Como este blog anda em maré de surf (music), é caso para dizer que Marques Mendes apanhou finalmente uma boa onda. Ao trazer para o topo da agenda política a questão do novo aeroporto de Lisboa (prefiro chamar-lhe assim, e não da Ota, porque penso tratar-se de uma questão mais vasta do que apenas a da sua localização), focando nela, pelo menos durante uns dias, a sua contestação ao governo (em vez de andar a “ir a todas” e acabar contestado, com toda a razão, pela sua correligionária Ferreira Leite), o leader do PSD mata vários coelhos com o mesmo tiro (já que isto de cajadadas me parece um pouco primitivo, nada consentâneo, mesmo, com épocas de choque tecnológico) e centra a sua crítica num ponto indiscutivelmente vulnerável da estratégia governamental.
Em primeiro lugar, porque é questão nada consensual, fora do inner circle do governo, captando a sua contestação simpatias várias entre potenciais apoiantes ou votantes do partido socialista. Em segundo lugar, porque está longe de se poder reduzir a uma questão meramente do foro da economia, sendo pedra de toque essencial para se entender qual o modelo de desenvolvimento proposto para o país. Mais ainda, é decisão em relação à qual o PSD, enquanto oposição com maiores perspectivas de se tornar futuro governo, pode perfeitamente reivindicar o seu interesse próximo e legítimo, pois trata-se de um projecto com implicações óbvias e importantes em futuras legislaturas. Por fim, em função de tudo isto e também de se tratar de algo que não colhe a simpatia dos mais conhecidos e reputados economistas aqui do “rectângulo” - e cito de cor Luís Campos e Cunha, Hernâni Lopes, Miguel Beleza e Silva Lopes -, assunto em que o Presidente da República se sentirá bastante à vontade para intervir de modo muito directo. Aguardemos, mas, entretanto, well done!
Já agora. Parece que o ministro Mário Lino declarou ontem, como justificação para a construção do novo aeroporto e das novas infraestruturas ferroviárias e portuárias, que Portugal possui uma "localização estratégica privilegiada que lhe permite desenvolver, com vantagens competitivas, ligações privilegiadas com o continente africano, com a Europa do Norte e com a Europa Mediterrânica e entre o continente europeu e o continente americano". Será que ele acredita mesmo nisso? E se nos deixássemos de vez das ilusões dos grandes “projectos estruturantes” e nos centrássemos naquilo que é de facto essencial para melhor a competitividade do país e a qualidade de vida dos portugueses, seja, a diminuição do déficit e da despesa pública e reformas efectivas no ensino, na administração, na justiça e na saúde? Ah, e se não é pedir muito, pôr Lisboa e Porto à distância de duas horas e “picos” pelos tais comboios pendulares...
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