L'Affiche Rouge
"L'Affiche Rouge" - Léo Ferré
A luta contra as ditaduras que dominaram parte da Europa entre os anos vinte e setenta do século XX, quer fossem os nazi-fascismos ou as ditaduras de Franco e Salazar que neles mergulharam algumas das suas raízes, faz parte da herança patrimonial das democracias liberais da Europa ocidental. Nela, e nas suas memórias, nesse património histórico, político e cultural, se forjou uma parte daquilo que constitui, hoje em dia, a sua personalidade e, assim, também e não raras vezes um pouco do seu corpo jurídico doutrinário. Em algumas delas, como é o caso de Portugal e Espanha, essas lutas estão muito directamente na génese das actuais democracias, com elas quase por vezes se confundindo como herdeiras directas e exclusivas, o que por vezes conduz a conclusões erróneas e redutoras. Nessas lutas tiveram especial e destacada participação os partidos e militantes comunistas, tanto na resistência política como na luta armada, principalmente nos países sob ocupação da Alemanha nazi e na Itália fascista. Independentemente do modo como essa participação nos foi transmitida e da sua conformação com a realidade histórica – o que não vem aqui e agora ao caso -, consoante o lado de quem “contava” e o rigor que colocava nesses mesmos relatos, a sua contribuição foi inequívoca, sendo de salientar que a sua influência social e cultural transcendeu em muito a sua importância política se esta considerada no sentido menos lato do termo. Assim, apesar das suas contradições ideológicas e de prática política com os valores liberais, essas lutas dos partidos e militantes comunistas e as suas memórias, a história e as histórias de alguns dos seus militantes e simpatizantes, muitas vezes em aliança conjuntural com cristãos e socialistas, liberais e anarquistas, passaram também a fazer parte da herança cultural das democracias europeias, moldando-as, e daqueles que com elas se identificam.
A derrota da URSS na guerra fria e a queda do muro de Berlim, a adesão de muitos dos antigos países que viviam sob ditadura comunista à União Europeia e à NATO, veio como que recentrar a Europa no sentido do leste, alargando o campo democrático a novos países e nações com um património histórico diverso do nosso, ocidentais, na luta pelas democracias e identidades nacionais que nesses casos muitas vezes se confundem numa só realidade. Dessas memórias e património histórico não fazem parte os militantes e partidos comunistas enquanto parceiros, mesmo que contraditórios, de um caminho democrático. Não estiveram, mesmo que conjuntural e por vezes desconfortavelmente, deste lado da barricada: estiveram do outro. Contra eles, e não com eles, se trilhou o caminho democrático e de afirmação nacional, por vezes dando mesmo origem a alianças pouco claras e espúrias. Mas é uma memória e um património que contribui para que analisemos a história europeia recente sob uma nova e mais abrangente perspectiva, que nos enriquece na diversidade. Pois que seja bem vinda!
"L'Affiche Rouge" - Léo Ferré
A luta contra as ditaduras que dominaram parte da Europa entre os anos vinte e setenta do século XX, quer fossem os nazi-fascismos ou as ditaduras de Franco e Salazar que neles mergulharam algumas das suas raízes, faz parte da herança patrimonial das democracias liberais da Europa ocidental. Nela, e nas suas memórias, nesse património histórico, político e cultural, se forjou uma parte daquilo que constitui, hoje em dia, a sua personalidade e, assim, também e não raras vezes um pouco do seu corpo jurídico doutrinário. Em algumas delas, como é o caso de Portugal e Espanha, essas lutas estão muito directamente na génese das actuais democracias, com elas quase por vezes se confundindo como herdeiras directas e exclusivas, o que por vezes conduz a conclusões erróneas e redutoras. Nessas lutas tiveram especial e destacada participação os partidos e militantes comunistas, tanto na resistência política como na luta armada, principalmente nos países sob ocupação da Alemanha nazi e na Itália fascista. Independentemente do modo como essa participação nos foi transmitida e da sua conformação com a realidade histórica – o que não vem aqui e agora ao caso -, consoante o lado de quem “contava” e o rigor que colocava nesses mesmos relatos, a sua contribuição foi inequívoca, sendo de salientar que a sua influência social e cultural transcendeu em muito a sua importância política se esta considerada no sentido menos lato do termo. Assim, apesar das suas contradições ideológicas e de prática política com os valores liberais, essas lutas dos partidos e militantes comunistas e as suas memórias, a história e as histórias de alguns dos seus militantes e simpatizantes, muitas vezes em aliança conjuntural com cristãos e socialistas, liberais e anarquistas, passaram também a fazer parte da herança cultural das democracias europeias, moldando-as, e daqueles que com elas se identificam.
A derrota da URSS na guerra fria e a queda do muro de Berlim, a adesão de muitos dos antigos países que viviam sob ditadura comunista à União Europeia e à NATO, veio como que recentrar a Europa no sentido do leste, alargando o campo democrático a novos países e nações com um património histórico diverso do nosso, ocidentais, na luta pelas democracias e identidades nacionais que nesses casos muitas vezes se confundem numa só realidade. Dessas memórias e património histórico não fazem parte os militantes e partidos comunistas enquanto parceiros, mesmo que contraditórios, de um caminho democrático. Não estiveram, mesmo que conjuntural e por vezes desconfortavelmente, deste lado da barricada: estiveram do outro. Contra eles, e não com eles, se trilhou o caminho democrático e de afirmação nacional, por vezes dando mesmo origem a alianças pouco claras e espúrias. Mas é uma memória e um património que contribui para que analisemos a história europeia recente sob uma nova e mais abrangente perspectiva, que nos enriquece na diversidade. Pois que seja bem vinda!
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