Se o desastre tem apenas dias, ele estava claramente anunciado. E estava-o a partir do momento que as ideias maioritárias dos "Compromisso Portugal" e "Fóruns para a Competitividade", onde, a par de pessoas competentes e bem intencionadas, predominava gente sem qualquer preparação política (ou até anti-política) e uma certa ideia de vanguarda iluminada ultra-liberal que iria salvar o país substituindo a política pelas regras e procedimentos da gestão, fizessem o seu caminho e acabassem por chegar à governação. Claro que, para piorar ainda as coisas e porque algumas das ideias expressas nesses fóruns empresariais dificilmente se poderiam considerar "simpáticas" em termos eleitorais, houve que juntar ao "pacote", de modo a torná-lo mais "tragável", uma ou outra ideia populista, ao pior estilo Correio da Manhã, que reforçasse o tom geral anti-política de que bastariam ideias e gente vinda das empresas chegarem à governação para regenerar o país. E apareceram as "gorduras do Estado", as "mordomias" dos políticos e gestores públicos, a "corrupção" dos políticos, os "preguiçosos" do RSI que era imperioso pôr a trabalhar, a "falta" de carpinteiros, canalizadores e "calceteiros marítimos" e tudo o mais que por aí se foi lendo e ouvindo. E quando isso não chegava, lá vinha, a um nível ainda mais rasteiro, "o Sócrates" e a sua tão apregoada "dolce vita" parisiense. Claro que a falta de rigor na gestão do Estado e os erros cometidos pelos governos anteriores não são propriamente mitos urbanos, mas, como agora se prova, estão longe, mesmo demasiado longe de, por si sós, servirem de explicação e justificação para o desastre actual.
E agora? Bom, agora, nesta conjuntura - e não tendo dons de pitonisa nem de professor Marcelo (não são a mesma coisa?) -, parece-me difícil encontrar uma solução nos tempos mais próximos que, forçada ou não por Belém, não tenha origem no próprio PSD (ganhou as eleições e não me parece ser este PS alternativa, pelo menos no curto prazo), onde ainda sobrevive alguma gente decente e com bom-senso quanto baste. Com Passos? Enfim... "é como o outro". Mas seguramente sem Gaspar, Borges e Relvas.
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