Post de 16 de Fevereiro deste ano:
"Não acredito que Manuel Alegre ainda não tenha compreendido que a divisão fundamental nas sociedades actuais não é mais entre “esquerda” e “direita”, entre capitalismo e socialismo, mas entre duas concepções antagónicas de organização do estado e dessa sociedade: um modelo aberto e democrático, que só pode basear-se na livre iniciativa capitalista pois é essa a sua essência, aquilo que lhe deu origem e o criou - com gradações que vão desde os ideais ultra-liberais até àqueles que, por colocarem o seu ênfase na protecção do cidadão, poderemos considerar integrados no “modelo social europeu - e um outro essencialmente centrado no “poder do Estado”, que também pela sua própria essência conduz fatalmente a universos concentracionários e conservadores, a sociedades fechadas e repressivas. Longe, muito longe, por inadequados aos tempos que correm e ao mundo actual, vão portanto os tempos do anti-fascismo, das frentes populares e dos programas comuns de esquerda.
Quer isto dizer que, do ponto de vista estrutural, existe uma contradição inultrapassável entre os projectos de sociedade do PS, por um lado, e os do PCP e do Bloco de Esquerda, por outro, o que não impedindo acordos pontuais, por vezes mesmo coincidência de pontos de vista em algumas áreas políticas, põe em causa um caminho comum, uma partilha institucional. Não poderá deixar de ser assim a não ser que se decida abdicar dos princípios fundadores. Já quanto aos partidos considerados á sua direita existirão divergências políticas, aqui e ali mesmo estratégicas, em muitos casos visões e concepções diferentes do mundo em ocasiões em que o dramatismo se acentua, mas, no essencial, na questão-chave, uma coerência e coincidência de pontos de vista quanto aos princípios institucionais definidores.
Claro que Manuel Alegre, que viveu Argel e o Portugal de 75 e fez até hoje da política a sua profissão, conhece tudo isso e mais algumas coisas, todas elas muito bem. Mas também percebeu, ao fazer este seu apelo institucional a uma esquerda tal como ele conservadora, que a situação actual do país e a política que o governo do PS se vê “obrigado” a implementar, com repercussões evidentes nas bases do partido e no seu eleitorado, lhe concede uma “oportunidade de negócio” que não podia deixar indiferente o seu incomensurável "ego". Também sabe, para seu bem e mal de Sócrates, que este, ao ceder à sua chantagem no caso do Ministério da Saúde, não fez mais do que escancarar portas até aí somente entreabertas. Assim sendo, Sócrates terá o que merece. Quanto a ambos, esperando a Alegre não lhe suceda o mesmo que ao sapo, não consigo chegar a perceber se o país mereceria qualquer coisa de melhor."
3 comentários:
O modelo PS é o modelo social democrata, que contêm um conjunto de elementos positivos para o mundo do trabalho, mas esse modelo social entrou em crise, basta ver que a maioria dos governos de base SD têm diminuído benefícios sociais e reduzido, com as suas medidas, a parte do trabalho no RN, para poder satisfazer as necessidades do capital nesta época de globalização, que no caso português é entregar-lhes os sectores mais protegidos. A questão esta em ver se essas medidas e apoios ao capital permitem configurar um quadro futuro de estabilidade social, como vemos ate agora não, e , a crise não o permite, mas a pessoas observam a justiça das medidas e reparam que não há justiça (o psoe de zapatero é melhor nesse sentido). É preciso inverter caminho em muita coisa, a realidade esta a demonstrar que os sectores económicos privados em varias áreas são incapazes de contribuírem para melhorar as condições de vida, ate as têm prejudicado( veja-se os preços dos combustíveis, as tarifas dos serviços, o aumento das propinas, a subida das taxas de juro usurarias). Nesse sentido a crítica a visões supostas conservadoras de uma esquerda à esquerda do PS não parte de uma visão sobre a realidade mas de quem têm aderido a este modelo do fim da história e não vê que em poquísimo tempo se desmorona e todos temos que pagar a sua recuperação, nas próximas eleições vou procurar lembrar que o PS é também responsável por isso e que não se importa de ceder ao capital para manter -se no poder, favorecendo os negócios ( o terminal de alcantara, os subsídios ao melo, os favorecimentos à banca, por exemplo). É bom ter o Alegre deste lado, oxalá ele e o milhão que votaram nele nas últimas eleições, defender o modelo social europeu do qual o Ps abdica, na nossa versão limitada e austera.
Sobre esta matéria recomendo que visitem o site da Democracia Viva em democraciaviva.eu. Começar pela base, sem compadrios, nem promiscuidades é a proposta.
Caro anónimo:
Agradeço o seu comentário, mas a respectiva resposta, de tão vastos os assuntos que toca, daria para escrever um livro. Se por aqui for passando - o que desde já agradeço - estou certo irá encontrar algumas respostas às questões que foca. Para começar, sugiro leia:http://eusouogatomaltes.blogspot.com/2008/11/e-alegre-se-fez-triste-entrevista-ao-dn.html
Cumprimentos
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