Interrogo-me sobre o racional que move aqueles que se manifestam contrários a que joguem na selecção portuguesa de futebol jogadores que não tenham tido sempre a nacionalidade portuguesa. Penso se trata, em época de crise e do modo ameaçador com o é tantas vezes vista a globalização (o medo do estrangeiro desconhecido), de um retorno aos conceitos de “patriotismo”, do “amor à pátria”, que deram sustentação ideológica ao nascimento do domínio burguês e do estado-nação, no século XIX, e substituíram a lealdade ao rei e ao “senhor” característica do “ancien régime”. E, claro, defende-se que esse “amor à pátria”, que levou milhões a correrem a alistar-se para uma morte quase certa em 1914, nas vésperas da Grande Guerra, só se adquire pelo legado do sangue dos antepassados (“Qu’un sang impur; abreuve nos sillons”, diz a Marselhesa, o arquétipo dos hinos nacionais desse período revolucionário) ou, quando muito, pela assimilação e partilha, via vivência prolongada, dos chamados “valores nacionais”. É isto que estará na base da contestação às chamadas “naturalizações por interesse”, perfeitamente legais e legítimas mas tantas vezes invocadas como espúrias.
Trata-se de uma contestação que deixou de fazer grande sentido nos dias de hoje, de abertura de culturas e fronteiras, onde jovens viajam desde cedo e estudam, trabalham e casam fora do seu país de origem ou transitam permanentemente assimilando e amalgamando valores civilizacionais diferenciados. Falando cada vez mais várias línguas ou expressando-se preferencialmente num idioma que já não é o dos seus pais, já nem a “pátria” se identifica, ao contrário do que afirmava Pessoa, com “a língua portuguesa”, como nos tem sido dado a ver pelos mais jovens emigrantes na África do Sul que nos entram em casa via televisão.
O que me espanta é como tantas vezes esses valores do nacionalismo novecentista, que se prolongaram pela primeira metade do século XX, foram tão facilmente assimilados por muitos que se reclamam do marxismo, a primeira ideologia a contestá-los e a opor-se-lhe através da introdução do conceito de classe em substituição do de “unidade nacional” (proletários de todos os países, uni-vos”). Até o conceito de “traição” nacional por ter combatido pelo inimigo, que levou Gomes Freire de Andrade à execução, acabou substituído pela traição de classe, aos seus valores que são também os do “partido”.
Estranhos tempos, estes...
Trata-se de uma contestação que deixou de fazer grande sentido nos dias de hoje, de abertura de culturas e fronteiras, onde jovens viajam desde cedo e estudam, trabalham e casam fora do seu país de origem ou transitam permanentemente assimilando e amalgamando valores civilizacionais diferenciados. Falando cada vez mais várias línguas ou expressando-se preferencialmente num idioma que já não é o dos seus pais, já nem a “pátria” se identifica, ao contrário do que afirmava Pessoa, com “a língua portuguesa”, como nos tem sido dado a ver pelos mais jovens emigrantes na África do Sul que nos entram em casa via televisão.
O que me espanta é como tantas vezes esses valores do nacionalismo novecentista, que se prolongaram pela primeira metade do século XX, foram tão facilmente assimilados por muitos que se reclamam do marxismo, a primeira ideologia a contestá-los e a opor-se-lhe através da introdução do conceito de classe em substituição do de “unidade nacional” (proletários de todos os países, uni-vos”). Até o conceito de “traição” nacional por ter combatido pelo inimigo, que levou Gomes Freire de Andrade à execução, acabou substituído pela traição de classe, aos seus valores que são também os do “partido”.
Estranhos tempos, estes...
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