Não sou especialista em questões do ambiente ou de ordenamento do território; tenho sobre ambos os assuntos o conhecimento de qualquer cidadão interessado e atento e o desejo de viver um pouco melhor no país onde, desgraçadamente, me aconteceu nascer e viver uma boa parte da minha vida. Dito isto, não deixo de pensar que o que aconteceu na Costa de Caparica, nos últimos cinquenta anos (e para além das questões do avanço do mar já suficientemente analisadas por quem do assunto tem conhecimento técnico), terá sido um dos maiores atentados ambientais que já me foi dado observar. Na Caparica da minha infância, quando era ainda e apenas local de veraneio, entre Santo António e a Cova do Vapor não existia a estrada de duas faixas (autêntica auto-estrada) aberta nos últimos anos mas apenas uma pequena estrada que conduzia à Trafaria , ladeada, em parte esse trajecto, por um caminho de terra para peões e bicicletas onde calmamente se passeava ao fim da tarde. Delimitava a “mata”, onde não existiam parques de estacionamento, que a destruíram assim como às dunas, e onde as únicas construções eram o Inatel, um rinque de patinagem e umas “barracas”, talvez de pescadores, já muito perto da Cova do Vapor. Bairros de barracas, pomposamente chamados de “campismo”, que invadiram a “mata” e o pinhal onde antes existia apenas uma ou outra esplanada com mini golfe, local de passeio com as mães nos fins de tarde de Verão ou nos dias de menos sol, eram apenas “memória do futuro”. A sul da vila, as praias que levam à Fonte da Telha eram destino de passeios pelo areal, e os parques de estacionamento e respectivos acessos encavalitados nas dunas ainda não existiam. Penso que o que aconteceu com a pressão urbanística e humana sofrida por toda esta zona foi a destruição do frágil sistema ecológico da área compreendida entre a arriba fóssil (onde o mar, mais tarde ou mais cedo, tentaria voltar a chegar) e o mar, entre a Cova do Vapor e a Fonte da Telha, com as suas pequenas hortas na faixa plana junto à arriba, a característica “mata” e as dunas que era necessário atravessar para chegar à praia e ao mar. Ter-se autorizado a implantação de parques de “campismo”/bairros de barracas entre a estrada e o mar (por vezes em plena “mata” ou nas dunas), ter-se permitido o acesso de carros às praias e a parques de estacionamento construídos na zona entre a estrada e a praia, destruindo a “mata” e as dunas, foi um crime que, como tantos outros, ficará para sempre impune. Desgraçado país este, que se auto-destrói!
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