Eu sou o Gato Maltês, um toque de Espanha e algo de francês. Nascido em Portugal e adoptado inglês.
quinta-feira, maio 31, 2007
Breves...
- O valor que o Sporting vai conseguir com a venda de Nani corresponde, “mais coisa menos coisa”, ao seu orçamento da época passada. O produto da venda de Anderson corresponde a um pouco mais de 50% do orçamento do FCP nessa mesma época. Acresce que nenhum deles foi particularmente decisivo nos resultados das respectivas equipas, tendo Anderson estado parado, por lesão, mais de metade da época. Conclusão: se nada de especialmente relevante se passar, o “meu” Benfica já entra na nova época a perder.
- A posição mais correcta e consequente, em termos partidários, sobre o novo aeroporto de Lisboa é a do CDS. Como tenho sido bastante crítico em relação ao dito partido, aqui neste blog, aqui fica um elogio para que conste.
- O governo “sobrereagiu” na comunicação social em relação à greve de ontem. Os resultados da dita greve, apelidada de geral, não justificavam tanto alarido mediático por parte de ministros, secretários de estado e por diante. Ele terá sido mesmo contraproducente. Será que o governo, tido por dar tanta importância à comunicação, não tinha, na sua estratégia de resposta, mais de um plano para aplicar consoante os resultados que se fossem verificando ao longo do dia?
quarta-feira, maio 30, 2007
Traduções???!!!
Greve
terça-feira, maio 29, 2007
O CDS e a Câmara de Lisboa
História(s) da Música Popular (45)
Chubby Checker - "The Twist" (1961)
No período de declínio do rock n’ roll original que se seguiu a 1958 (ver posts anteriores sobre o assunto), e como alternativa mais “integrada” e menos marginal às necessidades e desejos da nova cultura juvenil, surgiu a loucura das “danças”, em que muitas vezes o diagrama, com os passos respectivos, vinha já impresso nas capas dos discos (singles e EP’s) de 45 rpm. Ele foi o “twist”, o “mashed potatoes”, o “watusi”, o “jerk” e é só pedir que qualquer uma mais se arranjará.
De todas elas, foi o “twist” a que teve maior difusão, talvez por ter sido a primeira em que os pares dançavam a “solo”, sem qualquer contacto físico, criando uma certa ruptura com o rock que, embora mais físico, “selvagem” e enérgico, não deixava de ser uma evolução das danças da geração anterior. Também para a sua difusão muito terá contribuído a televisão e, principalmente, o programa “American Bandstand”, de Dick Clark, mas também um certo clube de New York chamado “Peppermint Lounge” (por lá começaram também as “Ronettes”) e o seu grupo residente, Joey Dee and the Starliters, com o seu “Peppermint Twist”.
Mas comecemos bem pelo princípio e esse foi Chubby Checker e o seu “The Twist”. Foi? Não é bem assim, já que “The Twist” não é mais do que um cover do, até aí quase desconhecido, B-side com o mesmo nome de Hank Ballard & The Midnighters (um grupo de Detroit, Michigan), gravado em Novembro de1958 com o A- side "Teardrops On Your Letter" e editado em Janeiro do ano seguinte.
“The Twist” (o de Chubby Checker) foi, claro está, #1 e este reincidiria mais tarde com “Let’s Twist Again”, que também chegou ao topo do hit-parade. Por cá as versões francesas de Sylvie Vartan e Johnny Halliday terão sido as mais populares nas festas de garagem e do Liceu Francês. Os USA ficavam longe, as importações da América eram caras e a cultura francófona dominante fazia o resto.
Pois então aqui ficam a versão original de Hank Ballard & The Midnighters (a minha preferida) e, em vídeo, a que lhe deu asas: a de Chubby Checker. Voltaremos a este assunto das danças...
segunda-feira, maio 28, 2007
Espanha e Navarra
Grandes Séries (16)
"Upstairs, Downstairs" (1971 - 1975)
Interessante também verificar como algumas das realidades que apresenta irão estar, embora de forma parcial e mitigada pela evolução dos tempos, presentes na sociedade portuguesa até muito perto do 25 de Abril de 74.
Neste clip, prepara-se a recepção a Edward VII que irá jantar ao nº 165 de Eaton Place. Sem mais comentários...
Os McCann e o Papa
domingo, maio 27, 2007
sábado, maio 26, 2007
Outras Músicas (25)
sexta-feira, maio 25, 2007
Nota de uma sexta-feira à tarde (com chuva) - 3
Nota de uma sexta-feira à tarde (com chuva) - 2
Nota de uma sexta-feira à tarde (com chuva)
William Blake: "Songs of Innocence and of Experience" (13)
quinta-feira, maio 24, 2007
Anedotas, gaffes e o novo aeroporto
Feira do Livro
quarta-feira, maio 23, 2007
A final da Champions League
António Costa e o novo aeroporto
A Imaculada Conceição de Maria...
Cinema e Rock & Roll (4)
A estratégia de oposição ao governo e os direitos, liberdades e garantias
terça-feira, maio 22, 2007
História(s) da Música Popular (44)
O riff foi retomado, com maiores ou menores adaptações, em muitos temas célebres da música popular, tais como “You Really Got Me”, dos Kinks, “Wild Thing”, dos Troggs, e “Get Off My Cloud”, dos Rolling Stones, e “Louie Louie” terá tido mais de mil e quinhentas cover versions, sendo as mais conhecidas a dos Motorhead e dos próprios Kinks. A Rhino Records editou mesmo uma compilação (dois volumes em CD) com o nome “The Best of Louie Louie”, nela integrando algumas das mais conhecidas versões do tema, que é considerado o #1 de toda a história do rock & roll. É a versão que tornou “Louie Louie” famosa, a dos Kingsmen, que aqui fica.
P.S.: existe na net uma quantidade enorme de informação sobre o tema, que valerá a pena ser consutada pelos mais curiosos. Saliento:
segunda-feira, maio 21, 2007
A Fenprof, os exames e o ministério
A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) criticou hoje a realização das provas de aferição nos 4º e 6º anos, considerando que a intenção do Ministério da Educação é responsabilizar as escolas e os docentes pelos resultados dos alunos.
"O ministério de Maria de Lurdes Rodrigues parece pretender que as referidas provas sejam mais um mecanismo de avaliação e responsabilização das escolas e professores, caso as classificações dos alunos venham a ser baixas", afirma a Fenprof, em comunicado.
"Esta intenção, que a Fenprof rejeita e repudia, fica muito clara pelo facto de o Ministério da Educação remeter para as escolas a incumbência de montar estratégias de superação das dificuldades dos alunos, pretensamente diagnosticadas através das classificações por eles obtidas"
Mas então a quem caberá a responsabilidade? Apenas ou essencialmente ao Ministério? Quem terá de definir estratégias para a superação das dificuldades dos alunos? Também só e apenas o Ministério? Nesse caso, para que servem então os professores? Para lerem mecânicamente o que vem nos manuais? As classificações não são, também elas e em conjunto com outras metodologias, método de diagnóstico e avaliação da eficácia da aprendizagem?
Se alguém ainda tinha dúvidas sobre a responsabilidade dos sindicatos do sector, com a conivência das várias equipas que foram passando pelo ministério, no estado a que chegou a educação em Portugal...
O PSD num impasse?
O mesmo me apetece dizer actualmente do PSD: após dois anos de oposição, todas as sondagens revelam que a popularidade de José Sócrates não foi significativamente afectada e o PS continua a poder aspirar a uma nova maioria absoluta. Isto, apesar da necessidade do governo prosseguir uma política de contenção e retracção de regalias sociais em vários sectores, das manifestações de rua, do desemprego em alta e dos tiros no pé do primeiro ministro, como é o caso da questão da licenciatura e das gafes do ministro Pinho, por exemplo. Nem mesmo assumindo um papel de relevo na contestação a um projecto impopular (e com razão) para a maioria dos eleitores, como é o caso do novo mega-aeroporto de Lisboa, o PSD conseguiu alterar as intenções de voto dos portugueses, talvez porque em vez de propor uma alternativa clara, em termos de modelo de desenvolvimento e de infra-estruturas aeroportuárias (mas não só), acabou por se limitar a colocar em cima da mesa a questão da sua localização. Talvez também porque os portugueses identifiquem ainda demasiado o PSD como o partido das obras públicas e isso o torne menos credível como portador de um projecto alternativo.
Será pois altura de os accionistas do PSD (os seus filiados e militantes) colocarem em causa, mais do que a fulanização da liderança, a estratégia e projecto até aqui assumidos, já que estes parecem não ir ao encontro das expectativas dos eleitores ou eles não julguem credível a equipa que se propões executá-los. Pelo menos, apesar dos investimentos realizados a quota de mercado ganha é quase nula, por vezes mesmo negativa. Numa empresa privada seria altura para interrogar o mercado e, em função dos resultados obtidos, redefinir a estratégia, os seus executores e o portfolio de produtos e marcas, o que iria também obrigar o leader (PS) a ser melhor e, com ele, todo o sector de “negócio”. Os consumidores/eleitores, entre os quais me incluo, certamente agradeceriam.
domingo, maio 20, 2007
sexta-feira, maio 18, 2007
Futebol, racionalidade e emoções
Mas o problema é que o futebol é uma actividade de emoções, o que quer dizer também de identificações e rejeições, e, assim sendo, tenho de confessar que me daria particular gozo ver o FCP empatar com o Desportivo das Aves e entregar o título ao Sporting – se não puder mesmo ser ao Benfica, claro, para o que teria de perder. Mesmo que o que ainda resta de “belenense” entre família (a minha mãe) e amigos estivesse “mortinho” pela vingança de 1954/55, quando os “lagartos” foram às antigas Salésias empatar com o Belenenses na última jornada (a 4 ou 5’ do fim) e, assim, tirar o título ao “Belém” e entregá-lo de mão beijada ao Benfica!!!
O túmulo de D. Afonso Henriques
quinta-feira, maio 17, 2007
"Portugal - Um Retrato Social"
Na passada semana acabou de ser emitido na RTP1 o último programa de uma série que analisa com seriedade e rigor a nossa história recente; a evolução de várias facetas do país e dos seus habitantes nas últimas quatro décadas. Estou a falar, claro, de “Portugal- Um Retrato Social”, de António Barreto e Joana Pontes. Foi dos melhores programas de TV, de produção nacional, dos últimos anos e aquele que, em conjunto com “Portugal - Um Retrato Ambiental”, de Luísa Schmidt, melhor analisou alguns aspectos sociais da nossa história na segunda metade do século XX. Nos media, na "blogosfera", na TV do serviço público abateu-se sobre o assunto um silêncio de morte. Nem um debate final, uma análise à posteriori, uma discussão na "blogosfera". Nada! Era talvez demasiado sério. Não seria talvez controverso.
PS (de post scriptum): talvez um pouco tarde demais, mas sobre o tal concurso idiota e os seus resultados saúdo um artigo que Pedro Magalhães publicou no “Público”, o único - que me lembre - que pôs os pontos nos ii e “chamou os bois pelos nomes”. Muito bem!
Uma competente polícia de investigação criminal?
quarta-feira, maio 16, 2007
O cão de José Mourinho e a pronúncia dos jornalistas
A Guerra Aqui (mesmo) Ao Lado (20)
O "Bloco de Esquerda" e o casamento
Mas como é um contrato que envolve, frequentemente, sentimentos e emoções, por vezes, mesmo, dificilmente controladas ou controláveis, que tem que ver com a vida em comum e, eventualmente, com outros que não foram tidos nem achados para a assinatura do mesmo ou se manifestaram contra, com a evolução de algo tão mutável e volúvel como personalidades e vivências, tanta coisa não tangível nem fungível, dificilmente se pode manter sem o assentimento de ambas as partes, por isso mesmo assumindo a forma de um contrato sem prazo definido, ou seja, deixado este à consideração das partes envolvidas. Poderia, e deveria, por isso mesmo, ser revogável por decisão unilateral, passando a “letra de forma” aquilo que já é prática corrente, uma vez que a grande maioria das revogações, ditas por mútuo consentimento, do contrato de casamento, são, por questões de facilidade, decisões unilaterais “impostas” a uma das partes. Penso que esta seria uma medida clarificadora, salvaguardando devidamente as questões de poder paternal e patrimoniais, e que isso constituiria apenas a consagração em lei de uma prática social já estabelecida.
Tendo dito isto, não me parece ser, contudo, uma questão prioritária na sociedade portuguesa, não me parecendo existir qualquer pressão social significativa nesse sentido ou que a actual lei constitua, por si, um grave “empecilho”; nas áreas ditas “de sociedade”, e no que diz respeito à modernização da sociedade portuguesa, outras existirão a resolver prioritariamente em termos legais. Tratou-se apenas de “marcação de território” por parte do “Bloco” que sabia perfeitamente ser algo que neste momento o PS não estaria em condições de assumir. Mas é algo que no futuro terá forçosamente de ser encarado. Sem facilitismos mas também sem a tão habitual hipocrisia.
Manuel Alegre/Helena Roseta
terça-feira, maio 15, 2007
"A época dos incêndios"
António Costa e a CML
Having said this, considero uma excelente notícia a provável candidatura de António Costa à Câmara Municipal de Lisboa. Defendi, em post anterior, que nas actuais circunstâncias só uma candidatura polarizada pelo Partido Socialista, sozinho ou em coligação, poderia constituir uma alternativa á desastrosa gestão camarária dos últimos anos. Para ser mais correcto, de todos os anos em que me lembro de existir, pois o menos mau dos presidentes de Câmara (João Soares) foi apenas isso mesmo: menos mau, logo, medíocre. Mais, no mesmo post afirmei também essa teria de ser uma candidatura politicamente forte, de alguém com “peso” específico dentro do partido e com experiência política comprovada. Só essa experiência e peso políticos lhe poderiam permitir definir opções de forma clara, e assumir alguma autonomia na gestão de toda a rede de interesses ligados à Câmara Municipal e que se expressa através dos aparelhos locais: concelhias, distritais, etc. E digo “autonomia na gestão de...”, já que me parece perfeitamente suicidário e erro de principiante ignorar completamente esses interesses ou afrontá-los e afastá-los de modo directo e liminar. Toda a gestão é também isso mesmo: uma gestão de expectativas, interesses e ambições. Só isso permite que se alcancem resultados. Um dos erros de Carmona Rodrigues terá sido, eventualmente, esse: a sua inexperiência e /ou falta de apoio políticos esteve na origem do seu déficit de autonomia na gestão desses interesses, tendo acabado seu refém. Eis uma das razões porque me parece, nas actuais circunstâncias, ser de afastar a opção por um “independente”.
No entanto, não tendo da política uma visão fulanizada, este será apenas um primeiro passo. Há que estar atento á constituição da lista a apresentar (com autonomia face à concelhia e à antiga vereação de triste memória) e àquilo a que António Costa se propõe. Esperemos que resista á apresentação de um programa irrealista e megalómano, e se cinja àquilo que os “alfacinhas” efectivamente esperam neste momento: racionalização dos recursos (incluindo os recursos humanos), reorganização de serviços, saneamento financeiro e apresentação de um conjunto de medidas, simples mas eficazes, realizáveis rapidamente e com poucos meios, que permitam, a curto prazo, tornar um pouco mais agradável a vida em Lisboa. Ah, já agora, e depois de eleito que chame a colaborar com a Câmara aquela que foi a sua melhor vereadora dos últimos anos: Mª José Nogueira Pinto.
segunda-feira, maio 14, 2007
História(s) da Música Popular (43)
Ontem, fui do Leixões e do Guimarães!
Em Portugal, apesar de uma industrialização incipiente e tardia, exceptuando o caso dos actuais três grandes, mais ou menos populares ou interclassistas nas origens, o futebol também “pegou de estaca” e se desenvolveu nas zonas industriais e operárias. Aí nasceram e cresceram clubes como o Vitória de Guimarães (a “cidade industrial” num Minho rural), o Barreirense, o Olhanense (da vila da pesca e das conservas de peixe), o Leixões (idem e o segundo maior porto português – as cidades portuárias europeias sempre tiveram equipas de futebol competitivas: Bilbau, Marselha, Liverpool, Hamburgo, Olympiakos do Pireu, etc), o Atlético e o Vitória de Setúbal (Setúbal, fruto do desenvolvimento da construção naval – mas não só - era a cidade que mais crescia em Portugal nos anos sessenta, a época de ouro do "seu" Vitória). Mesmo o Belenenses, apesar das ligações à ditadura e de recolher muitos adeptos nas classes altas, tinha uma indiscutível base operária na então zona popular de Belém, influência que se estendia para além rio nas zonas também populares ligadas ao Tejo, de Almada, Trafaria e Cova da Piedade. O seu antigo estádio (as "Salésias") era assim, em termos de localização, um pouco como os estádios ingleses, encravado entre as casas baixas da zona mais antiga do bairro numa rua que, significativamente, se chamava “das Casas do Trabalho”.
A terciarização da sociedade portuguesa nas últimas décadas, fruto da falta de competitividade industrial por via do fim do império, da adesão à União Europeia e da globalização, conduziram alguns desses clubes aos escalões secundários, substituídos por clubes quase artificiais e sem público, tradição ou inserção popular, sustentados pelas autarquias e sabe-se lá por que mais. Casos mais emblemáticos são os do Estrela da Amadora, da União de Leiria e da Naval 1º de Maio, por sinal os clubes que terão das mais baixas assistências da primeira liga.
Por isso saúdo o regresso do Vitória de Guimarães e do Leixões à I Divisão. É como que um regresso do futebol às suas origens e raízes populares, e uma certeza de estádios mais cheios e com adeptos mais entusiastas e sofredores pelos seus clubes, mais conhecedores. De menos indiferença e mais affición. Também de maior investimento na formação, espera-se, em cidades onde poder vir a jogar no clube da sua comunidade e dela ser ídolo ainda será orgulho para muitos jovens. Pelo mesmo motivo, fico a torcer por um regresso em breve do Olhanense, em vez dos algarvios andarem entretidos em salvar o Farense não se sabe bem de quê ou de tentarem inventar um clube algarvio do nada ou coisa nenhuma. Ontem, durante a tarde, fui do Leixões e do Vitória. Espero, numa tarde de um dos próximos anos, poder ser também do Olhanense!
sábado, maio 12, 2007
As Capas de Cândido Costa Pinto (27)
Paulo Portas e o inglês
sexta-feira, maio 11, 2007
Grandes Séries (15)
quinta-feira, maio 10, 2007
Paulo Portas e a Câmara de Lisboa
O PS e a Câmara de Lisboa
Ainda a propósito de Madeleine McCann
Esse secretismo e desconfiança reproduzem-se também ao nível de muitas empresas, internamente e na sua relação com os utilizadores dos serviços prestados, principalmente naquelas que no passado eram estatais ou detêm, ainda hoje, posições de quase monopólio ou de pouca transparência num mercado incipiente ou protegido (transportes, telecomunicações, energia, etc). Basta ter trabalhado em empresas de matriz anglo-saxónica para verificar como nelas tudo se passa de modo bastante diferente, internamente e na sua projecção para o exterior. É exactamente essa dicotomia de culturas e mentalidades que se expressa exemplarmente neste artigo do "Independent" (nota: não é um tablóide!) sobre o desaparecimento de Madeleine McCann e o modo de actuação da polícia portuguesa. Mais do que reacções xenófobas ou de virgens despeitadas, talvez fosse bem melhor tentarmos aprender algo com alguns bons exemplos alheios.
William Blake: "Songs of Innocence and of Experience" (12)
"The Eccohing Green" (2ª parte) - poema e ilustração de William Blake para "Songs of Innocence and of Experience"
quarta-feira, maio 09, 2007
Outras Músicas (24)
Deolinda - "Fado Toninho"
Cinema e Rock & Roll (3)
Madeleine
Em primeiro lugar, o assunto tem que ver com aquilo que é o instinto e objectivo primeiro de qualquer espécie, acima, mesmo, da sobrevivência: a continuação dessa mesma espécie, através do assegurar a sobrevivência das “crias”, dos descendentes, defendendo-os dos seus predadores. Por muito que isso possa chocar, não estamos, em muitos dos nossos padrões comportamentais, tão longe como pretenderíamos de outras espécies animais, principalmente de outros mamíferos, e este – assegurar a sobrevivência da espécie - é o objectivo básico da nossa existência. Por outro lado, fruto da diminuição da mortalidade infantil e do aumento da qualidade de vida, o nosso comportamento para com as crianças mudou radicalmente nas últimas décadas. Aquilo que era visto como normal (a morte por doença ou acidente de uma parte da descendência – o que gerava algum distanciamento face às crianças) é hoje, felizmente, visto como algo incomum e inaceitável. A diminuição da mortalidade gerou, como sua consequência, mais e melhores afectos. Estamos longe da necessidade de gerar filhos para ajudar à subsistência da família - do “a minha mulher é uma boa parideira” – e isso esteve na origem de novas atitudes e comportamentos. Mais ainda: estamos, neste caso como em outros, perante um novo tipo de predadores até aqui desconhecido e cuja actuação é facilitada pela disseminação das novas tecnologias, da globalização e da liberdade de circulação: as redes internacionais de pedofilia e adopção. É algo que temos ainda dificuldade em combater (nas sociedades mais “atrasadas” a violência, sexual ou não, sobre as crianças, era exercida pela família ou por próximos), tal como terá acontecido com outras espécies quando da introdução pelo homem de novos predadores ou das armas de fogo, e que por isso contribui para potenciar os nossos medos e impotências. Em certa medida constitui um novo “medo” desconhecido, tal como aconteceu com a ameaça das invasões marcianas dos anos cinquenta, mas que aqui é bem mais real. Estamos assim, portanto, perante algo de novo e que constitui uma questão social emergente, de indiscutível importância para as novas gerações, merecendo, por isso, o tratamento mediático alargado que lhe tem sido concedido.
Tem também sido glosado o tema da desigualdade de tratamento atribuída a este caso, por envolver cidadãos estrangeiros, em contraste com outros casos, mais ou menos recentes, de desaparecimento de crianças ou adolescentes. Mais uma vez, acho não têm razão.
Contrariando uma das recentes análises de Vasco Pulido Valente no “Público”, a propósito de um outro tema, numa sociedade desigual nem sequer os sentimentos “igualizam”. Reagimos a crimes, desgraças e catástrofes consoante a identificação que temos com os que as sofrem e, diferentemente, segundo os nossos valores, a nossa cultura, as nossa vivência e, sacrilégio!, a nossa classe social. Não temos perante um tsunami na Ásia, um atentado terrorista no Bali ou a queda de um avião na Colômbia, a mesma reacção do que teríamos se isso acontecesse nos USA, na Europa, em Espanha, no nosso país ou na nossa cidade. Do mesmo modo que não reagimos á morte inesperada de um familiar ou amigo chegado como o fazemos em relação a alguém mais distante, por muito que o estimemos. Uma família da classe média urbana não reage à perda catastrófica dos seus “teres e haveres” do mesmo modo que o faz uma família do mundo rural mais profundo, por muito que isso possa ter para ambas consequências idênticas. E assim sucessivamente... Por isso, não reagimos ao desaparecimento de uma criança da classe média britânica em férias no Algarve, aparentemente integrada num meio familiar estável e favorecido e, tudo leva a crer, vítima de um novo tipo de crime, do mesmo modo que reagimos e analisamos o desaparecimento de alguém raptado por razões de disputa familiar ou sujeito a maus tratos numa família “disfuncional”. Não assistimos ao desaparecimento de um bebé, como é o caso, do mesmo modo que o fazemos face a um adolescente ou uma criança com maior grau de autonomia. Será cruel, mas é assim, e sabemos onde nos levaram as construções apressadas do “homem novo”. O tratamento concedido ao caso pelas polícias é consequência disso mesmo, do impacto diferenciado que os casos possam ter nesses mesmos media e na opinião pública, acrescido da importância do turismo como actividade principal de uma região, como é o caso do Algarve e, por extensão, o do país.
Por último, será provincianismo apelar à colaboração da polícia britânica para ajudar na resolução do caso ou isso é apenas uma medida de bom senso e profissionalismo ditada pela maior preparação e experiência dessa mesma polícia neste tipo de casos? Basta acompanhar regularmente ao media ingleses, ou, até, as respectivas séries policiais de TV (cujas histórias, mesmo que romanceadas, acabam por reflectir aquilo que são as preocupações e a “cena criminal” dominante no país) – para concluir que a sua expertise, fruto da maior incidência deste tipo de casos, não será, por certo, de menosprezar.
Para concluir: se há reacções e análises que não nos surpreendem se e quando expressas nos vários "fóruns" de opinião em televisões e rádios, a outros se pede que pensem. No fundo, não é o que devíamos pedir um pouco a todos nós?
terça-feira, maio 08, 2007
Suburbanismo e centros comerciais
Dessa suburbanização fazem parte os mega centros comerciais, com as suas lojas e supermercados abertos entre as dez da manhã e as onze da noite, domingos e feriados, centros de lazer e passeio do proletariado das periferias, de súbito “promovido” a pequena e média burguesia consumista. Este é um cenário que, mal nosso, também evoca mais a América Latina do que a Europa, onde o comércio de rua, tradicional ou não, individual ou franchisado, continua a ser a regra. Acresce que a rentabilidade desses centros comerciais e supermercados (Continente, Colombo, Vasco da Gama e por aí fora – Benfica, Telheiras e Parque das Nações são pouco menos do que subúrbios) está ligada uma determinada lógica de funcionamento que obriga a esse mesmo horário de abertura alargado, o que tem que ver com a rentabilidade dos seus activos e os hábitos dos próprios consumidores gerados por essa mesma suburbanização de valores e culturas.
Parte activa deste modelo de desenvolvimento e seu mentor, o governo (os governos) decidiram, de repente, obrigar ao fecho dos tais supermercados aos domingos e feriados à tarde, mantendo as restantes lojas abertas, o que é uma decisão contrária a toda a lógica do modelo. Pior, decidiu fechar alguns e manter outros abertos com base apenas na área ocupada, mesmo que pertençam ao mesmo grupo ou network internacional e a filosofia seja idêntica. Para proteger o comércio tradicional (dizem), depois de ter definido uma estratégia de desenvolvimento que o pôs em causa e de ter provocado a desertificação dos centros urbanos e, também aí, ter sido um dos seus coveiros... Alguém entende aqui uma lógica, um fio condutor, uma estratégia?
Nota: No meio disto tudo, a directora de marketing do grupo Auchan (peço desculpa mas não me lembro do nome – a nossa memória tem esta rara virtude de seleccionar o que interessa) veio declarar à TSF, defendendo a abertura a domingos e feriados, que é “exactamente isso o que acontece nos países com crescimento de dois dígitos, como a China, a Índia e a Rússia (esqueceu-se de Angola – acho...). Pois ficámos esclarecidos sobre qual o modelo de desenvolvimento sugerido para Portugal pelo grupo Auchan!!! Por ter dito, como prova da excelência do Centro Comercial das Amoreiras, onde se situa um supermercado desse mesmo grupo Auchan, “que este não era frequentado por pretos” (estou a citar de cor), a então directora desse centro comercial, Mª José Galvão de Sousa, foi afastada do cargo. Com afirmações como a acima citada, talvez um dia a directora do Auchan nos venha dizer que a diversidade étnica é uma das mais valias do grupo...
Adriano Pimpão e o "ranking" das universidades
segunda-feira, maio 07, 2007
História(s) da Música Popular (42)
Bom, mas a propósito de quê e de quem vem esta história ao caso na surf music? Expliquemos: o segundo êxito dos Beach Boys, e seu primeiro tema no top ten (#3) e que será o do seu lançamento definitivo, é uma cópia de uma velha composição de Chuck Berry (“Sweet Little Sixteen” - 1957) com uma “letra” diferente, “adaptada”, fazendo menção a todos os surf spots de que Brian Wilson se terá lembrado: “Surfin’ USA, 1963. Como Brian não surfava, e por isso não sabia quais os surf spots mais famosos, contou com a ajuda do irmão da sua namorada de então, Judy Bowles. Pelo menos é o que ele diz! O assunto foi, a princípio, pouco pacífico, já que Berry, logo que o single se tornou num sucesso, resolveu protestar contra o facto de a composição vir atribuída a Brian Wilson. Mas parece que por fim a “coisa” lá se resolveu, com o pai Wilson a ceder o copywright a Chuck Berry que, ao que se diz, até gostava de “Surfin’ USA”. O que eu sei é que nos vários CD’s e vinil que tenho cá por casa e onde consta o tema, ele é atribuído a Chuck Berry (umas vezes) e a Chuck Berry e Brian Wilson (outras). Portanto, tudo bem quando acaba bem. “Surfin’ USA” é também título do segundo álbum dos Beach Boys, para a Capitol, e para que possam comparar aqui fica ambos os temas em causa: “Surfin’ USA”, dos Beach Boys, e “Sweet Little Sixteen”, de Chuck Berry. Quem é amigo?
domingo, maio 06, 2007
José Pacheco Pereira e os aparelhos partidários
José Pacheco Pereira escreve este sábado no “Público” (reproduzido no “Abrupto”) uma interessante análise sobre os aparelhos dos partidos do chamado “bloco central”, a propósito da crise na Câmara de Lisboa e dos comportamentos e movimentações em curso. Duas notas:
- JPP é um intelectual, um “pensador” da política, um homem culto e informado e, por isso mesmo, que tende naturalmente a ser profundo e a assumir o primado da política (da “luta política” como tantas vezes afirma), da estratégia e não da táctica, da autonomia e não da pertença. Esse é o seu lugar como que “natural”, o que o coloca à partida num campo de antagonismo com aquilo e aqueles que no seu artigo refere. Por isso mesmo, essa sua análise assume também um carácter exorcístico face a uma realidade na qual era um corpo estranho e à qual teria tido dificuldade em se adaptar, que como que o tendia naturalmente a expelir. Basta ler regularmente JPP e ter uma ideia, mesmo que vaga e distanciada, como é o meu caso, de como funcionam as estruturas partidárias locais para perceber o modo como Pacheco Pereira terá sido, durante esses anos, obrigado a lutar num terreno que lhe era desfavorável, onde as suas melhores armas teriam dificuldade em conseguir espaço sequer para se exprimirem, muito menos para se imporem. Ter-se-á exposto assim a uma situação quase surrealista, para si certamente amarga, derrotado ou afastando-se numa luta por lugares de liderança num partido político por via da sua própria superioridade política e intelectual. É como que um contra-senso. Assim sendo, este seu artigo assume um papel também de “ajuste de contas”, não com alguém mas com instituições às quais (e bem) não reconhece “valor”. Também com o seu próprio passado.
- No entanto, penso a análise de JPP poderia ir um pouco mais longe, pois se descreve os factos não se debruça tanto sobre as causas. E essas, penso, mais uma vez não andarão muito longe daquelas que estão ligadas ao atraso português da falta, pouca ou nenhuma autonomia dos indivíduos, empresas e instituições face ao estado, num país com baixas qualificações e uma estrutura empresarial, institucional e individual sem capacidade competitiva suficiente para se tornar mais autónoma. Esse é o drama e o caldo de cultura que ajudou a moldar a personalidade dos portugueses e onde eles, portanto, com maior á vontade se movimentam. Onde vale mais a pequena habilidade do que o rasgo, a dependência e o cinismo do que a autonomia e a livre crítica, o “conhecimento certo” do que o conhecimento tout court, a obediência do que a qualificação, o temor reverencial do que a irreverência necessária, o “mais do mesmo” do que a inovação. Nesse sentido, o que se passa na Câmara de Lisboa, de modo particular com os dois principais partidos, PS e PSD, não é muito diferente do que se passa em outras áreas do país. É mesmo um pouco do seu retrato. Onde JPP não se revê e não gosta de rever o país. Eu também não.
sexta-feira, maio 04, 2007
O património histórico da Europa democrática, os partidos comunistas e a URSS
"L'Affiche Rouge" - Léo Ferré
A luta contra as ditaduras que dominaram parte da Europa entre os anos vinte e setenta do século XX, quer fossem os nazi-fascismos ou as ditaduras de Franco e Salazar que neles mergulharam algumas das suas raízes, faz parte da herança patrimonial das democracias liberais da Europa ocidental. Nela, e nas suas memórias, nesse património histórico, político e cultural, se forjou uma parte daquilo que constitui, hoje em dia, a sua personalidade e, assim, também e não raras vezes um pouco do seu corpo jurídico doutrinário. Em algumas delas, como é o caso de Portugal e Espanha, essas lutas estão muito directamente na génese das actuais democracias, com elas quase por vezes se confundindo como herdeiras directas e exclusivas, o que por vezes conduz a conclusões erróneas e redutoras. Nessas lutas tiveram especial e destacada participação os partidos e militantes comunistas, tanto na resistência política como na luta armada, principalmente nos países sob ocupação da Alemanha nazi e na Itália fascista. Independentemente do modo como essa participação nos foi transmitida e da sua conformação com a realidade histórica – o que não vem aqui e agora ao caso -, consoante o lado de quem “contava” e o rigor que colocava nesses mesmos relatos, a sua contribuição foi inequívoca, sendo de salientar que a sua influência social e cultural transcendeu em muito a sua importância política se esta considerada no sentido menos lato do termo. Assim, apesar das suas contradições ideológicas e de prática política com os valores liberais, essas lutas dos partidos e militantes comunistas e as suas memórias, a história e as histórias de alguns dos seus militantes e simpatizantes, muitas vezes em aliança conjuntural com cristãos e socialistas, liberais e anarquistas, passaram também a fazer parte da herança cultural das democracias europeias, moldando-as, e daqueles que com elas se identificam.
A derrota da URSS na guerra fria e a queda do muro de Berlim, a adesão de muitos dos antigos países que viviam sob ditadura comunista à União Europeia e à NATO, veio como que recentrar a Europa no sentido do leste, alargando o campo democrático a novos países e nações com um património histórico diverso do nosso, ocidentais, na luta pelas democracias e identidades nacionais que nesses casos muitas vezes se confundem numa só realidade. Dessas memórias e património histórico não fazem parte os militantes e partidos comunistas enquanto parceiros, mesmo que contraditórios, de um caminho democrático. Não estiveram, mesmo que conjuntural e por vezes desconfortavelmente, deste lado da barricada: estiveram do outro. Contra eles, e não com eles, se trilhou o caminho democrático e de afirmação nacional, por vezes dando mesmo origem a alianças pouco claras e espúrias. Mas é uma memória e um património que contribui para que analisemos a história europeia recente sob uma nova e mais abrangente perspectiva, que nos enriquece na diversidade. Pois que seja bem vinda!