Sobre o disparate que constitui a redução da TSU já praticamente tudo foi dito. Mas convém acrescentar uma coisa: ao reduzir de forma brutal e dramática os salários no sector privado (onde não cabe o argumento da redução da despesa pública), transferindo valor do empregado para o empregador, ela é a medida que melhor exprime a estratégia de "empobrecimento" que está no âmago da única ideia consistente deste governo para sociedade portuguesa. Significa isto que não é possível ver a árvore e não ver a floresta, isto é, que não é possível, ou é pelo menos insuficiente, argumentar de forma consistente e sustentada contra a redução da TSU sem pôr em causa a própria estratégia de "empobrecimento" que lhe está na base e a justifica. Sem pôr em causa o governo.
Em certa medida, mesmo que de forma subliminar, parece-me ter sido a constatação brutal dessa estratégia de "empobrecimento" que a redução da TSU veio evidenciar que levou de repente, num abrir e fechar de olhos, a um certo "choque e espanto" em muitos sectores da sociedade portuguesa. Pior, acordou os portugueses para o facto de ser este o primeiro governo depois da normalização constitucional a pôr em causa, senão mesmo a quebrar, não direi um consenso, mas um entendimento largamente maioritário existente na sociedade portuguesa e que esteve na base do 25 de Abril, do 25 de Novembro e da adesão à então CEE: a aproximação aos valores e padrões económicos, sociais, culturais e civilizacionais da Europa desenvolvida. É exactamente por recusar a Portugal esse lugar no seio da civilização e do desenvolvimento que este governo deve e tem de ser combatido.
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