Por vezes as revelações vêm de onde menos se espera. E foi isso que aconteceu com o “Prós & Contras” de ontem, onde um debate que era suposto ser “técnico entre técnicos” acabou por ser fonte de informações políticas surpreendentes para os que andavam distraídos ou são por natureza ingénuos. Vi apenas uma pequena parte do debate, confesso, porque isso de “trezentos e tal engenheiros”, todos juntos e em “directo e ao vivo”, para quem não andou no “Técnico” nem passou pela Faculdade de Engenharia do Porto, é coisa de assustar o mais corajoso - com a Drª Fátima a comandar seria ainda pior. Mas vi o suficiente para ter ouvido duas coisas importantíssimas, ambas remetendo para questões políticas e estratégicas “de fundo”. Em primeiro lugar, um dos intervenientes gritando “alto e bom som” que “para a Ota ou para qualquer outro lado mas “rapidamente e em força” pois já estava tudo muito atrasado e nos arriscávamos a ser ultrapassados pelos infiéis (perdão, pelos castelhanos) que estavam a preparar o alargamento de Barajas transformando, desse modo, Lisboa num aeroporto regional como Sevilha ou Valência (esqueceu-se de Barcelona, uma regiãozita...). Depois, José Manuel Viegas proclamando que existem três espécies de aeroportos: os “vou ali já venho” (as palavras são dele), e que para esses chegava a opção Portela+1, um qualquer de tipo intermédio e aquele que Lisboa e Portugal se propõe construir, seja, “a grande cidade aeroportuária”!!! Se alguém ainda duvidava de que se estava perante uma opção política que tem que ver com o modelo de desenvolvimento e de competitividade propostos para o país, e o modo como ele se articula com a sua inserção peninsular, está aqui tudo bem dito e liminar e exemplarmente expresso.
À partida uma questão muito simples: qual o modelo competitivo e concorrencial que queremos e podemos estabelecer com o resto da península, num processo, simultaneamente, de cada vez maior integração económica e descentralização política? Um modelo directamente concorrencial, ou alternativo e de complementaridade baseado numa análise das nossas forças, fraquezas, oportunidade e ameaças (SWOT) num espaço ibérico em que, cada vez mais, Portugal é apenas (quer queiramos quer não) mais um mercado - tal como a Andaluzia, o País Basco, a Catalunha ou a Galiza - e em que os centros de decisão económica estão fundamentalmente localizados em Madrid? É que o que está na base da “grande cidade aeroportuária” é o modelo directamente concorrencial (mesmo assim com mais algumas megalomanias acrescidas), que, em minha opinião, não tem em conta a realidade, isto é, o que é o presente e será o futuro da península em termos de economia e de mercado(s). Parece-me um pouco como se, em Aljubarrota, o exército anglo-luso (sim, disse bem) em vez de ter escolhido o terreno, combatido a pé, feito recurso ao arco longo e às fortificações, tivesse combatido o exército luso/franco/ castelhano (também disse bem), de D. Juan, em campo aberto e a cavalo! Mas será que alguém acredita mesmo na viabilidade desse modelo e que, portanto, o novo aeroporto de Lisboa se irá transformar nesse hub gigantesco, concorrencial com Madrid, mais a mais com as duas cidades a um par de horas de distância via TGV? Claro que não acredita, mas o assunto é bem outro. Vejamos.
O que as vozes dominantes já conseguiram fazer foi colocar a questão não em torno de dois modelos de desenvolvimento alternativos (o que prefiguraria as alternativas Portela+1 vs “cidade aeroportuária”) mas apenas em torno da questão “técnica” de localizações preferenciais, na base de um único modelo de desenvolvimento “à partida” assumido, modelo esse que mais não é do que o prolongamento do actual das grandes obras públicas e do betão. É mais do mesmo: mais rotundas, mais pavilhões, mais auto-estradas, mais Expo 98, mais Euro 2004 e agora mais “cidade aeroportuária” e respectivas (muitas) obras complementares. Claro que não admira que se assista a uma conjugação de interesses entre governo (“cidade aeroportuária” significa mais crescimento, mais emprego e... aparente, menos necessidade de mais e mais profundas e dolorosas reformas) e empresas ligadas à especulação imobiliária, construção civil e obras públicas, desde sempre o grande motor de desenvolvimento (?) do país. Não é também de admirar, portanto (como também já disse neste blog) que mesmo aqueles que estão por sistema “contra” (PCP e “Bloco”) sejam, neste caso, tão tíbios nas suas opiniões.
A questão essencial (key issue) não é, portanto, a localização do novo aeroporto - que é apenas o terreno onde se defrontam e enfrentam visões, lobbies e interesses diversos dentro do mesmo modelo de desenvolvimento proposto para o país - mas sim a de dois projectos de futuro antagónicos que prefiguram duas estruturas aeroportuárias diferentes entre si. Colocar a questão de outro modo é iludir o essencial e prestar um mau serviço aos portugueses, hipotecando o seu futuro. Mantenho uma pergunta já feita: por que razão, tanto quanto conheço e me lembro, em nenhuma outra cidade europeia a construção de um novo aeroporto implicou o fecho do já existente?
À partida uma questão muito simples: qual o modelo competitivo e concorrencial que queremos e podemos estabelecer com o resto da península, num processo, simultaneamente, de cada vez maior integração económica e descentralização política? Um modelo directamente concorrencial, ou alternativo e de complementaridade baseado numa análise das nossas forças, fraquezas, oportunidade e ameaças (SWOT) num espaço ibérico em que, cada vez mais, Portugal é apenas (quer queiramos quer não) mais um mercado - tal como a Andaluzia, o País Basco, a Catalunha ou a Galiza - e em que os centros de decisão económica estão fundamentalmente localizados em Madrid? É que o que está na base da “grande cidade aeroportuária” é o modelo directamente concorrencial (mesmo assim com mais algumas megalomanias acrescidas), que, em minha opinião, não tem em conta a realidade, isto é, o que é o presente e será o futuro da península em termos de economia e de mercado(s). Parece-me um pouco como se, em Aljubarrota, o exército anglo-luso (sim, disse bem) em vez de ter escolhido o terreno, combatido a pé, feito recurso ao arco longo e às fortificações, tivesse combatido o exército luso/franco/ castelhano (também disse bem), de D. Juan, em campo aberto e a cavalo! Mas será que alguém acredita mesmo na viabilidade desse modelo e que, portanto, o novo aeroporto de Lisboa se irá transformar nesse hub gigantesco, concorrencial com Madrid, mais a mais com as duas cidades a um par de horas de distância via TGV? Claro que não acredita, mas o assunto é bem outro. Vejamos.
O que as vozes dominantes já conseguiram fazer foi colocar a questão não em torno de dois modelos de desenvolvimento alternativos (o que prefiguraria as alternativas Portela+1 vs “cidade aeroportuária”) mas apenas em torno da questão “técnica” de localizações preferenciais, na base de um único modelo de desenvolvimento “à partida” assumido, modelo esse que mais não é do que o prolongamento do actual das grandes obras públicas e do betão. É mais do mesmo: mais rotundas, mais pavilhões, mais auto-estradas, mais Expo 98, mais Euro 2004 e agora mais “cidade aeroportuária” e respectivas (muitas) obras complementares. Claro que não admira que se assista a uma conjugação de interesses entre governo (“cidade aeroportuária” significa mais crescimento, mais emprego e... aparente, menos necessidade de mais e mais profundas e dolorosas reformas) e empresas ligadas à especulação imobiliária, construção civil e obras públicas, desde sempre o grande motor de desenvolvimento (?) do país. Não é também de admirar, portanto (como também já disse neste blog) que mesmo aqueles que estão por sistema “contra” (PCP e “Bloco”) sejam, neste caso, tão tíbios nas suas opiniões.
A questão essencial (key issue) não é, portanto, a localização do novo aeroporto - que é apenas o terreno onde se defrontam e enfrentam visões, lobbies e interesses diversos dentro do mesmo modelo de desenvolvimento proposto para o país - mas sim a de dois projectos de futuro antagónicos que prefiguram duas estruturas aeroportuárias diferentes entre si. Colocar a questão de outro modo é iludir o essencial e prestar um mau serviço aos portugueses, hipotecando o seu futuro. Mantenho uma pergunta já feita: por que razão, tanto quanto conheço e me lembro, em nenhuma outra cidade europeia a construção de um novo aeroporto implicou o fecho do já existente?
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