Deixemo-nos uma vez mais de "tretas": a campanha eleitoral, estes quinze dias de "arruadas" e comícios e mesmo os debates televisivos anteriores, nunca servirão para discutir os "grandes temas", os "problemas que preocupam os portugueses", quaisquer que eles sejam (pelos vistos, a obrigatoriedade de colocar em prisão preventiva um par de adolescentes mal comportados também preocupa muito os portugueses). Chegados estes tempos, a maioria dos cidadãos, os mais instruídos política e educacionalmente, os mais interessados e atentos, já definiu o seu sentido de voto, como revelam as sondagens. Restam então os chamados indecisos, e se estes não constituem um grupo homogéneo (disse-o aqui), uma parte deles, uma vez mais os politicamente mais conscientes, irão definir o seu sentido de voto muito mais em função das sondagens (a questão do voto útil), de uma interiorização de considerações várias sobre a conjuntura política, sozinhos ou em diálogo com os que lhe são mais próximos, do que pela campanha eleitoral, qualquer que seja o modelo adoptado. Acresce que os tais "grandes temas" não se discutem em 45' de debate entre líderes partidários, nem em quinze ou 30 dias de campanha: são algo que se vai discutindo ao longo do tempo e cujas ideias transmitidas vão em nós maturando ao longo desse mesmo tempo.
Restam então os "outros", os politica e educacionalmente menos preparados, aqueles a quem quase poderíamos chamar - pedindo emprestado o léxico do "marketing" e da gestão - os votantes "por impulso", à semelhança dos que compram recorrendo fundamentalmente ao mesmo método e possuem pouca ou nenhuma fidelidade de marca. Esses são os que o fazem em função de um "soundbite", da simpatia deste ou daquele candidato, de uma frase ou imagem captada aqui ou ali, de um sorriso que permita afirmar aos vizinhos "fulano parece ser muito boa pessoa" ou "coitado, com os problemas que tem tido na vida, deve ter muito valor" (são apenas dois exemplos, e por isso acrescento um grande "etc"). Digamos que é este, fundamentalmente, o "grupo-alvo" das campanhas e parte das pré-campanha e, em função disso e tendo em conta a dificuldade de "isolar" comunicacionalmente segmentos do "mercado eleitoral", temos forçosamente de concluir muito naturalmente que o modelo que tem sido seguido, dos mercados e dos lares de idosos, dos comícios com gente transportada de autocarro e das arruadas com bombos e gaitas de foles mais uma "t-shirt" para a "sobrinha Vanessa que está lá em casa", até é bem capaz de estar certo, por muito que isso nos custe. E claro que custa, mas "é a vida"...
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