sexta-feira, junho 18, 2010

A propósito da morte de José Saramago

Sim, eu sei que os chamados “interesses” não são alheios a tais atitudes. Mas exactamente por isso, e independentemente da opinião de cada um sobre a personalidade e obra de José Saramago, e a minha é feita de mixed feelings, os espanhóis – os seus reis, o seu governo e entidades ligadas à cultura – estão a aproveitar o dia de hoje para darem uma autêntica lição política e diplomática a alguns portugueses que foram (e vão) teimando em se manter provincianos. Mesquinhos e de vistas curtas.

9 comentários:

ié-ié disse...

Para te dizer a verdade, caro JC, e remando contra a maré, não tenho qualquer consideração por José Saramago!

Não discuto o seu valor literário. mas nunca consegui ler um livro, ou melhor, nunca consegui avançar da primeira página.

Como pessoa, sempre o achei execrável.

Na qualidade de jornalista, falei com ele por uma única vez, pelo telefone, para Espanha e jurei para nunca mais! Era uma pessoa abominável, mal disposta!

(e cada vez que me lembro dos saneamentos no "Diário de Notícias"...)

Eu tinha de dizer isto.

LT

JC disse...

Por alguma razão (mtº por causa dos saneamentos, digo-te) eu digo ter "mixed feelings". Mas o "Memorial do Convento" é um grande livro, um Nobel é um Nobel e Saramago era uma personalidade forte, coisa que falta aos portugueses. De qualquer modo, o que está em causa no "post" não é isso, mas a lição dada pelos espanhois.

gin-tonic disse...

Ler exige saber ler.
O resto são ódios de estimação óptimos para digerir, frente à lereira, em noites de inverno

JC disse...

Sejas bem aparecido, Gin-Tonic. Principalmente quando para dizeres verdades.

Anónimo disse...

A propósito do Nobel atribuído a Saramago, era uma situação cada vez mais insustentável que a Academia Sueca não contemplasse um escritor da língua de Camões. Diria até, escandaloso. (Terá esta Academia bons leitores da literatura de língua portuguesa ?).

Quis a deusa Fortuna que a cornucópia lá vertesse sobre Saramago que, independentemente do prémio, já contava com múltiplas traduções e projecção além-fronteiras. É, incontestavelmente, um vulto das nossas letras embora o formalismo da sua escrita,de frases e períodos excessivamente compridos e nada ortodoxos, não convença muitos críticos. É raro existir um travessão para o discurso directo, acabando numa orgia de vírgulas só quebrada com um misericordioso ponto final, o que só acontece passada a odisseia de uma página potencialmente enfadonha para um leitor perdido entre o discurso das personagens ou a ideia do autor.(Como eu compreendo Ié-Ié !).

Todavia, passaram ao lado do Nobel escritores como Ferreira de Castro, Fernando Namora, Jorge Amado, Drummond de Andrade e outros que, atrevo-me a dizer, não ficariam atrás das qualidades de Saramago.

O “Memorial do Convento” parece-me um bom cruzamento entre o romance histórico e a literatura fantástica muito ao estilo dum Gabriel Garcia Marquez de “Cem Anos de Solidão”.

O grande mérito de Saramago é ter seguido aquela grande máxima - “ Se queres ser universal mostra a tua aldeia”. E fê-lo muito bem com, além daquela obra, “A morte de Ricardo Reis”, “Jangada de Pedra”, “História do Cerco de Lisboa”, “Levantado do Chão”, entre outras.

Quando é que a cornucópia deixa escapar mais um Nobel a literário luso ?
Lobo Antunes pode ir esperando, de preferência sentado.

JR

JC disse...

Obrigado pelo pertinente comentário. Limito-me a acrescentar o nome de Vergílio Ferreira.

Anónimo disse...

Muito bem lembrado Virgílio Ferreira.

JR

Anónimo disse...

Esta é também uma altura para relembrar o passado negro de José Saramago.

Não sei se Saramago era adepto da democracia norte-coreana do camarada Bernardino. Mas esteve na linha da frente para contestar a liberdade em Portugal no PREC. Saramago nunca perdoou ao país por não ter seguido a via soviética em 1975. Eu nunca gostei da personagem: do activista, do político, do saneador, do amigo de ditaduras e do anti-semita. José Saramago era um homem mau, amargurado e zangado com a fortuna que a vida lhe trouxe. Nunca demonstrou respeito e compaixão por aqueles que não gostava, usando e abusando da arrogância para destratar os seus adversários. Também Portugal não foi bem tratado por ele, apesar de o encarar com uma reverência exagerada. Várias vezes insultou o país e os seus dirigentes políticos. E mesmo insultando o país, não deixou de aproveitar as benesses que o regime lhe ofereceu, como sucedeu em Lisboa. As suas guerrilhas contra a Igreja Católica e os crentes são uma evidência da sua intolerância e falta de respeito pelos outros. No entanto, a Igreja Católica que ele tanto detestava e insultava, ajudou-o imenso. Os insultos vergonhosos que lançava para a praça pública eram sempre anteriores ao lançamento de um novo livro. A liberdade também não era uma palavra que ele apreciava. Ajudou a promover ditaduras como Cuba no mundo, e nunca denunciou os crimes do comunismo. Aliás bem na senda de outros comunistas que se esquecem de referir os milhões de mortos causados pelos regimes criminosos.

JC disse...

Bom, caro anónimo: é verdade o que diz quanto ao papel de Saramago no PREC. Mas, sem que isso o desculpe, se for ver o que tanta gente, de um e outro lado, fez no PREC e onde estão hoje!... Conheci gente da extrema-esquerda que são ou já foram ministros, empresários e, até, representantes de associações patronais. Não apaga o seu papel, mas o PREC foi algo mtº específico, mtº particular. E quanto à Igreja Católica, JS limitou-se a expressar as suas opiniões enquanto ateu, talvez com uma frontalidade a que Portugal não está habituado, algo a que tem dtº. É preferível a hipocrisia.E se vamos por intolerância, entre JS e a Igreja Católica não sem quem o seria mais.
Insultou o país e os seus dirigentes? Admitamos que sim, mas como resposta a uma parte do país e dos seus dirigentes políticos (Sousa Lara, p. ex.), que bem o insultaram.
Como disse, tenho "mixed feelings" em relação a JS, mtº por causa das opções políticas que v. bem assinala. Mas veja que até Mariano Rajoy, do PP de Espanha, o veio homenagear e reconhecer o seu valor literário e cultural. É o único prémio Nobel português a "tempo inteiro" (Egas Moniz ganhou o seu "a meias") e um autor de expressão mundial. Haverá mtºs portugueses assim? Será que os portugueses não valorizam os seus? Com Mourinho, Cristiano Ronaldo é a mesma coisa!... Uma tristeza!
Cumprimentos