- Disse aqui neste “blog” quando a selecção portuguesa perdeu com a Alemanha nos ¼ de final do Europeu de 2008 que considerava esse resultado normal e que a participação da selecção portuguesa na prova estava de acordo com as expectativas, nada, em termos de prestação desportiva, podendo ser apontado à equipa técnica então dirigida por Scolari. Da mesma forma, afirmei aqui antes deste Mundial que consideraria normal o apuramento de Portugal para os 1/8 de final no segundo lugar do grupo e a sua posterior eliminação pela Espanha nessa fase, caso fosse este, como tudo faria prever, o adversário que caberia em sorte às “quinas”. Coerentemente, em termos de puro e simples “resultadismo” – que, em última análise é o essencial – tudo de acordo com a normalidade, não existindo razões de fundo, neste campo, para colocar em causa os responsáveis.
- Tendo dito isto, confesso reconhecer algo de diferente nestas duas participações. Em 2008, Portugal venceu a Turquia por 2-0 e a República Checa por 3-1. Perderia com a Suiça por 2-0 num jogo “a feijões” e com a Alemanha por 3-2 nos ¼ de final. Agora, não só não conseguiu ganhar a nenhuma das equipas do “seu” campeonato, como não foi sequer capaz de marcar qualquer golo. É que defender bem - Mourinho provou-o - não significa a mesma coisa do que a equipa esgotar-se nos processos defensivos, e Queiroz pareceu-me sempre demasiado obcecado pelos “serviços mínimos”, sem qualquer outra alternativa, talvez porque soubesse isso lhe garantiria um mínimo de contestação e o consequente cumprimento integral do seu contrato com a FPF. Provou, uma vez mais, tratar-se de um académico: profundo, certinho, mas sem rasgo ou chama, muito menos capaz de decidir rapidamente perante uma situação inesperada. Teria sido diferente com Nani e Bosingwa? Seriam duas opções que permitiriam melhorar o desdobramento ofensivo da equipa, mas a sua ausência não justifica tudo.
- Chega de atirar com as culpas para cima de Cristiano Ronaldo, apesar da sua inenarrável atitude no final do jogo (não foi ele que se institui capitão). É demasiado fácil fazê-lo: é famoso, milionário, joga no maior clube do mundo e “papa uma gajas boas”. Se jogava bem no United e joga bem no Madrid a responsabilidade da sua má prestação quando joga por Portugal será só dele? O facto é que parece existir uma incompatibilidade entre o modelo de jogo da selecção e a rentabilização de um jogador como Cristiano, com as suas características. Penso que para isso não acontecer a selecção teria que jogar mais á frente, num bloco mais alto. No Real Madrid é isso que acontece quando toda a equipa tende a acompanhar as suas cavalgadas e os “raides” de Kaká, chegando mesmo a desposicionar-se defensivamente. “Nem tanto ao mar”..., mas, penso, vedetismos e cenas de menino mimado à parte que compete ao seleccionador controlar, seria necessário que a equipa jogasse uns bons dez metros mais à frente e adoptasse diferentes procedimentos ofensivos para vermos outro Cristiano.
- Simão e Deco. Qual a surpresa? Também por aqui afirmei, antes do início do Mundial, que tinham feito épocas “desgraçadas”. Confirmaram. Alternativas? Moutinho fez igualmente uma má época numa equipa moralmente de rastos e Carlos Martins nada mostrou nas oportunidades que teve na selecção – e teve algumas; era um risco. A selecção teve aqui um enorme problema.
- O mesmo se passou com Miguel, sendo, para mim, uma surpresa a sua convocação. Sem Bosingwa, a melhor opção (disse-o aqui atempadamente) teria sido Amorim. Mas Queiroz só viu o problema do lateral direito demasiado tarde e quando Amorim já se tinha lesionado. Acertadamente, e face às más experiências nos jogos anteriores, tentou Ricardo Costa contra o Brasil, para ver no que dava - e deu mal. Não devia ter insistido, mas, digamos, na hierarquia dos problemas, este até nem foi o mal maior.
- Resta aquilo que se pode eventualmente ler nas entrelinhas do “caso” Nani, das afirmações de Deco e Hugo Almeida, do destempero de Cristiano e que a FPF deve ter em conta. Mas os problemas de liderança e de falta de carisma de Queiroz não são de hoje, pois não? Exemplo? Todos ainda utilizamos hoje em dia expressões como o “mata-mata”, “e o burro sou eu”, etc, etc, que ouvimos a Luiz Felipe Scolari. De Queiroz só nos lembramos mesmo do já longínquo “ varrer a porcaria que existe na federação”. Pois é...
Eu sou o Gato Maltês, um toque de Espanha e algo de francês. Nascido em Portugal e adoptado inglês.
quarta-feira, junho 30, 2010
Selecção: apreciação final
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3 comentários:
Saúdo o autor deste blogue pela análise feita sobre a prestação da equipa nacional de futebol e do seu seleccionador.
É sempre fácil ceder à tentação bem portuguesa de passar da alegria esfusiante do bailinho da Madeira â voz pungente do fado do desgraçadinho. Neste caso, nem bailinho nem fado!
Por lapso meu,o comentário acabado de publicar é da minha autoria.É meu uso subscrever aquilo que escrevo nos comentários.
Cordialmente
Mtº obrigado, caro Rui Baptista.
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