos assaltantes/sequestradores com a sua posterior entrega à justiça para julgamento, o que falhou. Há demasiadas interrogações e perguntas que ficam por esclarecer e responder. Por exemplo: estavam mesmo esgotadas todas as tentativas de rendição? Existiam outras alternativas seguras em vez do, puro e simples, “abate” a sangue-frio dos assaltantes? Foi avaliado o seu efectivo grau de perigosidade (não parecia tratarem-se de deliquentes “profissionais”) e a verdadeira intenção de levar o sequestro até às últimas consequências? Será este o efectivo padrão de comportamento de uma polícia num estado democrático perante acções deste tipo que, por exemplo, parece não se poderem enquadrar na definição de “grande criminalidade organizada” ou, muito menos, terrorismo? Sim, eu sei que vão existir poucas ou nenhumas respostas, mas o que vi e leio é suficiente para me deixar preocupado, perguntando-me se, perante os últimos falhanços notórios das polícias portuguesas nos casos mais mediatizados, não estaremos perante a cedência dessas mesmas polícias às pressões securitárias e ao populismo mais rasteiros e se o caso não terá sido aproveitado, mesmo a propósito com TV em directo e tudo, para o que terá sido julgado uma oportunidade única para uma exibição de força e “limpeza de imagem” das corporações policiais junto da vox populi. Para já, tudo me pareceu demasiado sul-americanizado. Muito pouco digno de um país civilizado e democrático. O suficiente para não rejubilar e, antes, ficar preocupado.

7 comentários:

Luis disse...

Respeito o seu post mas o problema não é certamente da polícia. Ela passou 8 horas a negociar com os assaltantes e em 90% dos casos as coisas acabam bem, como tem sido habito em situações semelhantes.

JC disse...

Caro Luís: Infelizmente não tenho assim tanta certeza na resposta... Resta saber porque desta vez não acabaram bem... era isso que gostava de saber.

Anónimo disse...

Lamento mas discordo em completo com o comentário. Não fazer nada é muito pior que fazer alguma coisa. Não sou racista, nem xenófobo, nem contra a imigração, sou contra todos aqueles que julgam ganhar fácil aquilo que é difícil para quase todos, pondo em risco outros inocentes.
Parabéns á polícia. Lamento a morte do assaltante, mas ele é que escolheu livremente o seu caminho.

Unknown disse...

Cavalheiro, estivesse o senhor como refém, com uma arma apontada á cabeça,por profissionais ou amadores isso é irrelevante, em vez de estar tranquilamente sentado no sofá a assistir a um despudorado e populista directo das televisões, aí sim, seria uma boa ocasião para reflectir e meditar sobre todos esses ses e interrogações que o atormentam sobre a actuação de uma polícia num estado democrático.

JC disse...

Caro anónimo:
Ninguém falou em não fazer nada... E ignorei completamente a nacionalidade dos assaltantes, não é relevante. O meu post não se alteraria em nada caso fossem portugueses, chineses ou marcianos.

Anónimo disse...

Não posso mesmo concordar consigo! Parece-me que está a tentar ir contra a corrente só porque sim. Deixa algumas perguntas que ninguém pode responder, mas vistos os factos, nada leva a crer que a policia não tentou negociar ou que os assaltantes poderiam desistir. Também não me parece que deixa-los fugir fosse uma opção.

JC disse...

Caro filho:
queira ler os posts seguintes sob o mesmo título, que respondem a muitas das minhas preocupações iniciais. De qualquer modo, lanço algumas interrogações, acho que pertinentes, antes de embarcar na onda de euforia generalizada. Mais ainda: como digo no post, o objectivo deve ser sempre conseguir resgatar os reféns ilesos e levar os criminosos à justiça. Este último não foi conseguido, por isso não se pode dizer que o objectivo foi cumprido a 100%. Ainda não estamos - acho - no far-west: portugal é um estado de direito democrático!