Já aqui afirmei em post anterior que um dos problemas para a direita, neste momento, em Portugal, e ao contrário do que acontece em Espanha com a questão nacionalidades/natureza do estado espanhol, é o facto de não existir na sociedade uma questão política clara e única que permita o “separar das águas” entre dois blocos políticos diferenciados, o que acaba por reforçar a tendência, já de si natural, para a "fulanização" da política. Durante muitos anos essa separação política foi clara e evidente e, para não recuarmos demasiado, passou pela natureza do regime e dicotomia situação/oposição no período seguinte à consolidação da ditadura (após o início da década de trinta e o fim da ditadura militar subsequente ao 28 de Maio), pela questão colonial quando a guerra entrou num impasse (1963/4) e pela natureza do regime político no período revolucionário. Após este período, nem a questão europeia revelou clivagens de maior (exceptuando o caso do PCP, minoritário, cada vez menos influente politicamente e sem uma perspectiva de poder), mesmo tendo em conta as suas várias nuances, entre eurocépticos e federalistas, posições sempre veladamente expressas e assumidas, de modo apenas envergonhado, somente quando do debate sobre o projecto de tratado constitucional. A questão “atlantismo”/“eurocentrismo”, que emergiu tenuamente com o mandato de George W. Bush e a invasão do Iraque, foi demasiado conjuntural e efémera nesse seu afloramento, e reservada a discussões académicas e mais ou menos iniciáticas que soaram a esoterismo para uma boa parte da opinião pública. A excepção a este “estado de coisas” foi o referendo sobre o aborto, em que se defrontaram duas concepções claramente antagónicas e inconciliáveis do mundo e da vida. Daí o extremar de posições, a riqueza do debate e a estimulante campanha. Voltou a política, claro!!!
Tudo isto vem a propósito do desafio lançado por Paulo Portas a Ribeiro e Castro (e, claro, também ao PSD de Marques Mendes) relativamente à futura direcção da direita e de toda a oposição com vocação de governo. Na maioria das análises, a dissertação versa muito mais sobre as características pessoais de PP, o seu "zig-zag" político (e o do seu partido), o seu carisma contraposto à ausência deste em Ribeiro e Castro, as movimentações de algumas personalidades dentro do próprio PSD, do que sobre aquilo que de facto é determinante: não existindo, à partida, um tema único que marque claramente um antagonismo conceptual entre a esquerda e a direita com ambições de governo, em torno de que projecto político, de que ideias e concepções, de que “posicionamento” (utilizando uma linguagem importada do "marketing" e da gestão), pode a direita maximizar as suas possibilidades enquanto oposição com perspectivas de poder a prazo? Quem melhor pode corporizar e tornar credível esse projecto, dando-lhe o seu cunho pessoal e projectando-o na sociedade com maiores hipóteses de sucesso? Ou então, pondo as coisas “às avessas”, o que também posso admitir: tendo em atenção where he comes from, isto é, que em função do seu passado (ideias, prática, etc) existe apenas um espaço relativamente restrito onde PP pode ser credível, que projecto político deve ele consubstanciar para conseguir os seus objectivos de liderar a oposição à direita?
Existem na sociedade portuguesa algumas questões que condicionam claramente a governação e limitam o leque de opções políticas: sejam, não sendo exaustivo, a questão de déficit, da sustentabilidade da segurança social e a falência do modelo de desenvolvimento. São elas, e não a arrogância de Sócrates, a teimosia dos seus ministros ou a, dita, respectiva insensibilidade social que condicionam a política governamental, o que não exclui que o primeiro ministro, pela sua personalidade, não se assuma como the right man in the right place nesta conjuntura. Pessoalmente, não estou a ver Ferro Rodrigues muito confortável a dirigir um governo posto perante estas circunstâncias. São pois estas questões, e não quaisquer outras, que, em última análise, têm conduzido o governo à tentativa de racionalização de custos do serviço nacional de saúde, ao aumento da idade da reforma, à contenção de salários e estudo de restruturação de carreiras na Administração Pública. Ao aumento da carga fiscal e melhor cobrança de impostos, a uma tentativa de reformulação das políticas educativas, etc, etc. Ou seja, que “obrigaram” o governo a ocupar o terreno que se convencionou ser o do “centro” e até mesmo o do centro direita. Opções “forçadas” pelas circunstâncias e este terreno ocupado, por onde terá de passar qualquer oposição à direita que resista à demagogia do “cavalgar o descontentamento popular" ou do “fazemos melhor do mesmo”, esta última pouco credível face ao registo dos anteriores governos PSD/CDS e que conduziu à queda dos índices de popularidade do partido de Marques Mendes? Sem que isso signifique que o subscreva, aparentemente só pela proposta de um projecto globalmente mais liberal na linha das concepções de alguma opinião publicada, embora extirpado de alguns dos seus (muitos) laivos de irrealismo político e que poderá ir ao encontro das aspirações de alguns grupos etários mais jovens dos centros urbanos. Será isso politicamente exequível numa sociedade com enormes graus de iliteracia e deficiente educação, tradicionalmente avessa ao liberalismo e dependente do estado? Seria isso capaz de ganhar e garantir a conquista do centro político? Seria esse projecto compatível com Paulo Portas e poderia este ser credível enquanto seu líder? De todas as perguntas, penso, talvez apenas esta última possa ter uma resposta, desde já, afirmativa...
Tudo isto vem a propósito do desafio lançado por Paulo Portas a Ribeiro e Castro (e, claro, também ao PSD de Marques Mendes) relativamente à futura direcção da direita e de toda a oposição com vocação de governo. Na maioria das análises, a dissertação versa muito mais sobre as características pessoais de PP, o seu "zig-zag" político (e o do seu partido), o seu carisma contraposto à ausência deste em Ribeiro e Castro, as movimentações de algumas personalidades dentro do próprio PSD, do que sobre aquilo que de facto é determinante: não existindo, à partida, um tema único que marque claramente um antagonismo conceptual entre a esquerda e a direita com ambições de governo, em torno de que projecto político, de que ideias e concepções, de que “posicionamento” (utilizando uma linguagem importada do "marketing" e da gestão), pode a direita maximizar as suas possibilidades enquanto oposição com perspectivas de poder a prazo? Quem melhor pode corporizar e tornar credível esse projecto, dando-lhe o seu cunho pessoal e projectando-o na sociedade com maiores hipóteses de sucesso? Ou então, pondo as coisas “às avessas”, o que também posso admitir: tendo em atenção where he comes from, isto é, que em função do seu passado (ideias, prática, etc) existe apenas um espaço relativamente restrito onde PP pode ser credível, que projecto político deve ele consubstanciar para conseguir os seus objectivos de liderar a oposição à direita?
Existem na sociedade portuguesa algumas questões que condicionam claramente a governação e limitam o leque de opções políticas: sejam, não sendo exaustivo, a questão de déficit, da sustentabilidade da segurança social e a falência do modelo de desenvolvimento. São elas, e não a arrogância de Sócrates, a teimosia dos seus ministros ou a, dita, respectiva insensibilidade social que condicionam a política governamental, o que não exclui que o primeiro ministro, pela sua personalidade, não se assuma como the right man in the right place nesta conjuntura. Pessoalmente, não estou a ver Ferro Rodrigues muito confortável a dirigir um governo posto perante estas circunstâncias. São pois estas questões, e não quaisquer outras, que, em última análise, têm conduzido o governo à tentativa de racionalização de custos do serviço nacional de saúde, ao aumento da idade da reforma, à contenção de salários e estudo de restruturação de carreiras na Administração Pública. Ao aumento da carga fiscal e melhor cobrança de impostos, a uma tentativa de reformulação das políticas educativas, etc, etc. Ou seja, que “obrigaram” o governo a ocupar o terreno que se convencionou ser o do “centro” e até mesmo o do centro direita. Opções “forçadas” pelas circunstâncias e este terreno ocupado, por onde terá de passar qualquer oposição à direita que resista à demagogia do “cavalgar o descontentamento popular" ou do “fazemos melhor do mesmo”, esta última pouco credível face ao registo dos anteriores governos PSD/CDS e que conduziu à queda dos índices de popularidade do partido de Marques Mendes? Sem que isso signifique que o subscreva, aparentemente só pela proposta de um projecto globalmente mais liberal na linha das concepções de alguma opinião publicada, embora extirpado de alguns dos seus (muitos) laivos de irrealismo político e que poderá ir ao encontro das aspirações de alguns grupos etários mais jovens dos centros urbanos. Será isso politicamente exequível numa sociedade com enormes graus de iliteracia e deficiente educação, tradicionalmente avessa ao liberalismo e dependente do estado? Seria isso capaz de ganhar e garantir a conquista do centro político? Seria esse projecto compatível com Paulo Portas e poderia este ser credível enquanto seu líder? De todas as perguntas, penso, talvez apenas esta última possa ter uma resposta, desde já, afirmativa...
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