Confesso a minha perplexidade perante as repetidas críticas à FIFA e UEFA que vejo quase todos os dias na imprensa desportiva. Por ambas as entidades serem isentas de crítica? Nada disso, já que nem sempre isso acontece e eu próprio estou por vezes em desacordo com algumas das suas decisões. Então porquê? Porque, genericamente, são organizações que têm cumprido com êxito e eficácia aquele que constitui o seu “core business”: o desenvolvimento e expansão do futebol na Europa e no mundo, globalizando-o e tornando-o num espectáculo cada vez mais atractivo, em si mesmo e em termos financeiros (as duas vertentes caminham a par). Claro que, como acontece com qualquer grande organização, principalmente transnacional, UEFA e FIFA são sensíveis a questões de ordem política no seu relacionamento com os países filiados e também internamente, no seio de ambas as organizações, mas não só isso acontece com qualquer grande instituição, como também seria difícil entender como poderia desenvolver com sucesso a sua actividade sem estar atenta ao meio-ambiente” em que actua e procurando assim movimentar-se maximizando as suas possibilidades de êxito. Senão vejamos...
A UEFA foi e é responsável pela reformulação dos quadros competitivos das provas de clubes que organiza e parece ser um facto indiscutível o sucesso da Liga dos Campeões, talvez, hoje em dia, a prova de maior prestígio e onde se pratica melhor futebol a nível mundial, ultrapassando mesmo os Campeonatos do Mundo e da Europa. Para além do seu sucesso desportivo, indiscutível, são os proventos financeiros gerados pelas receitas de televisão que permitem aos clubes apresentar cada vez melhores treinadores, jogadores, melhores equipas e espectáculos mais atractivos em estádios modernos e confortáveis. Mesmo a Liga Europa, depois da reformulação a que foi sujeita a Taça UEFA (a fórmula anterior constitui um certo “flop”), parece também caminhar no bom sentido. Em termos de selecções, a UEFA, com a passagem de oito para dezasseis equipas na sua fase final, transformou o Campeonato da Europa num mini-Mundial sem Brasil e Argentina, mesmo mais competitivo e “igualitário” do que o seu rival da FIFA. A futura passagem a 24 equipas é uma resposta à nova Europa pós-URSS e guerra dos Balcãs, e será certamente um importante incentivo para o incremento do nível das equipas de alguns países já com alguma capacidade competitiva mas ainda sem o “andamento” para participarem regularmente num Europeu a 18 (v.g. Finlândia, Bulgária, Escócia, etc).
Já a FIFA tem sido responsável, com os recursos gerados através de alguns dos seus patrocinadores, entre os quais se incluem grandes empresas e marcas interessadas no potencial dos mercados emergentes, pelo desenvolvimento e fomento do futebol a nível mundial, principalmente em países menos desenvolvidos logo com maior potencial de crescimento para o futebol e também para os respectivos patrocinadores, numa parceria que parece bem perfeita. Nesse sentido tem privilegiado mesmo a entrega da organização do Mundial a países como a parceria Coreia/Japão, agora a África do Sul e proximamente o Brasil, que se dotam de infraestruturas adequadas.
Favorecem as grandes federações e as grandes equipas? Francamente, não me parece isso aconteça de forma sistemática, e consigo indicar muitos casos em que decisões e erros de arbitragem vão em sentido contrário. Seria mesmo, digamos, algo “contra a corrente”, já que o principal objectivo da UEFA nas últimas decisões sobre o regulamento das suas provas, tanto ao nível de clubes como de selecções, vão todas elas no sentido de favorecer os menos poderosos; e o interesse estratégico da FIFA e respectivos patrocinadores, como vimos, centra-se preferencialmente no desenvolvimento do futebol nos países emergentes. Além disso, os recursos financeiros de ambas as organizações são hoje em dia principalmente originados pelas receitas de televisão e patrocinadores, e qualquer risco sério de descrédito do espectáculo não tardaria em diminuir o entusiasmo de ambos, prejudicando essas mesmas receitas. A reacção de Joseph Blatter às arbitragens do Alemanha-Inglaterra e do Argentina-México, quase em pânico e aceitando rever a breve prazo a questão da “linha de golo”, são sintoma disso mesmo. Isto significa também que alguns de casos de erros de arbitragem que podem parecer, de modo mais nítido, estarem viciados por premeditação - e estou e lembrar-me dos que favoreceram a Coreia do Sul no Mundial de 2002 e o Barça na CL de 2008/2009, no jogo com o Chelsea - me parecem ser mais ditados pelos interesses da FIFA e UEFA na sua estratégia de desenvolvimento do futebol (o Mundial Coreia-Japão era fundamental para a expansão do futebol na Ásia e o “tiqui taka” catalão trouxe uma nova excitação e interesse ao jogo) do que pela intenção deliberada de favorecer os “ricos e poderosos - no caso da Coreia, estes (Espanha e Itália) foram mesmo prejudicados.
Para concluir, que agora quero ir ver o jogo (Portugal-Espanha): nem tudo está bem no “reino” de FIFA e UEFA. Mas seja introduzida alguma razoabilidade (também racionalidade) e justiça nas apreciações.
4 comentários:
Caro JC
Como se pode verificar em
http://www.miragens.abola.pt/videosdetalhe.aspx?id=9422
o jogador espanhol marcador do golo encontrava-se em situação de fora-de-jogo no momento em que o passe lhe é endossado.
Em face das leis do jogo, o golo da Espanha é pois obtido de forma irregular.
Muito estranhei na altura que a realização televisiva não nos desse a imagem parada habitual naquele tipo de lances para aferirmos da legalidade do golo, mas sim a imagem corrida em ângulos não esclarecedores.
Saliente-se porém, que tal fora-de-jogo só é perceptível com recurso aos meios tecnológicos já que entre o fiscal de linha e o o jogador espanhol existem dois jogadores no enfiamento da jogada que dificultam a visão daquele auxiliar, isto para além da circunstância da enorme rapidez do lance.
Depois da Inglaterra e do México, mais um prejudicado e um caso de escola para análise da pertinência da adopção de meios tecnológicos e da possibilidade do “challenge” pela equipa lesada, a única hipótese de repor a legalidade nesta jogada, tudo coisas que FIFA e Joseph Blatter, no uso de uma suprema autoridade, já afirmaram estar também fora-de-jogo ou de questão.
Tal como México e Inglaterra, Portugal, USA e Rep. Irlanda merecem também as devidas desculpas de uma organização que teima em negar a pertinência tecnológica.
Não me lembro de uma fase final de competições similares com uma abundância de casos, sobretudo com particularidades de “case study” que até parece um sinal da Providência a dignar-se dotar os renitentes responsáveis da documentação de trabalho adequada, mas que, certamente num assomo de autoridade suprema, renegam afirmando-se indisponíveis para abordar a questão, preferindo argumentos de autoridade contra a autoridade dos argumentos, isto perante biliões que com os seus impostos ou canais pagos, pretendem uma verdade desportiva ao alcance do seu remote control ou supletivamente até do seu smartphone.
Claro está que, mesmo anulado o golo, a equipa lusa comandada do coleccionador de fracassos que é QC. só poderia aspirar à lotaria dos penalties, tal a arte castelhana dos comandados do coleccionador de sucessos que é del Bosque.
JR
Recuso-me, sempre me recusei e recusarei a comentar aquilo a que costumo chamar "foras de jogo" de pint...". Mesmo quando prejudicam o meu "glorioso". Uma coisa foi o que se passou no Argentina-México - erro grosseiro - outra o golo do Villa.
A lei de jogo não excepciona os púbicos foras-de-jogo, ainda assim 22 cm, um tamanho acima da média bem capaz de gerar …. um fora-de-jogo.
Cumprimentos
JR
Existe uma coisa que se chama o espírito do jogo, caro JR.
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