- Qual a posição que o PS irá assumir na oposição, entre dois modelos teóricos muito distanciados entre si?: uma obstrução sistemática ao governo, não permitindo que PCP e BE capitalizem o descontentamento pelos tempos difíceis que aí vêm, ou uma certa neutralidade mais ou menos colaborante, fazendo crescer os partidos da esquerda radical? Bom, penso que, tendo assinado o MoU, não está o PS em situação de grandes radicalismos face à medidas nele contidas (nem o deve estar), mas a posição global do partido irá forçosamente depender muito da atitude do novo governo: se este colocar o seu foco no cumprimento integral do acordo de resgate e se deixar de ideias abstrusas como aquela de pôr os beneficiários de transferências sociais a limpar as matas e tratar dos "velhinhos", bem como de reduzir o número de deputados, transformar a Segurança Social num modelo assistencialista e o SNS numa "coisa em forma de assim", privatizar a CGD (aqui o CDS poderá ser um travão) e despedir "porque sim", não restará demasiado espaço ao PS. Caso contrário, se, no governo, o bom-senso reformista ceder lugar ao radicalismo ideológico ultra-liberal, o PS ficará bem mais livre para uma oposição mais radical. Não esquecer, contudo, que a construção a prazo de uma indispensável alternativa de centro-esquerda exige do PS autonomia face ao novo poder.
- Curioso de ver a evolução da "media scene", nos últimos tempos dominada pela política editorial dos "casos", pelo pessimismo "plano-inclinadista" e por algum radicalismo ultra-liberal. Há, entre jornalista a afins, quem agora vá começar a olhar em volta sem saber muito bem o que fazer da "vidinha".
- Mas alguém pensava que Francisco Louçã se iria demitir depois do resultado desastroso do BE? É não entender os modelos de funcionamento dos partidos revolucionários, marxistas-leninistas (e o BE é, na sua essência, um partido marxista-leninista), em que as eleições "burguesas" são apenas mais um terreno de luta e essencialmente "contra-natura". Daniel Oliveira, que considero um democrata sincero (radical, mas democrata) e ontem manifestava a necessidade de ser convocada uma "Convenção" (acho se chama assim), enganou-se no partido. Um dia, que espero seja breve, chegará a essa conclusão.
- O discurso final de Pedro Passos Coelho pareceu-me um pouco atrapalhado, do género "e agora, que faço eu com esta vitória que os portugueses me deram?" Espero rapidamente alguém o ajude a retomar a boa forma patenteada no debate com José Sócrates e que este último parece ter recuperado com um excelente discurso de resignação ontem à noite. O país precisa de um primeiro-ministro mais confiante do que demonstrou na campanha e no discurso de vitória.
- "Uma maioria, um governo um presidente"? Sim, claro, objectivo alcançado pela direita. Mas convém não esquecer que os poderes do Presidente da República são agora muito diferentes, e bem menores, do que o eram nos anos 70 do século passado, quando Francisco Sá Carneiro definiu esse objectivo, pelo que a frase perdeu alguma força e conteúdo programático.
Eu sou o Gato Maltês, um toque de Espanha e algo de francês. Nascido em Portugal e adoptado inglês.
segunda-feira, junho 06, 2011
As eleições no "day after": 5 pontos 5
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