Em Inglaterra, provavelmente a sociedade europeia tradicionalmente mais classista, o futebol foi desde sempre um desporto da working class. Ainda hoje, os estádios dos seus principais clubes, mesmo que remodelados e confortáveis, se situam nos mesmos locais de há cem ou mais anos, em bairros operários e populares das quase periferias, à primeira vista mal se distinguindo das restantes construções das ruas em que se situam, muitas vezes as casas “em banda” ou semi-detached dos seus habitantes. Numa sociedade em que a religião dominante é o anglicanismo, os jogos disputavam-se tradicionalmente ao sábado à tarde (a tradicional “semana inglesa” era uma realidade) , pois o domingo era o dia do “Senhor” dedicado ao descanso e á família. Os trabalhadores reuniam-se no pub, antes e depois dos jogos, e o clube era um símbolo de identificação com o bairro e com a comunidade. Este é a base que, ainda hoje e depois de uma enorme evolução, está na génese do sucesso da super-profissionalizada e bem sucedida Premiership.
Em Portugal, apesar de uma industrialização incipiente e tardia, exceptuando o caso dos actuais três grandes, mais ou menos populares ou interclassistas nas origens, o futebol também “pegou de estaca” e se desenvolveu nas zonas industriais e operárias. Aí nasceram e cresceram clubes como o Vitória de Guimarães (a “cidade industrial” num Minho rural), o Barreirense, o Olhanense (da vila da pesca e das conservas de peixe), o Leixões (idem e o segundo maior porto português – as cidades portuárias europeias sempre tiveram equipas de futebol competitivas: Bilbau, Marselha, Liverpool, Hamburgo, Olympiakos do Pireu, etc), o Atlético e o Vitória de Setúbal (Setúbal, fruto do desenvolvimento da construção naval – mas não só - era a cidade que mais crescia em Portugal nos anos sessenta, a época de ouro do "seu" Vitória). Mesmo o Belenenses, apesar das ligações à ditadura e de recolher muitos adeptos nas classes altas, tinha uma indiscutível base operária na então zona popular de Belém, influência que se estendia para além rio nas zonas também populares ligadas ao Tejo, de Almada, Trafaria e Cova da Piedade. O seu antigo estádio (as "Salésias") era assim, em termos de localização, um pouco como os estádios ingleses, encravado entre as casas baixas da zona mais antiga do bairro numa rua que, significativamente, se chamava “das Casas do Trabalho”.
A terciarização da sociedade portuguesa nas últimas décadas, fruto da falta de competitividade industrial por via do fim do império, da adesão à União Europeia e da globalização, conduziram alguns desses clubes aos escalões secundários, substituídos por clubes quase artificiais e sem público, tradição ou inserção popular, sustentados pelas autarquias e sabe-se lá por que mais. Casos mais emblemáticos são os do Estrela da Amadora, da União de Leiria e da Naval 1º de Maio, por sinal os clubes que terão das mais baixas assistências da primeira liga.
Por isso saúdo o regresso do Vitória de Guimarães e do Leixões à I Divisão. É como que um regresso do futebol às suas origens e raízes populares, e uma certeza de estádios mais cheios e com adeptos mais entusiastas e sofredores pelos seus clubes, mais conhecedores. De menos indiferença e mais affición. Também de maior investimento na formação, espera-se, em cidades onde poder vir a jogar no clube da sua comunidade e dela ser ídolo ainda será orgulho para muitos jovens. Pelo mesmo motivo, fico a torcer por um regresso em breve do Olhanense, em vez dos algarvios andarem entretidos em salvar o Farense não se sabe bem de quê ou de tentarem inventar um clube algarvio do nada ou coisa nenhuma. Ontem, durante a tarde, fui do Leixões e do Vitória. Espero, numa tarde de um dos próximos anos, poder ser também do Olhanense!
Em Portugal, apesar de uma industrialização incipiente e tardia, exceptuando o caso dos actuais três grandes, mais ou menos populares ou interclassistas nas origens, o futebol também “pegou de estaca” e se desenvolveu nas zonas industriais e operárias. Aí nasceram e cresceram clubes como o Vitória de Guimarães (a “cidade industrial” num Minho rural), o Barreirense, o Olhanense (da vila da pesca e das conservas de peixe), o Leixões (idem e o segundo maior porto português – as cidades portuárias europeias sempre tiveram equipas de futebol competitivas: Bilbau, Marselha, Liverpool, Hamburgo, Olympiakos do Pireu, etc), o Atlético e o Vitória de Setúbal (Setúbal, fruto do desenvolvimento da construção naval – mas não só - era a cidade que mais crescia em Portugal nos anos sessenta, a época de ouro do "seu" Vitória). Mesmo o Belenenses, apesar das ligações à ditadura e de recolher muitos adeptos nas classes altas, tinha uma indiscutível base operária na então zona popular de Belém, influência que se estendia para além rio nas zonas também populares ligadas ao Tejo, de Almada, Trafaria e Cova da Piedade. O seu antigo estádio (as "Salésias") era assim, em termos de localização, um pouco como os estádios ingleses, encravado entre as casas baixas da zona mais antiga do bairro numa rua que, significativamente, se chamava “das Casas do Trabalho”.
A terciarização da sociedade portuguesa nas últimas décadas, fruto da falta de competitividade industrial por via do fim do império, da adesão à União Europeia e da globalização, conduziram alguns desses clubes aos escalões secundários, substituídos por clubes quase artificiais e sem público, tradição ou inserção popular, sustentados pelas autarquias e sabe-se lá por que mais. Casos mais emblemáticos são os do Estrela da Amadora, da União de Leiria e da Naval 1º de Maio, por sinal os clubes que terão das mais baixas assistências da primeira liga.
Por isso saúdo o regresso do Vitória de Guimarães e do Leixões à I Divisão. É como que um regresso do futebol às suas origens e raízes populares, e uma certeza de estádios mais cheios e com adeptos mais entusiastas e sofredores pelos seus clubes, mais conhecedores. De menos indiferença e mais affición. Também de maior investimento na formação, espera-se, em cidades onde poder vir a jogar no clube da sua comunidade e dela ser ídolo ainda será orgulho para muitos jovens. Pelo mesmo motivo, fico a torcer por um regresso em breve do Olhanense, em vez dos algarvios andarem entretidos em salvar o Farense não se sabe bem de quê ou de tentarem inventar um clube algarvio do nada ou coisa nenhuma. Ontem, durante a tarde, fui do Leixões e do Vitória. Espero, numa tarde de um dos próximos anos, poder ser também do Olhanense!
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