Tenho estado muitas vezes em profunda discordância com as atitudes da direcção do meu clube no modo como reage aos poderes que, há mais de trinta anos, comandam "de facto" o futebol português. Não por ausência de razões pontuais e/ou profundas, mas porque penso muitas dessas reacções talvez não sejam as mais adequadas a uma mudança efectiva nesse "estado de coisas". Não posso, no entanto, e porque tenho memória, aderir à tentativa de branqueamento em curso do modo fraudulento e trauliteiro como o FCP alcançou a hegemonia no futebol português, tentativa essa expressa por muitos jornalistas e comentadores quando "igualizam" e aplicam a mesma bitola às declarações e atitudes de dirigentes do FCP, por um lado, e do SLB, por outro. Quando, atribuindo iguais responsabilidades, acusam, de modo indiscriminado, os "dirigentes dos clubes de incendiarem o futebol português" (costuma ser esta a expressão), o que não passa de uma adaptação ao futebol da campanha populista e anti-democrática que afirma "serem os políticos todos iguais e todos eles igualmente corruptos e criminosos" - pelo menos em potência.
Não foram o SLB e o SCP (para não me acusarem de facciosismo) que colocaram o futebol a "ferro e fogo" e "subiram na vida" usando a coação, a violência, corrupção e a mentira. Não foram SLB e SCP que se viram envolvidos em processos de corrupção envolvendo árbitros de futebol. Não são estes clubes os responsáveis pela degradação da indústria em proveito próprio. Não são os presidentes de SLB e SCP que são recebidos com "pompa e circunstância" na Assembleia da República e comandam uma autêntica teia de interesses no poder autárquico e partidário. Portanto, pelo menos enquanto eu tiver memória, a responsabilidade dos clubes no ambiente de suspeição e degradação existente no futebol português não é toda igual, não sendo portanto possível tratar todos do mesmo modo e fazer tábua rasa do passado. Esse passado, tal como a ditadura de Salazar e Caetano, existiu, e é em grande parte responsável pelo estado de suspeição e de ausência de credibilidade competitiva que se vive no futebol português. "Não apaguem a memória".
2 comentários:
Em cheio! Mas já pouca gente quer saber disto, vive-se num imediatismo rasteiro.
Seria possível obrigar ao menos os "jornalistas" "desportivos" a ler isto antes de abrirem a boca?
(Wishful thinking, eu sei...)
Pois se um deles até confundiu Freamunde com Fafe e perguntou ao Rui Costa, a propósito do próximo jogo da Taça de Portugal, qual era "a sensação de regressar a Freamunde?" Nada a acrescentar...
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