quinta-feira, junho 03, 2010

"Bad Lieutenant": de Ferrara a Herzog

Falta-lhe, claro, o impacto de uma primeira vez, mas também bem mais do que isso: falta-lhe sordidez, rasquice; um ambiente por elas tornado obsessivo e quem tenha capacidade para nele nos fazer mergulhar, sejam a direcção de Abel Ferrara, a interpretação de Harvey Keitel ou, o que é mais provável, a prestação de ambos. E depois há uma Eva Mendes acompanhante de luxo em vez da “puta rasca” que deveria ser “o dado”, muito pouco convincente como “junkie”. E um “happy end” “soft” em vez da redenção pela morte. Há, pois!, a redenção pela morte do original de Ferrara! Claro, ela só faz sentido perante a iconografia católica e transgressão da moral religiosa que impregna todo o filme original e lhe dá conteúdo e sentido, tal como “Pledging My Love”, que marca o “mood & tone” do filme de Ferrara, só tem razão de ser perante a evidente ausência do amor e a prevalência do sexo.

Resumindo... Resumindo? Um murro no estômago e um filme de culto nos anos 90 transformados, dezassete anos depois, num objecto inócuo, um “thriller” apenas vagamente interessante. Vale os seis euros, mas nada mais do que isso.

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