Claro que não estão em causa, naquilo que vou dizer, os erros políticos de José Sócrates, principalmente o ter insistido em governar quando era notório não tinha condições para o fazer; e neste aspecto, saliento o não ter forçado eleições perante a contestação nas ruas às indispensáveis reformas de Maria de Lurdes Rodrigues, o não ter apresentado a demissão quando do gravíssimo caso das escutas, responsabilizando o Presidente da República por essa sua atitude, e não se ter recusado a formar um governo minoritário quando da perda maioria absoluta. No fundo, José Sócrates, com essa sua teimosia ou "resiliência", acabou por deixar que a, hoje em dia mais do evidente, conspiração com epicentro em Belém fizesse calmamente o seu percurso, e apenas sofresse um sobressalto inesperado: a ascensão de Pedro Passos Coelho a líder do PSD no lugar que estaria reservado para a "cavaquista" Ferreira Leite, governando Cavaco por interposta pessoa. Digamos que, pelo que sabemos hoje, não terá sido percalço de somenos...
Mas o assunto leva-me um pouco mais longe. Perante as hesitações e dificuldades sentidas por António José Seguro em pronunciar o "f word", isto é, em anunciar de forma clara e inequívoca que o PS votará contra o Orçamento de Estado, ou, indo até um pouco mais longe, em colocar, como diz o experiente Silva Pereira, o PS na liderança da contestação política e social (que é a única opção com sentido se não quiser ver o PS reduzido a um papel residual), não deixando à esquerda radical e comunista ou à "rua inorgânica" a condução do processo, pergunto-me se tal conspiração não terá chegado ao ponto de, directa ou indirectamente, ter conseguido colocar da direcção do PS alguém "amigo". Digamos que se não é, parece, mas, mais uma vez, é a não prevista por Belém ascensão à direcção do PSD e ao governo do grupo de Pedro Passos Coelho, com as suas opções radicais, que parece estar a deitar tudo a perder, não permitindo a Seguro, sob pressão interna - e apesar de todas as suas hesitações - alternativa que não seja o rotundo e claro "não". Um "não" que, forçado por nomes com o peso de um Silva Pereira, de um António Costa e de um Ferro Rodrigues, deixa agora Seguro, depois de parecer ter estado prisioneiro de Belém, prisioneiro na liderança do seu próprio partido.
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