quarta-feira, junho 30, 2010

Selecção: apreciação final

  1. Disse aqui neste “blog” quando a selecção portuguesa perdeu com a Alemanha nos ¼ de final do Europeu de 2008 que considerava esse resultado normal e que a participação da selecção portuguesa na prova estava de acordo com as expectativas, nada, em termos de prestação desportiva, podendo ser apontado à equipa técnica então dirigida por Scolari. Da mesma forma, afirmei aqui antes deste Mundial que consideraria normal o apuramento de Portugal para os 1/8 de final no segundo lugar do grupo e a sua posterior eliminação pela Espanha nessa fase, caso fosse este, como tudo faria prever, o adversário que caberia em sorte às “quinas”. Coerentemente, em termos de puro e simples “resultadismo” – que, em última análise é o essencial – tudo de acordo com a normalidade, não existindo razões de fundo, neste campo, para colocar em causa os responsáveis.
  2. Tendo dito isto, confesso reconhecer algo de diferente nestas duas participações. Em 2008, Portugal venceu a Turquia por 2-0 e a República Checa por 3-1. Perderia com a Suiça por 2-0 num jogo “a feijões” e com a Alemanha por 3-2 nos ¼ de final. Agora, não só não conseguiu ganhar a nenhuma das equipas do “seu” campeonato, como não foi sequer capaz de marcar qualquer golo. É que defender bem - Mourinho provou-o - não significa a mesma coisa do que a equipa esgotar-se nos processos defensivos, e Queiroz pareceu-me sempre demasiado obcecado pelos “serviços mínimos”, sem qualquer outra alternativa, talvez porque soubesse isso lhe garantiria um mínimo de contestação e o consequente cumprimento integral do seu contrato com a FPF. Provou, uma vez mais, tratar-se de um académico: profundo, certinho, mas sem rasgo ou chama, muito menos capaz de decidir rapidamente perante uma situação inesperada. Teria sido diferente com Nani e Bosingwa? Seriam duas opções que permitiriam melhorar o desdobramento ofensivo da equipa, mas a sua ausência não justifica tudo.
  3. Chega de atirar com as culpas para cima de Cristiano Ronaldo, apesar da sua inenarrável atitude no final do jogo (não foi ele que se institui capitão). É demasiado fácil fazê-lo: é famoso, milionário, joga no maior clube do mundo e “papa uma gajas boas”. Se jogava bem no United e joga bem no Madrid a responsabilidade da sua má prestação quando joga por Portugal será só dele? O facto é que parece existir uma incompatibilidade entre o modelo de jogo da selecção e a rentabilização de um jogador como Cristiano, com as suas características. Penso que para isso não acontecer a selecção teria que jogar mais á frente, num bloco mais alto. No Real Madrid é isso que acontece quando toda a equipa tende a acompanhar as suas cavalgadas e os “raides” de Kaká, chegando mesmo a desposicionar-se defensivamente. “Nem tanto ao mar”..., mas, penso, vedetismos e cenas de menino mimado à parte que compete ao seleccionador controlar, seria necessário que a equipa jogasse uns bons dez metros mais à frente e adoptasse diferentes procedimentos ofensivos para vermos outro Cristiano.
  4. Simão e Deco. Qual a surpresa? Também por aqui afirmei, antes do início do Mundial, que tinham feito épocas “desgraçadas”. Confirmaram. Alternativas? Moutinho fez igualmente uma má época numa equipa moralmente de rastos e Carlos Martins nada mostrou nas oportunidades que teve na selecção – e teve algumas; era um risco. A selecção teve aqui um enorme problema.
  5. O mesmo se passou com Miguel, sendo, para mim, uma surpresa a sua convocação. Sem Bosingwa, a melhor opção (disse-o aqui atempadamente) teria sido Amorim. Mas Queiroz só viu o problema do lateral direito demasiado tarde e quando Amorim já se tinha lesionado. Acertadamente, e face às más experiências nos jogos anteriores, tentou Ricardo Costa contra o Brasil, para ver no que dava - e deu mal. Não devia ter insistido, mas, digamos, na hierarquia dos problemas, este até nem foi o mal maior.
  6. Resta aquilo que se pode eventualmente ler nas entrelinhas do “caso” Nani, das afirmações de Deco e Hugo Almeida, do destempero de Cristiano e que a FPF deve ter em conta. Mas os problemas de liderança e de falta de carisma de Queiroz não são de hoje, pois não? Exemplo? Todos ainda utilizamos hoje em dia expressões como o “mata-mata”, “e o burro sou eu”, etc, etc, que ouvimos a Luiz Felipe Scolari. De Queiroz só nos lembramos mesmo do já longínquo “ varrer a porcaria que existe na federação”. Pois é...

3 comentários:

Anónimo disse...

Saúdo o autor deste blogue pela análise feita sobre a prestação da equipa nacional de futebol e do seu seleccionador.

É sempre fácil ceder à tentação bem portuguesa de passar da alegria esfusiante do bailinho da Madeira â voz pungente do fado do desgraçadinho. Neste caso, nem bailinho nem fado!

Rui Baptista disse...

Por lapso meu,o comentário acabado de publicar é da minha autoria.É meu uso subscrever aquilo que escrevo nos comentários.

Cordialmente

JC disse...

Mtº obrigado, caro Rui Baptista.