segunda-feira, junho 14, 2010

Crise é sempre tempo de unidade?

É comum ouvirmos e lermos, e o Presidente Cavaco Silva é “useiro e vezeiro” em tal coisa nos lembrar, que tempo de crise é, simultaneamente, oportunidade para pôr de lado o que nos divide, as “querelas partidárias”, o debate ideológico. Essa “unidade” será, por si só, a melhor e talvez a única solução para os problemas.

Lamento, mas se isso é algo que, na aparência, é fácil de entender e pode parecer correcto, na prática existem inúmeros exemplos que tendem a provar o contrário. Por exemplo, na Rússia de 1917, com a profunda crise originada ou potenciada pela participação do país na Grande Guerra, foi na revolução bolchevique e na derrota dos seus adversários após uma guerra civil, e não a unidade entre bolcheviques e mencheviques, que foi encontrada uma solução política duradoura. No Reino Unido do final dos anos 30, quando o espectro da guerra era já evidente (existirá maior crise do que a iminência da guerra?), só a derrota, após grande debate ideológico e um radical extremar de posições, dos partidários do chamado “apaziguamento” com Hitler, sector que incluía uma boa parte da aristocracia, dos dirigentes políticos e se estendia a membros do governo e ao próprio Príncipe de Gales e futuro rei Eduardo VIII (ter-lhe-á custado o trono), foi possível a formação de um governo de unidade nacional, leia-se, com a exclusão dos partidários do tal apaziguamento. Mais perto de nós, em tempo e geografia, é a derrota do PCP e sectores da esquerda radical, no 25 de Novembro, que abre caminho a soluções governativas estáveis e a uma orientação política e estratégica consistente.

Pois é, nem sempre as evidências falam verdade...

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