sábado, junho 25, 2011

"Económica" ou "executiva"? Uma questão política

Confesso estar demasiado farto de ver a discussão sobre a classe em que viaja o governo quase só centrada no que se poupa ou não poupa, isto é, reduzida às questões económicas (apetecia-me mais dizer de "economia de dona de casa"). Independentemente de se poupar mais ou menos (e aproveito para dizer que um bilhete de tarifa económica normal, isto é, não-reduzida e com as limitações que este último tipo de tarifas impõe à sua utilização, custa em muitos voos praticamente o mesmo do que um voo em executiva), trata-se de um assunto de natureza política e como tal deve ser analisado. Assim sendo, a pergunta que faço é a seguinte: "devem os membros do governo viajar em classe executiva ou em classe económica, mesmo na Europa". E aqui a minha resposta só poderá ser que o devem fazer em "executiva". Porquê? Por um conjunto de razões que passo a enunciar:
  1. As viagens oficiais de membros do governo assumem sempre um carácter de representação de Estado. É por essa mesma razão - de dignidade de representação - que as viaturas oficiais dos membros do governo são carros com um certo estatuto, pintados de cor sóbria, e não Fiats Punto ou descapotáveis pintados de cor de rosa ou "azul cueca"; que existe um "dress code" determinado para o seu trabalho diário e actos oficiais; que não se serve "Porta da Ravessa" ou Teobar nas refeições oficiais e assim sucessivamente. Enfim, que existe uma certa coisa que dá pelo nome de "protocolo de Estado". Já agora, não sei se viajando em "económica" os membros do governo também terão de abdicar dos "batedores", da sala VIP da Portela, do "executive lounge", terão de esperar pela bagagem ou irem para a "bicha" no "check in" se o não fizeram na "net.
  2. Para não falar dos membros de governos de outros Estados-membros da UE - que obviamente viajam em "executiva" - a grande maioria dos executivos, directores e administradores das principais empresas viajam em classe executiva, o que coloca os membros do governo numa posição de inaceitável subalternidade perante eles. 
  3. Mesmo na Europa, em voos de relativa curta duração, as viagens são frequentemente aproveitadas para trabalhar (consultar relatórios, trocar impressões, preparar reuniões futuras, etc). Só quem nunca viajou poderá ser de opinião que tal é possível na balbúrdia da "económica".
  4. Por muito que seja impopular dizê-lo, os membros do governo trabalham muito e têm agendas carregadas. Uma viagem, por muito curta que seja (duas ou três horas), pode muitas vezes ser aproveitada para uns minutos de descanso e descontração, uma refeição, leitura da imprensa, etc. Afigura-se difícil tais tarefas possam ser realizadas numa classe económica a abarrotar. 
  5. Por último, e como aqui já afirmei, viajar em classe económica constitui uma inaceitável cedência à demagogia populista mais rasteira dominante nas opiniões expressas pelos sectores menos intruídos e mais retrógrados dos portugueses nos "fóruns de opinião" e nas caixas de comentários. Ora não é isso que espero de um governo democrático de um país civilizado. Pelo contrário: espero elevação e bom senso na escolha das políticas e uma atitude pedagógica no modo como são explicadas aos cidadãos.

Sem comentários: