O modelo de desenvolvimento português, subordinado, em grande parte, aos interesses maioritários do imobiliário e da construção, mas também forçado por uma terciarização acelerada por via do fim do império e da necessária integração na União Europeia, conduziu a uma rápida suburbanização da sociedade portuguesa. As “malhas” urbanas das grandes cidades, Lisboa e Porto, as suas áreas metropolitanas, têm muito mais que ver com a América do Sul do que com a Europa, e foi esse, em grande medida, o (mau) exemplo que presidiu ao desenvolvimento urbanístico de grande parte de um país a sair da ruralidade. E, note-se, quando falo em “suburbanidade” não me refiro apenas ao modelo urbanístico, mas a algo muito mais vasto: uma cultura, um way of living a ela umbelicalmente ligado. Com os seus valores, comportamentos, ambições, frustrações e formas de ócio e lazer.
Dessa suburbanização fazem parte os mega centros comerciais, com as suas lojas e supermercados abertos entre as dez da manhã e as onze da noite, domingos e feriados, centros de lazer e passeio do proletariado das periferias, de súbito “promovido” a pequena e média burguesia consumista. Este é um cenário que, mal nosso, também evoca mais a América Latina do que a Europa, onde o comércio de rua, tradicional ou não, individual ou franchisado, continua a ser a regra. Acresce que a rentabilidade desses centros comerciais e supermercados (Continente, Colombo, Vasco da Gama e por aí fora – Benfica, Telheiras e Parque das Nações são pouco menos do que subúrbios) está ligada uma determinada lógica de funcionamento que obriga a esse mesmo horário de abertura alargado, o que tem que ver com a rentabilidade dos seus activos e os hábitos dos próprios consumidores gerados por essa mesma suburbanização de valores e culturas.
Parte activa deste modelo de desenvolvimento e seu mentor, o governo (os governos) decidiram, de repente, obrigar ao fecho dos tais supermercados aos domingos e feriados à tarde, mantendo as restantes lojas abertas, o que é uma decisão contrária a toda a lógica do modelo. Pior, decidiu fechar alguns e manter outros abertos com base apenas na área ocupada, mesmo que pertençam ao mesmo grupo ou network internacional e a filosofia seja idêntica. Para proteger o comércio tradicional (dizem), depois de ter definido uma estratégia de desenvolvimento que o pôs em causa e de ter provocado a desertificação dos centros urbanos e, também aí, ter sido um dos seus coveiros... Alguém entende aqui uma lógica, um fio condutor, uma estratégia?
Nota: No meio disto tudo, a directora de marketing do grupo Auchan (peço desculpa mas não me lembro do nome – a nossa memória tem esta rara virtude de seleccionar o que interessa) veio declarar à TSF, defendendo a abertura a domingos e feriados, que é “exactamente isso o que acontece nos países com crescimento de dois dígitos, como a China, a Índia e a Rússia (esqueceu-se de Angola – acho...). Pois ficámos esclarecidos sobre qual o modelo de desenvolvimento sugerido para Portugal pelo grupo Auchan!!! Por ter dito, como prova da excelência do Centro Comercial das Amoreiras, onde se situa um supermercado desse mesmo grupo Auchan, “que este não era frequentado por pretos” (estou a citar de cor), a então directora desse centro comercial, Mª José Galvão de Sousa, foi afastada do cargo. Com afirmações como a acima citada, talvez um dia a directora do Auchan nos venha dizer que a diversidade étnica é uma das mais valias do grupo...
Dessa suburbanização fazem parte os mega centros comerciais, com as suas lojas e supermercados abertos entre as dez da manhã e as onze da noite, domingos e feriados, centros de lazer e passeio do proletariado das periferias, de súbito “promovido” a pequena e média burguesia consumista. Este é um cenário que, mal nosso, também evoca mais a América Latina do que a Europa, onde o comércio de rua, tradicional ou não, individual ou franchisado, continua a ser a regra. Acresce que a rentabilidade desses centros comerciais e supermercados (Continente, Colombo, Vasco da Gama e por aí fora – Benfica, Telheiras e Parque das Nações são pouco menos do que subúrbios) está ligada uma determinada lógica de funcionamento que obriga a esse mesmo horário de abertura alargado, o que tem que ver com a rentabilidade dos seus activos e os hábitos dos próprios consumidores gerados por essa mesma suburbanização de valores e culturas.
Parte activa deste modelo de desenvolvimento e seu mentor, o governo (os governos) decidiram, de repente, obrigar ao fecho dos tais supermercados aos domingos e feriados à tarde, mantendo as restantes lojas abertas, o que é uma decisão contrária a toda a lógica do modelo. Pior, decidiu fechar alguns e manter outros abertos com base apenas na área ocupada, mesmo que pertençam ao mesmo grupo ou network internacional e a filosofia seja idêntica. Para proteger o comércio tradicional (dizem), depois de ter definido uma estratégia de desenvolvimento que o pôs em causa e de ter provocado a desertificação dos centros urbanos e, também aí, ter sido um dos seus coveiros... Alguém entende aqui uma lógica, um fio condutor, uma estratégia?
Nota: No meio disto tudo, a directora de marketing do grupo Auchan (peço desculpa mas não me lembro do nome – a nossa memória tem esta rara virtude de seleccionar o que interessa) veio declarar à TSF, defendendo a abertura a domingos e feriados, que é “exactamente isso o que acontece nos países com crescimento de dois dígitos, como a China, a Índia e a Rússia (esqueceu-se de Angola – acho...). Pois ficámos esclarecidos sobre qual o modelo de desenvolvimento sugerido para Portugal pelo grupo Auchan!!! Por ter dito, como prova da excelência do Centro Comercial das Amoreiras, onde se situa um supermercado desse mesmo grupo Auchan, “que este não era frequentado por pretos” (estou a citar de cor), a então directora desse centro comercial, Mª José Galvão de Sousa, foi afastada do cargo. Com afirmações como a acima citada, talvez um dia a directora do Auchan nos venha dizer que a diversidade étnica é uma das mais valias do grupo...
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